Quando é
conhecido o abrandamento nas economias dos países emergentes (vulgo BRICS),
cresce especialmente o sentimento de insatisfação num dos que se encontra no
centro dos “olhares” desportivos mundiais, o Brasil, que assegurou a realização
dos próximos campeonato mundial de futebol e dos jogos olímpicos.
Num país há
muito conhecido pelas profundas desigualdades sociais a par com o culto do
futebol, estouraram durante a realização do ensaio geral – a Taça das
Confederações – para o mundial da especialidade manifestações contra as
condições de vida e a corrupção instalada – especialmente os gastos exagerados
com o Mundial de 2014 –, fenómenos especialmente influenciados pela organização
daqueles grandes eventos.
Várias foram
as cidades brasileiras onde a contestação saiu às ruas levando ao
estabelecimento de analogias com outros países como a Turquia ou o Egipto.
Claro que se na génese se encontra a insatisfação popular, as motivações são
obviamente diversas e ditadas por condições específicas – na Turquia
contesta-se o crescente autoritarismo do partido islâmico no poder, enquanto no
Egipto o arrastar da indefinição da correlação de forças entre islamitas,
laicos e o exército conheceu algum desenvolvimento com «Mohamed
Mursi derrubado pelo exército após ultimato de 48 horas» –
enquanto no Brasil o factor de maior peso parece ser a situação económica e
social, a que notícias como a de que o «Brasil revê em
ligeira baixa crescimento para este ano» não serão alheias.
A
generalização pelos cinco continentes de condições cada vez mais desfavoráveis
aos sectores de rendimentos mais baixos, a par com uma crescente tomada de
consciência do poder desses mesmos sectores, está a fomentar movimentos de
contestação que variando entre os muito civilizados e ordeiros (de que é
exemplo o caso português, que nem uma recente tentativa de bloqueio na Ponte 25
de Abril contradiz) e os mais agressivos nem por isso deixam de significar uma
crescente contestação às elites que conduzem os destinos mundiais. Contestar
hoje na Europa as políticas de austeridade originadas no esgotamento do modelo
de financiarização da economia real é equiparável à contestação por maior
liberdade política nos países islâmicos, à contestação por melhores salários e
melhores condições de trabalho nos países asiáticos ou à exigência para pôr
cobro à corrupção, tudo isto enquanto simultaneamente se exigem novas políticas
fomentadoras do crescimento económico e do emprego.
Este último,
por ocorrer num país como o Brasil e durante uma importante competição tendo
por pano de fundo um desporto nacional, que nem por isso desmobilizou os
participantes, merece um destaque ainda maior.
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