Com a recente notícia que o «Japão entrou em recessão» juntou-se um ingrediente mais à cada vez maior probabilidade de aprofundamento da crise financeira global, despoletada no Verão de 2007 com a crise americana do “subprime”, e de erosão do poder do dólar norte-americano.
A quebra no PIB nipónico (uma das maiores e mais endividadas economias do mundo), a aproximação do fim do programa norte-americano de injecção de liquidez (30 de Junho próximo é a data prevista para o encerramento do Quantitative Easing 2 lançado pelo FED e pela administração Obama) e os dados pouco animadores sobre o crescimento do PIB norte-americano (noticiados aqui pelo ECONÓMICO) constituem claros sinais de antecipação de novos problemas e dum mais que possível agravamento da crise global, que poderá manifestar-se lá para finais do Verão, período habitual de fecho de contas nos EUA.
A frágil recuperação das economias mais desenvolvidas (em especial a da dominante economia norte-americana) e a manutenção dos ritmos de crescimento dos países emergentes (os BRICS) e em especial da China, que segundo as mais recentes previsões do FMI ultrapassará os EUA já em 2016[1], constituem uma clara evidência da crescente deslocação de poder de ocidente para oriente, ao qual as tradicionais potências ocidentais dificilmente se conseguirão opor.
Com os EUA a apresentarem sinais de agravamento da crise no plano económico (crescimento do PIB inferior às expectativas, enquanto persiste um elevado nível de desemprego e uma contínua queda nos preços do imobiliário[2]) e com uma imagem e uma capacidade de intervenção internacional cada vez mais fragilizada (que nem a notícia da eliminação de Ossama Bin Laden parece capaz de inverter) são os BRICS que paulatinamente procuram ocupar esse vazio, pois a Europa, que apenas se poderá queixar de si própria e da capacidade das lideranças que a têm conduzido a desperdiçar as oportunidades que a agitação económica internacional lhe proporcionou, continua a afundar-se na sua incapacidade para gerir a crise das dívidas soberanas e está a transformar-se num actor cada vez mais secundário.
A incerteza global (particularmente evidente nos mercados de matérias primas) começa a reflectir-se no anúncio de medidas cada vez mais proteccionistas[3] que podendo resolver um ou outro problema pontual não conseguirão combater o essencial e geralmente contribuem para agravar o clima de incerteza e para aumentar a pressão especulativa sobre essas mesmas matérias primas. E a incerteza já deixou de constituir exclusivo da área económica, pois a avaliar pela notícia do PUBLICO que assegura que «Fundador da Blackwater vai formar exército de mercenários nos Emirados Árabes Unidos» estará a disseminar-se entre as elites dominantes um receio crescente da agitação social que progride à mesma velocidade que se degradam as condições de vida das populações.
Clara evidência da multifacetada crise que atravessamos e da sua expansão para a área social pode se confirmada na vizinha Espanha que assiste ao eclodir dum movimento de clara contestação política e social que em vésperas de mais um acto eleitoral contestam na rua o modelo de representação. Este movimento, maioritariamente integrado por jovens e organizado a partir das redes sociais começa já a espalhar-se para outras capitais europeias (esta notícia do PUBLICO refere especificamente Lisboa Paris, Londres, Roma, Berlim e Bruxelas, no dia em que o movimento se expandia e o DN anunciava que «Sete mil pessoas manifestam-se no centro de Barcelona»), ameaçando atingir proporções de verdadeira insubordinação europeia, confirmado hoje mesmo pelo SOL que anuncia que «Dezenas de milhares desafiam proibição de protestos em Espanha».
[1] Veja-se a notícia do EXPRESSO: «Corrida mundial: China nº1 em 2016».
[2] Os últimos dados conhecidos do sector imobiliário dos EUA apontam para a continuação da queda dos preços; em Abril o DIÁRIO DIGITAL informava que nos EUA o «preço das casas desce pelo 8º mês consecutivo».
[3] Entre estas destaque-se o anúncio da intenção chinesa de proibir a exportação diesel (como refere esta notícia do FINANCIAL TIMES) ou a idêntica intenção russa, noticiada aqui pelo FRANCE24.
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