sábado, 6 de julho de 2013

CÓLERA BRASILEIRA

Quando é conhecido o abrandamento nas economias dos países emergentes (vulgo BRICS), cresce especialmente o sentimento de insatisfação num dos que se encontra no centro dos “olhares” desportivos mundiais, o Brasil, que assegurou a realização dos próximos campeonato mundial de futebol e dos jogos olímpicos.

Num país há muito conhecido pelas profundas desigualdades sociais a par com o culto do futebol, estouraram durante a realização do ensaio geral – a Taça das Confederações – para o mundial da especialidade manifestações contra as condições de vida e a corrupção instalada – especialmente os gastos exagerados com o Mundial de 2014 –, fenómenos especialmente influenciados pela organização daqueles grandes eventos.


Várias foram as cidades brasileiras onde a contestação saiu às ruas levando ao estabelecimento de analogias com outros países como a Turquia ou o Egipto. Claro que se na génese se encontra a insatisfação popular, as motivações são obviamente diversas e ditadas por condições específicas – na Turquia contesta-se o crescente autoritarismo do partido islâmico no poder, enquanto no Egipto o arrastar da indefinição da correlação de forças entre islamitas, laicos e o exército conheceu algum desenvolvimento com «Mohamed Mursi derrubado pelo exército após ultimato de 48 horas» – enquanto no Brasil o factor de maior peso parece ser a situação económica e social, a que notícias como a de que o «Brasil revê em ligeira baixa crescimento para este ano» não serão alheias.

A generalização pelos cinco continentes de condições cada vez mais desfavoráveis aos sectores de rendimentos mais baixos, a par com uma crescente tomada de consciência do poder desses mesmos sectores, está a fomentar movimentos de contestação que variando entre os muito civilizados e ordeiros (de que é exemplo o caso português, que nem uma recente tentativa de bloqueio na Ponte 25 de Abril contradiz) e os mais agressivos nem por isso deixam de significar uma crescente contestação às elites que conduzem os destinos mundiais. Contestar hoje na Europa as políticas de austeridade originadas no esgotamento do modelo de financiarização da economia real é equiparável à contestação por maior liberdade política nos países islâmicos, à contestação por melhores salários e melhores condições de trabalho nos países asiáticos ou à exigência para pôr cobro à corrupção, tudo isto enquanto simultaneamente se exigem novas políticas fomentadoras do crescimento económico e do emprego.


Este último, por ocorrer num país como o Brasil e durante uma importante competição tendo por pano de fundo um desporto nacional, que nem por isso desmobilizou os participantes, merece um destaque ainda maior.

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