Mesmo
entendendo o sentido comum, parece difícil concordar com a ideia que estaremos
perante «Um
governo sem margem para errar», como escreveu Eduardo Oliveira e Silva, num
editorial do I, pois só mesmo uma férrea
convicção partidária poderá sustentar a hipótese deste governo remodelado e
aumentado poder resultar melhor que o seu antecessor.
Alguém de
boa-fé defenderá com convicção a ideia que as divergências públicas entre
Passos Coelho e o ex-irrevogavelmente demissionário Paulo Portas não se
repetirão, que entre os dois reina agora a paz dos anjos e que ao invés não
espreitarão a primeira oportunidade para retribuir (ou repetir) novo golpe
baixo?
Mesmo sem
abordar a insanável contradição de termos uma novel ministra das Finanças a
pretender aplicar as linhas programáticas que o seu antecessor vilipendiou na despedida,
como suportará Maria Luís Albuquerque o imbróglio dos “swaps” em que se tem enredado?
Sem o peso
tecnocrático de Vítor Gaspar e com o indelével ferrete dos “swaps” tóxicos que subscreveu na sua
passagem pela administração da REFER (mas que agora insiste desconhecer na
íntegra), a recém promovida ministra da “austeridade expansionista” afigura-se como
mais um foco de permanente contestação a quem talvez nem o apoio expresso dos
credores europeus consiga assegurar a resiliência necessária para enfrentar um
ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, agora promovido a vice-Primeiro Ministro
coordenador da política económica, ávido de notoriedade.
Sobre a
presença de Paulo Portas nesta nova formulação governativa, diga-se que talvez
nem a sua proverbial habilidade para os “jogos políticos” o preserve de se
transformar rapidamente num novo Miguel Relvas, tão evidente que deixou o seu
manobrismo e total a ausência de carácter que revelou.
Perante uma
equipa governativa dirigida agora a duas mãos e por dois golpistas políticos, a
que se acrescenta ainda a admissão de mais um destacado administrador do
ex-BPN/SLN (o primeiro foi o secretário de estado do Empreendedorismo e Inovação
que o EXPRESSO ao adiantar mais
“mexidas” coloca «Franquelim
Alves de saída da Economia»; o segundo é Rui Machete, um histórico do PSD,
cuja escolha o PUBLICO noticiou como um «Novo ministro dos Negócios Estrangeiros com fortes
ligações ao BPN e ao BPP», situação respondida nas páginas do I pelo visado e onde «Rui
Machete critica "podridão" de alguns hábitos políticos», apodo
seguramente mais adequado à relação que se pode estabelecer a partir das suas
conhecidas ligações à Fundação Luso-Americana
para o Desenvolvimento e à sua “colaboração” de décadas com a PLMJ, que de tão reconhecida até notícia aquela
nomeação na sua página, o gabinete de advocacia muito presente na assessoria dos processos de privatizações, para mais quando mal empossado este «Governo aprovou processo de privatização de 100% dos
CTT», processo acidentalmente assessorado pela mesma PLMJ),
de má memória e elevado custo financeiro (a dimensão final do buraco ainda se
desconhece mas o primeiro número adiantado, da ordem dos 10 mil milhões de
euros, pode afinal revelar-se optimista), voltaremos a assistir ao desfile
televisivo e em horário nobre (os menos entusiásticos ou mais críticos
continuarão a desfilar fora de horas ou apenas nos canais de cabo) dos costumeiros
apaniguados que não se pouparão em comentários laudatórios e não deixarão de
repetir até à exaustão os chavões da inexistência de alternativas, da
credibilidade externa e da estabilidade, mesmo depois dos primeiros sinais da sua
inexistência terem surgido do interior da própria “família” política, ao ser
publicado que «Assessor
diz que “interesses” levam à saída de Álvaro» Santos Pereira, numa clara
alusão às pressões dos lóbis económicos para verem mantidos os seus
privilégios.
A ver vamos se
os cidadãos-comuns “engolirão” mais esta farsa, ou se pelo contrário continuarão
a pedir explicações e a vaiar em todas as oportunidades os membros do Governo.
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