Por muito que
isso desgoste os líderes europeus, parece cada vez mais inevitável o
aprofundamento da crise em que mergulhou a Europa e a Zona Euro.
Seja por
insuficiência das acções ou por completo desajustamento das políticas, o certo
é que após uma primeira notícia dando conta que o «FMI
começa a duvidar que a Grécia seja solvente», de pronto os europeus começaram
a ser confrontados com outra, na qual o «FMI
avisa zona euro que vai ter de perdoar parte do empréstimo à Grécia».
Contrariando
as afirmações mais optimistas de Berlim ou de Paris, o que ressalta das
conclusões dos técnicos do FMI é que o problema das dívidas denominadas em
euros está para continuar… e cada vez pior. Desmascarado o dogma da “recessão
expansionista” e evidenciadas as limitações das políticas do empobrecimento
geral, o que resta aos técnicos que as recomendaram é assumirem que a situação
está hoje pior que no início da sua intervenção. Isso mesmo é confirmado pela
notícia que, em proporção do PIB, a «Dívida
portuguesa pode ser a segunda maior da EU», o que, continuando a
registar-se a regressão daquele indicador, ninguém poderá dizer que constituirá
surpresa inimaginável.
O tom
claramente pessimista (ou realista, consoante as opiniões) dos especialistas do
FMI admitindo publicamente a possibilidade de insolvência dum membro da Zona
Euro é, além duma evidente confissão do insucesso das suas soluções, uma óbvia
oportunidade para repetir a ideia que desde o início da crise aqui tenho
defendido: a solução terá que ser gizada em várias frentes, integrando uma
actuação a nível europeu que atribua ao BCE o papel de financiador da dívida
pública (pelo menos até ao limite dos 60% do PIB estabelecido nos tratados) e outra
ao nível interno de cada estado que mediante um processo de auditoria permita a
determinação dos níveis de dívida ilegítima, cujo pagamento deve ser recusado
pelos cidadãos, ao mesmo tempo que se recoloca o sistema financeiro em patamar
de igualdade com os restantes sectores da actividade económica, isto é,
eliminando a prerrogativa dos resgates públicos garantidos.
Mas a situação
dos países periféricos já intervencionados (Grécia, Irlanda e Portugal) é ainda
mais grave que a da generalidade dos seus parceiros (Espanha e Itália aparte),
pois a ruinosa aplicação das panaceias recomendadas pelo FMI, BCE e FEEF (o
cardápio do Consenso de Washington) ao longo dos últimos anos, de que resultou
a quase paralisação da actividade económica e a redução dos rendimentos das
famílias (salários e pensões), além da óbvia redução do PIB e aumento do peso
relativo do endividamento, que levou João Rodrigues, economista e investigador
do Centro
de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a preconizar num artigo do PUBLICO, «O
PODER DE ENGANAR OS PORTUGUESES COM A VERDADE», a necessidade de “…recusar o memorando e declarar
uma moratória ao pagamento da dívida, isto é, uma suspensão dos pagamentos dos
juros e das amortizações ao longo de um processo negocial que terá na agenda,
entre outros temas, a reestruturação da tal dívida, reduzindo em profundidade o
seu montante”.
Demonstrada a
impraticabilidade da solução preconizada pelos sectores (económico e
intelectual) que estiveram na origem da crise (ou pelo menos da sua dimensão e
rápida expansão), a insistência na perpetuação do erro que ensaiam as elites
políticas ameaça asfixiar a resiliência dos
cidadãos e transformar-se numa inexorável certidão de óbito colectivo.
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