segunda-feira, 30 de maio de 2011

…E POR CAUSA DOUTRAS

Não são apenas as questiúnculas, as tricas partidárias ou até o mais abjecto silêncio sobre o futuro que os candidatos sabem que a todos nos aguarda, o que me tem afastado do comentário (e até de algum acompanhamento) da campanha, pois até o tratamento jornalístico da informação se revela cada vez menos apelativo e mobilizador.

Senão, veja-se o que têm sido os últimos dias com a sucessão de sondagens que ora dão vantagem a uma ora a outra formação partidária, como se a opção dos eleitores apresentasse volatilidade idêntica à dos mercados bolsistas.


Talvez transformando o pleito eleitoral numa espécie de corrida de cavalos os jornalistas (e os donos dos jornais) alimentem a expectativa de ver aumentadas as suas tiragens, mas a imagem que promovem é a antítese do que deveria ser uma campanha eleitoral na qual os concorrentes se empenham num processo de informação aos eleitores, tanto mais quando os próprios políticos parecem eles próprios cada vez menos interessados nesses penosos (e potencialmente perigosos) processos de esclarecimento.

Seguir diariamente a evolução das tendências transmitidas pelas sondagens pode ser um exercício de ocupação de tempo livre e até uma prática indispensável aos “especialistas” que conduzem as campanhas de cada uma das forças políticas; porém, ao comum dos cidadãos eleitores, aqueles a quem escapam as minudências das transferências de voto, aqueles que simplesmente se preocupam em acompanhar a pontuação do seu “eleito” ou ainda mais prosaicamente hesitando em quem votar esperam por um sinal que os “ilumine”, para esses a avalanche de informação pode até ser contraproducente e as variações que apresentam de difícil explicação, É certo que não faltam comentadores para prontamente explicarem aos eleitores o significado de cada sondagem e dos resultados que antevêem, nem que isso implique contradizerem hoje o que categoricamente afirmaram ontem.

Na prática as sondagens apresentam-se cada vez mais como outra forma de intoxicação colectiva, ampliando e repetindo os chavões que os políticos da área do poder diariamente repetem até à exaustão. Na ausência de vontade ou conhecimentos, torna-se bem mais fácil, quiçá também mais eleitoralmente lucrativo, repetir lugares comuns a arriscar opiniões próprias (podendo até a contradizer os líderes) e a abordar questões verdadeiramente importantes para os cidadãos.

Preferindo jogar pelo seguro, os políticos têm conduzido uma campanha de desfiles (oportunidade soberba para cumprimentar os mesmos eleitores cujos anseios e interesses esquecerão logo que eleitos e aparecer nos écrans das televisões mergulhados em banhos de multidões comprovativos da popularidade de que se vangloriam) pontuados aqui e ali por discursos inflamados mas completamente vazios de conteúdo, de ideias e de fundamentadas intenções, sempre na esperança de que a mobilização dos mais fiéis e os resultados das sondagens lhes proporcionem os votos dos indecisos que não logram conquistar através de propostas ou programas de governo.


Mesmo sendo certo que o acordo de resgate financeiro, aceite desde a primeira hora por PS, PSD e CDS, define em muito o que será a acção governativa de qualquer um deles (ou de todos em conjunto), nem por isso esgota a possibilidade de debate de soluções alternativas (facto que a generalidade dos meios de comunicação ignora por completo) e ainda menos elimina essa mesma necessidade, principalmente quando se sucedem as notícias das fundadas dúvidas sobre idênticas soluções aplicadas na Grécia e na Irlanda, a comprovada ideia do seu fracasso e a crescente oposição das populações.

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