domingo, 28 de abril de 2013

ALDEIA À VENDA


Conhecidos nos últimos dias os mais contraditórios discursos sobre as realidades portuguesa e europeia – com particular destaque para a proposta de capitulação que constituiu o discurso proferido pelo Presidente da República na Sessão Comemorativa do 25 de Abril e a oposta, apresentada num comício no Fórum Lisboa, onde o «Líder da esquerda radical grega defende "nova primavera" dos povos europeus» e quando até entre os mais activos defensores das virtualidades das políticas de austeridade expansionista já se começam a notar algumas dúvidas, será oportuno relembrar que a crise que a UE atravessa integra na sua génese factores de natureza social e que a desagregação da coesão social construída nas últimas décadas poderá estar já irremediavelmente comprometida.

Este alerta foi deixado há meses por Boaventura Sousa Santos numa entrevista ao ECONÓMICO e se hoje o retomo é porque aquelas leituras me conduziram à releitura duma notícia recente sobre a existência em Espanha de «Aldeias à venda pelo preço de um apartamento na cidade» passou quase despercebida no afã noticioso dos contactos entre Governo e PS e de mais uma visita da “troika”, mas traduz um claro sinal do ponto a que pode chegar a desagregação dum país.


Mal irá qualquer Estado quando o património cultural e social, como aldeias ou lugares, começa a ser vendido à melhor oferta e pior ainda quando os compradores são maioritariamente originários doutras culturas.

Relembrando que a questão aqui não é a recusa do estrangeiro mas a do risco de aculturação e de destruição total de memórias colectivas e de afectos sociais que não podem senão empobrecer toda a sociedade.

Este fenómeno irá seguramente alastrar num país trespassado pelo desemprego e ao qual são negadas as mais básicas perspectivas de progresso e se entre nós há muito se fala nas propriedade agrícolas que por esse país fora vão sendo vendidas a estrangeiros, não tardará que também venhamos a assistir àquele fenómeno ou não vivêssemos todos na aldeia global da desesperança colectiva.

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