Há muito que a
política nacional deixou de poder contar com o efeito surpresa; tantas têm sido
as trapalhadas e as “habilidades” que nada já espantará o cidadão minimamente
informado. Se não fosse a gravidade da situação que o país atravessa, o último
“flip flap” à retaguarda do líder do CDS nem deveria merecer qualquer
referência, pois insere-se na continuidade do género da política espectáculo
tão do agrado dos políticos actuais e dos interesses que os sustentam.
Assim é que
depois do drama (género de representação de carácter não cómico, que se apresenta
compatível com a vida real) de que foi revestida a última comunicação de Passos
Coelho e em especial o anúncio da intenção de redução das actuais reformas, se
seguiu a encenação da tragédia (forma particular de drama caracterizado pela
seriedade e dignidade, envolvendo um conflito com algum poder de instância superior)
protagonizada pelo conjunto da oposição a par com o melodrama (que, recorde-se,
se caracteriza por ser um tipo de espectáculo onde mediante efeitos fáceis se
procura induzir a plateia ao choro ou ao suspense, com um sentimentalismo
exagerado) servilmente ensaiado pelo PSD e o silêncio do parceiro de coligação.
O CDS viria
daí a dois dias a apresentar o seu espectáculo através do monólogo representado
pelo líder, Paulo Portas. Como actor de créditos firmados que é e percorridos que
estavam quase todos os géneros teatrais (comédia e farsa à parte, pela
manifesta desadequação face à actual situação) restou-lhe o recurso à tragicomédia
(subgénero teatral que alterna ou mistura comédia, tragédia, farsa e melodrama),
registo onde se revelou tanto mais sofrível quanto, contradito pela notícia de
que «Cortes
nas reformas confirmados em Bruxelas», assumidos por Passos Coelho e Vítor
Gaspar, recorreu a uma desajustada manobra para anunciar que o seu «CDS
aceita “excepcionalmente” taxa de sustentabilidade sobre pensões».
Deslizando rapidamente para um registo de comédia (género de espectáculo destinado a fazer
rir) e numa desajeitada tentativa de “limpar a face” de Portas têm valido todos
os agrumentos e até «Pires de Lima
garante que quem cedeu foi a “troika”».
Não bastando
já as agitadas águas em que se revolve a nau governativa e agravando um
indesejado registo de comédia, até o insuspeito professor «Marcelo diz
que "as pessoas já não levam a sério" Passos» e o timorato «Presidente
da República convocou o Conselho de Estado para dia 20», com uma ordem de
trabalhos pretensamente orientada para o debate do futuro pós “troika”, como se a discussão da
realidade actual dele pudesse estar arredada e a crise política que Belém
pretende evitar a qualquer custo não estivesse há muito instalada.
Enquanto os
responsáveis do CDS se esforçavam a repetir que «Portas
aceita TSU sobre pensionistas por falta de alternativas» – o desgastado
argumento para justificar o injustificável –, um grupo de cidadãos reunia-se em
Lisboa para debater precisamente as alternativas que dizem não existir. Nesta
segunda iniciativa do Congresso
Democrático das Alternativas (a primeira teve lugar em Outubro do ano
passado) além de se reafirmar a ideia da indispensabilidade da renegociação da
dívida, apontaram-se vias alternativas para a redução da despesa mediante o
corte nas rendas ilegítimas, nos maus investimentos e nos juros da dívida,
precisamente os interesses contra os quais o governo PSD/CDS, excepcionalmente,
não age.
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