Conhecidos nos
últimos dias os mais contraditórios discursos sobre as realidades portuguesa e
europeia – com particular destaque para a proposta de capitulação que
constituiu o discurso
proferido pelo Presidente
da República na Sessão Comemorativa do 25 de Abril e a oposta, apresentada num comício no Fórum Lisboa, onde o «Líder
da esquerda radical grega defende "nova primavera" dos povos europeus»
–
e quando até entre os mais activos
defensores das virtualidades das políticas de austeridade expansionista já se começam
a notar algumas dúvidas, será oportuno relembrar que a crise que a UE atravessa
integra na sua génese factores de natureza social e que a desagregação da
coesão social construída nas últimas décadas poderá estar já irremediavelmente
comprometida.
Este alerta
foi deixado há meses por Boaventura
Sousa Santos numa entrevista ao ECONÓMICO e se hoje o retomo é porque aquelas
leituras me conduziram à releitura duma notícia recente sobre a existência em
Espanha de «Aldeias
à venda pelo preço de um apartamento na cidade» passou quase despercebida
no afã noticioso dos contactos entre Governo e PS e de mais uma visita da “troika”, mas traduz um claro sinal do
ponto a que pode chegar a desagregação dum país.
Mal irá
qualquer Estado quando o património cultural e social, como aldeias ou lugares,
começa a ser vendido à melhor oferta e pior ainda quando os compradores são
maioritariamente originários doutras culturas.
Relembrando
que a questão aqui não é a recusa do estrangeiro mas a do risco de aculturação
e de destruição total de memórias colectivas e de afectos sociais que não podem
senão empobrecer toda a sociedade.
Este fenómeno irá
seguramente alastrar num país trespassado pelo desemprego e ao qual são negadas
as mais básicas perspectivas de progresso e se entre nós há muito se fala nas
propriedade agrícolas que por esse país fora vão sendo vendidas a estrangeiros,
não tardará que também venhamos a assistir àquele fenómeno ou não vivêssemos
todos na aldeia global da desesperança colectiva.
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