A
notícia de que a «Oposição
de centro-direita vence eleições na Islândia» merece atenção, mais que não fosse pelo aparentemente
insólito resultado que afastou a coligação de esquerda que conduziu o país no
rescaldo da avassaladora crise de 2008.
Depois de ter
conseguido o quase milagre do regresso ao crescimento da economia e do
retrocesso do desemprego, a coligação entre a Aliança Social-Democrata e o Movimento de Esquerda Verde
foi claramente batida nas eleições, que tiveram lugar
na Islândia no último fim-de-semana, pelos dois principais partidos mais à direita que garantiram uma maioria
absoluta, permitindo assim o regresso ao poder dos responsáveis pela crise desencadeada
em 2008 e originada na liberalização do sector financeiro que conduziu à ruína
da banca e ao colapso da economia nacional.
Várias têm
sido as explicações adiantadas para este resultado – desde o fracasso no cumprimento de expectativas à incapacidade de explicar os bons resultados na
economia aos eleitores, sem esquecer quem defende que este foi uma penalização
eleitoral por a senhora Johanna Sigurdardottir ter seguido demasiado a receita do FMI – sem que nenhuma pareça explicar cabalmente o que
se assemelha a uma clara opção masoquista.
É que este
resultado não devolveu apenas o poder aos responsáveis por um programa
político-económico que se revelou claramente prejudicial ao comum dos cidadãos
(a voz que é suposto o processo eleitoral representar), antes constituiu a
confirmação popular da desresponsabilização de quem conduziu aquele país ao
precipício, tanto mais que apesar do reconhecido repúdio popular pelos políticos
a percentagem de votantes foi superior a 80%.
Diz-se que a
memória dos eleitores é curta, frase que serve afinal para esconder uma
realidade há muito instalada na esfera político-eleitoral: o papel dos “spin doctors” na manipulação da
informação e na formação das vontades eleitorais.
É claro que
desconheço em absoluto a realidade política e social islandesa, mas perante a
frieza dos números tão grande reviravolta não deve ser explicada apenas pelos
factores enunciados e outras “razões” existirão, nomeadamente a famigerada
actuação dos “spin doctors” (numa das
definições do Urban
Dictionary, alguém que distorce os factos com objectivos políticos) que
devem ser aprofundadas e conhecidas para contrariar a sua utilização noutras
ocasiões e noutros locais, tanto mais que quem esquece as lições da História está
condenado a repetir os mesmos erros.
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