sábado, 14 de maio de 2011

O GRANDE RESGATE


Não tem passado, praticamente, um dia desde a ocorrência da manobra propagandística de apresentação do acordo com o FEEF, UE e FMI, protagonizado por José Sócrates (que na oportunidade comentei no “post” «É SÓ ROSAS...»), sem que seja revelado um ou outro pormenor que o primeiro-ministro se “esqueceu” de revelar.

Um dos últimos (e não o menor) foi o do anúncio da taxa a aplicar ao pacote de 78 mil milhões de euros de que o país vai “beneficiar”, que segundo declarações do comissário europeu da Economia «...será "acima de cinco por cento mas claramente abaixo de seis por cento"...», para usar os termos referidos nesta notícia do PUBLICO.

Conhecido este valor – que José Sócrates, invocando que ainda não foi aprovado pelo ECOFIN, continua a classificar de não oficial – e ainda a informação em tempos adiantada por Poul Thomsen, o director do FMI responsável pela missão de resgate a Portugal, de que a taxa aquele organismo aplicaria variaria entre 3,25% e 4,25%[1], conforme o prazo, fácil se torna concluir quanto a famigerada ajuda financeira custará ao país, ou seja aos bolsos dos contribuintes, só em juros qualquer coisa como 29,5 mil milhões de euros ao longo dos treze anos que durará o empréstimo.

Cientes de que os prestamistas verão o capital emprestado aumentado em quase 40%, poderá restar qualquer tipo de dúvida sobre a qualidade da “ajuda”?


Mas para que não fiquem dúvidas eis em detalhe os passos dos cálculos que realizei: o desconhecimento de todos os pormenores do financiamento, nomeadamente os montantes e os prazos “negociados”, implica o recurso de algumas simplificações pelo que tomei como prazo médio do financiamento um período de sete anos (um pouco mais de metade do prazo total anunciado por Poul Thomsen: «Há um período de carência de três anos e depois há um período de devolução de cerca de 10 anos. No total são 13 anos»[2]) e taxas médias de 5,7%[3] para os 2/3 financiados pelo FEEF e BCE (o montante é um dado certo) e de 3,75% (média simples dos limites máximo e mínimo anunciados pelo FMI: 3,25% e 4,25%, respectivamente). Da aplicação das taxas de 5,7% e de 3,75% aos montantes financiados resulta um encargo anual de quase 4 mil milhões de euros, número que multiplicado pelos 7,5 anos de duração média do financiamento resulta nos 29,5 mil milhões de euros já referidos.

Este é o preço a pagar pelos bons amigos que temos... e dos quais não nos veremos livres se no próximo dia 5 de junho voltarmos a votar em qualquer um dos três partidos (PS, PSD e CDS) que apressada e alegremente se prontificaram a tão generosamente remunerarem os nossos “salvadores”[4], que, recordo, são nem mais nem menos que os mesmos agentes (bancos, seguradoras e fundos de investimento) que depois de se financiarem à taxa de 1% (agora 1,25%) junto do BCE, de alavancarem esse financiamento (vejam o funcionamento do mecanismo no “post” «TENHAM FÉ... MAS PREPAREM-SE PARA O PIOR») e de financiarem os estados a taxas francamente superiores, ainda se lançam em manobras especulativas contra as dívidas desses mesmos estados.

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