De um momento para o outro, do silêncio à quase hegemonia informativa, eis que Osama Bin Laden, o mítico fundador e líder da rede terrorista Al-Qaeda, instigador de inúmeros atentados contra os EUA ou os seus interesses espalhados pelo Mundo, voltou á ribalta, tendo agora como pano de fundo o anúncio da sua morte.
Segundo a administração norte-americana, uma operação militar desencadeada contra um complexo habitacional situado no Paquistão culminou com a morte do homem mais procurado do Mundo.
Após anos e anos de quase absoluto silêncio (o último registo audio remonta a 2006 e encontra-se rodeado de algumas dúvidas enquanto a última gravação vídeo autenticada remonta a finais de 2004) chega de repente a notícia da sua morte; não o óbito natural de quem se dizia portador de insuficiência renal (doença profundamente limitadora de movimentos e associada, como se sabe, ao recurso regular a hemodiálise, facto que nunca impediu as suas constantes deslocações nem facilitou a sua localização), antes a dum lutador que recebeu a tiro de Kalashnikov as tropas especiais norte-americanas.
Aparte as óbvias dúvidas que há muito tempo têm vindo a lume sobre a real situação (vivo ou morto) de Bin Laden que levaram o PUBLICO a questionar-se em 2007 «Como é que o líder da Al-Qaeda chegou aos 50 anos em liberdade?»[1], os factos agora noticiados reacendem velhas questões que merecem ser ponderadas, tanto mais que a sua morte terá ocorrido no coração do território paquistanês, na localidade de Abbottabad, a cerca de 50 quilómetros da capital Islamabad, e a umas meras centenas de metros duma academia militar paquistanesa.
Este avolumar de circunstâncias que apenas dão maior credibilidade às tantas vezes referidas ligações entre a Al-Qaeda, pelo menos o seu círculo interno, e o ISI (os serviço secretos paquistaneses), facto aliás do domínio público, ou não tivesse Bin Laden sido apoiado por aquela agência no período da ocupação soviética do Afeganistão
Que desde o início foi patente o incómodo dos serviços secretos americanos e paquistaneses sempre que o tema abordado era Bin Laden e a Al-Qaeda, que uns e outros nunca conseguiram explicar de forma convincente o rotundo fracasso na localização do homem mais procurado (para mais com as limitações físicas que lhe atribuíam), foram factos que os governos paquistanês e norte-americano sempre trataram com extremo cuidado e com firmes declarações de princípios mas escassos ou nulos resultados práticos.
Embora a questão do conhecimento e aprovação paquistanesa para a operação militar não tenha ainda sido respondida convenientemente, não deverão restar dúvidas quanto à sua existência, pois doutra forma seria difícil que a violação do espaço aéreo deste país tivesse decorrido de forma tão pacífica.
A adicionar a estes factos estranhos, que especialistas e analistas de questões militares e de “inteligência” facilmente demonstrarão que nada de extraordinário apresentam, deixo ainda mais duas questões; uma directamente ligada à acção militar da qual resultou a morte de cinco dos ocupantes da habitação (incluindo Bin Laden), a queda dum dos quatro helicópteros (por meras razões técnicas, segundo a versão norte-americana), incendiado e abandonado no local, a identificação e recolha do corpo de Bin Laden, a ausência de qualquer baixa ou simples ferido por parte dos intervenientes norte-americanos na operação e a forma expedita (diria mesmo demasiado apressada) como se desfizeram do corpo, lançando-o ao mar.
A outra prende-se com uma estranha sucessão de acontecimentos recentes, pois que outra coisa pode ser dita quando tudo isto acontece poucos dias após o anúncio[2] da “promoção” do chefe da CIA, Leon Panetta, para Secretário de Estado da Defesa (substituindo Robert Gates que transitou da administração Bush) e da nomeação de David Petraeus (comandante no Afeganistão) para o lugar vago na CIA?
[1] O “link” remete para o texto ontem republicado.
[2] Como sucede na notícia do JN intitulada: «Obama confirma novos responsáveis na Defesa e na CIA».
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