Homem de pluma
consistente, Vasco Graça Moura brinda-nos semanalmente nas páginas do DN com
crónicas de leitura proveitosa. Na última, intitulada «Do
insulto como arma política», reflecte sobre
a situação do país que não tem dúvida em resumir como «…caixa de ressonância de uma guincharia descabelada»,
englobando quer as vozes anónimas que proclamam «…opiniões supostamente idóneas para salvar o país…» quer o que
designa por «…comentadoria política…».
Diga-se em
abono da verdade que o que parece indigná-lo mais nem é o insulto, antes a
vozeria da populaça, a agitação que a acompanha e o desgaste sobre os titulares
do poder que acarinha, razão pela qual nem se estranha o cuidado que põe na
referência ao episódio protagonizado por Miguel Sousa Tavares, a quem nem
sequer esquece de louvar a urbanidade revelada na pronta desculpa, posição bem
distante da de Pedro Tadeu (leia-se a sua crónica «Cavaco
e Sousa Tavares» que apenas pecará por ter esquecido o episódio do “Sr
Silva”[1]
como demonstração de que Cavaco não se esforça por se fazer respeitar a si
próprio, quanto mais ao cargo que ocupa) e completamente divorciada de larga
maioria da população, hoje expressa ao I
por de Vasco Lourenço quando afirma «Penso
muito pior do Presidente do que aquilo que disse o Sousa Tavares».
Da leitura
facilmente ressalta a sua habitual verve contra as famílias políticas que se
oponham à sua, (o que ao logo do tempo o tem feito alternar entre a posição de
feroz defensor do poder, como agora sucede, com a de seu acirrado crítico), de
momento reduzidas à vozeria que promove uma «…opacidade progressiva do diálogo…».
Não se estranha
a intenção de Vasco Graça Moura ao traçar um quadro de generalização do insulto
nem os malefícios que isso poderá trazer à sua família política; estranha-se
sim que tão activo na denúncia, nela não inclua os evidentes malefícios da
opacidade dum governo claramente impreparado e comprovadamente incompetente,
tudo isto numa circunstância que o próprio define como «…caracterizada pelo acumular de dificuldades e de
imprevistos, dentro e fora do país, seria necessário adoptar-se outra atitude
que, sem deixar de discutir em profundidade os problemas e as suas possíveis
soluções, permitisse à grande maioria dos cidadãos um entendimento mais claro
daquilo que se passa e daquilo que se pode fazer».
É que se a
sensibilidade de Vasco Graça Moura é ferida pela tal guincharia, muitos são os
que abominam o discurso dogmático da “inexistência de alternativas” dos que,
como ele, praticam a política como arma de insulto da inteligência colectiva
dum povo.
[1] Apodo usado por Alberto João Jardim para se referir
a Cavaco Silva a propósito dum artigo de opinião em que este recorreu à imagem
económica da “boa moeda” e da “má moeda” para criticar o governo de Santana
Lopes, afronta que o mesmo Cavaco Silva convenientemente esqueceu quando, na
Região da Madeira, em campanha eleitoral para a sua primeira eleição
presidencial se deixou acompanhar e fotografar com Alberto João Jardim.
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