quinta-feira, 30 de maio de 2013

DA POLÍTICA COMO ARMA DE INSULTO

Homem de pluma consistente, Vasco Graça Moura brinda-nos semanalmente nas páginas do DN com crónicas de leitura proveitosa. Na última, intitulada «Do insulto como arma política», reflecte sobre a situação do país que não tem dúvida em resumir como «…caixa de ressonância de uma guincharia descabelada», englobando quer as vozes anónimas que proclamam «…opiniões supostamente idóneas para salvar o país…» quer o que designa por «…comentadoria política…».

Diga-se em abono da verdade que o que parece indigná-lo mais nem é o insulto, antes a vozeria da populaça, a agitação que a acompanha e o desgaste sobre os titulares do poder que acarinha, razão pela qual nem se estranha o cuidado que põe na referência ao episódio protagonizado por Miguel Sousa Tavares, a quem nem sequer esquece de louvar a urbanidade revelada na pronta desculpa, posição bem distante da de Pedro Tadeu (leia-se a sua crónica «Cavaco e Sousa Tavares» que apenas pecará por ter esquecido o episódio do “Sr Silva”[1] como demonstração de que Cavaco não se esforça por se fazer respeitar a si próprio, quanto mais ao cargo que ocupa) e completamente divorciada de larga maioria da população, hoje expressa ao I por de Vasco Lourenço quando afirma «Penso muito pior do Presidente do que aquilo que disse o Sousa Tavares».


Da leitura facilmente ressalta a sua habitual verve contra as famílias políticas que se oponham à sua, (o que ao logo do tempo o tem feito alternar entre a posição de feroz defensor do poder, como agora sucede, com a de seu acirrado crítico), de momento reduzidas à vozeria que promove uma «…opacidade progressiva do diálogo…».

Não se estranha a intenção de Vasco Graça Moura ao traçar um quadro de generalização do insulto nem os malefícios que isso poderá trazer à sua família política; estranha-se sim que tão activo na denúncia, nela não inclua os evidentes malefícios da opacidade dum governo claramente impreparado e comprovadamente incompetente, tudo isto numa circunstância que o próprio define como «…caracterizada pelo acumular de dificuldades e de imprevistos, dentro e fora do país, seria necessário adoptar-se outra atitude que, sem deixar de discutir em profundidade os problemas e as suas possíveis soluções, permitisse à grande maioria dos cidadãos um entendimento mais claro daquilo que se passa e daquilo que se pode fazer».

É que se a sensibilidade de Vasco Graça Moura é ferida pela tal guincharia, muitos são os que abominam o discurso dogmático da “inexistência de alternativas” dos que, como ele, praticam a política como arma de insulto da inteligência colectiva dum povo.



[1] Apodo usado por Alberto João Jardim para se referir a Cavaco Silva a propósito dum artigo de opinião em que este recorreu à imagem económica da “boa moeda” e da “má moeda” para criticar o governo de Santana Lopes, afronta que o mesmo Cavaco Silva convenientemente esqueceu quando, na Região da Madeira, em campanha eleitoral para a sua primeira eleição presidencial se deixou acompanhar e fotografar com Alberto João Jardim.

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