sexta-feira, 26 de julho de 2013

GOVERNO SEM MARGEM PARA ACERTAR

Mesmo entendendo o sentido comum, parece difícil concordar com a ideia que estaremos perante «Um governo sem margem para errar», como escreveu Eduardo Oliveira e Silva, num editorial do I, pois só mesmo uma férrea convicção partidária poderá sustentar a hipótese deste governo remodelado e aumentado poder resultar melhor que o seu antecessor.

Alguém de boa-fé defenderá com convicção a ideia que as divergências públicas entre Passos Coelho e o ex-irrevogavelmente demissionário Paulo Portas não se repetirão, que entre os dois reina agora a paz dos anjos e que ao invés não espreitarão a primeira oportunidade para retribuir (ou repetir) novo golpe baixo?

Mesmo sem abordar a insanável contradição de termos uma novel ministra das Finanças a pretender aplicar as linhas programáticas que o seu antecessor vilipendiou na despedida, como suportará Maria Luís Albuquerque o imbróglio dos “swaps” em que se tem enredado?

Sem o peso tecnocrático de Vítor Gaspar e com o indelével ferrete dos “swaps” tóxicos que subscreveu na sua passagem pela administração da REFER (mas que agora insiste desconhecer na íntegra), a recém promovida ministra da “austeridade expansionista” afigura-se como mais um foco de permanente contestação a quem talvez nem o apoio expresso dos credores europeus consiga assegurar a resiliência necessária para enfrentar um ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, agora promovido a vice-Primeiro Ministro coordenador da política económica, ávido de notoriedade.
Sobre a presença de Paulo Portas nesta nova formulação governativa, diga-se que talvez nem a sua proverbial habilidade para os “jogos políticos” o preserve de se transformar rapidamente num novo Miguel Relvas, tão evidente que deixou o seu manobrismo e total a ausência de carácter que revelou.

Perante uma equipa governativa dirigida agora a duas mãos e por dois golpistas políticos, a que se acrescenta ainda a admissão de mais um destacado administrador do ex-BPN/SLN (o primeiro foi o secretário de estado do Empreendedorismo e Inovação que o EXPRESSO ao adiantar mais “mexidas” coloca «Franquelim Alves de saída da Economia»; o segundo é Rui Machete, um histórico do PSD, cuja escolha o PUBLICO noticiou como um «Novo ministro dos Negócios Estrangeiros com fortes ligações ao BPN e ao BPP», situação respondida nas páginas do I pelo visado e onde «Rui Machete critica "podridão" de alguns hábitos políticos», apodo seguramente mais adequado à relação que se pode estabelecer a partir das suas conhecidas ligações à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e à sua “colaboração” de décadas com a PLMJ, que de tão reconhecida até notícia aquela nomeação na sua página, o gabinete de advocacia muito presente na assessoria dos processos de privatizações, para mais quando mal empossado este «Governo aprovou processo de privatização de 100% dos CTT», processo acidentalmente assessorado pela mesma PLMJ), de má memória e elevado custo financeiro (a dimensão final do buraco ainda se desconhece mas o primeiro número adiantado, da ordem dos 10 mil milhões de euros, pode afinal revelar-se optimista), voltaremos a assistir ao desfile televisivo e em horário nobre (os menos entusiásticos ou mais críticos continuarão a desfilar fora de horas ou apenas nos canais de cabo) dos costumeiros apaniguados que não se pouparão em comentários laudatórios e não deixarão de repetir até à exaustão os chavões da inexistência de alternativas, da credibilidade externa e da estabilidade, mesmo depois dos primeiros sinais da sua inexistência terem surgido do interior da própria “família” política, ao ser publicado que «Assessor diz que “interesses” levam à saída de Álvaro» Santos Pereira, numa clara alusão às pressões dos lóbis económicos para verem mantidos os seus privilégios.


A ver vamos se os cidadãos-comuns “engolirão” mais esta farsa, ou se pelo contrário continuarão a pedir explicações e a vaiar em todas as oportunidades os membros do Governo.

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