Conforme
muitos comentadores da situação nacional têm referido, a proposta presidencial
de entendimento entre PS, PSD e CDS – os partidos que têm governado o país na
última geração – só por milagre poderá apresentar algum resultado positivo.
Sem querer
centrar a questão na impossibilidade já referida (até porque Pedro Tadeu fê-lo
de forma muito clara numa crónica no DN
questionando se «Estão
mesmo a tentar salvar a nação?») gostava de trazer para reflexão uma
perspectiva complementar que sem retirar valor ou importância às considerações
de Pedro Tadeu (e que constituem há muito referência nas conversas populares) lhe
adicione outra perspectiva.
Os
“negociadores” da salvação nacional não foram apenas participantes directos no
processo que conduziu ao impasse; são os actuais representantes da plutocracia
instalada, da mesma forma que são igualmente produto duma interpretação
deturpada da função de “servir” o interesse colectivo e, para completar o
quadro, os mais jovens foram formados sob a égide dos primeiros e resultantes
dum processo de clara degradação de saberes e valores.
A quem esta
constatação possa parecer dura e exagerada sugiro a leitura de dois pequenos
textos recentemente produzidos e publicados esta semana no mesmo DN e assinados por dois professores universitários.
O primeiro, «Necessidade
de falar» é da autoria de César das Neves e sob a aparência duma profunda
reflexão sobre a vacuidade da conversa vazia, deixa uma clara advertência sobre
os “fala-barato” que somos todos nós os que na medida das nossas capacidades
procuramos contribuir para o debate de ideias e o exercício da “demos”. O segundo, «Dimensões
da crise», é da autoria de Adriano Moreira e enquadrando a crise nacional
no contexto europeu e mundial destaca na conclusão duas observações: «A situação dos países do Norte do Mediterrâneo,
abrangidos pela fronteira da pobreza, consentiu que o modelo real do protectorado,
que no passado ajudou a tornar infeliz a relação das soberanias europeias com a
área da "primavera muçulmana", pudesse voltar ao exercício dentro do
território da própria União» e «Não há
experiência de um governo a prazo ser uma resposta para a recuperação da
igualdade internacional».
Enquanto o primeiro usa e abusa da
repetição de lugares comuns e de críticas vagas, o segundo fundamenta-se na
observação e na síntese para recordar a realidade que nos rodeia.
Note-se que se
os dois autores pertencem a gerações diferentes e que enquanto o primeiro é um
reputado economista que foi conselheiro de Cavaco Silva durante a sua passagem
pela liderança do governo, o segundo foi ministro das colónias no tempo do
Estado Novo, nem por isso se deve concluir que a solução estará na recuperação
duma qualquer gerontocracia, antes na promoção daqueles que não abjuraram dos
antigos valores da honra e da idoneidade intelectual.
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