terça-feira, 16 de julho de 2013

DIMENSÕES DO FALAR (E PENSAR)…

Conforme muitos comentadores da situação nacional têm referido, a proposta presidencial de entendimento entre PS, PSD e CDS – os partidos que têm governado o país na última geração – só por milagre poderá apresentar algum resultado positivo.

Sem querer centrar a questão na impossibilidade já referida (até porque Pedro Tadeu fê-lo de forma muito clara numa crónica no DN questionando se «Estão mesmo a tentar salvar a nação?») gostava de trazer para reflexão uma perspectiva complementar que sem retirar valor ou importância às considerações de Pedro Tadeu (e que constituem há muito referência nas conversas populares) lhe adicione outra perspectiva.


Os “negociadores” da salvação nacional não foram apenas participantes directos no processo que conduziu ao impasse; são os actuais representantes da plutocracia instalada, da mesma forma que são igualmente produto duma interpretação deturpada da função de “servir” o interesse colectivo e, para completar o quadro, os mais jovens foram formados sob a égide dos primeiros e resultantes dum processo de clara degradação de saberes e valores.

A quem esta constatação possa parecer dura e exagerada sugiro a leitura de dois pequenos textos recentemente produzidos e publicados esta semana no mesmo DN e assinados por dois professores universitários. O primeiro, «Necessidade de falar» é da autoria de César das Neves e sob a aparência duma profunda reflexão sobre a vacuidade da conversa vazia, deixa uma clara advertência sobre os “fala-barato” que somos todos nós os que na medida das nossas capacidades procuramos contribuir para o debate de ideias e o exercício da “demos”. O segundo, «Dimensões da crise», é da autoria de Adriano Moreira e enquadrando a crise nacional no contexto europeu e mundial destaca na conclusão duas observações: «A situação dos países do Norte do Mediterrâneo, abrangidos pela fronteira da pobreza, consentiu que o modelo real do protectorado, que no passado ajudou a tornar infeliz a relação das soberanias europeias com a área da "primavera muçulmana", pudesse voltar ao exercício dentro do território da própria União» e «Não há experiência de um governo a prazo ser uma resposta para a recuperação da igualdade internacional».

Enquanto o primeiro usa e abusa da repetição de lugares comuns e de críticas vagas, o segundo fundamenta-se na observação e na síntese para recordar a realidade que nos rodeia.

Note-se que se os dois autores pertencem a gerações diferentes e que enquanto o primeiro é um reputado economista que foi conselheiro de Cavaco Silva durante a sua passagem pela liderança do governo, o segundo foi ministro das colónias no tempo do Estado Novo, nem por isso se deve concluir que a solução estará na recuperação duma qualquer gerontocracia, antes na promoção daqueles que não abjuraram dos antigos valores da honra e da idoneidade intelectual.

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