Se dúvidas
houvesse sobre as múltiplas razões para o mal viver geral que alastra pelo
País, bastaria ter ouvido as mais recentes intervenções dos dois principais
responsáveis políticos pela condução do país, Passos Coelho e Paulo Portas,
para cimentar a convicção que contrariamente ao afirmado quando «Passos
Coelho garante que “não haverá pântano em Portugal enquanto for
primeiro-ministro”» a estabilidade governativa (ou a sua ausência) estará
longe de assegurada.
Não bastando
já a hecatombe social criada por uma política financista de vistas curtas e
menores capacidades para ultrapassar uma crise agravada por um PAEF (Programa
de Assistência Económica e Financeira) pretensamente negociado para defesa dos
interesses nacionais mas cujas linhas gerais apenas se destinam a assegurar o
máximo ganho possível ao conjunto dos credores internacionais do País, à
tristeza de vermos actuar um Presidente da República jactantemente incompetente
e de o ouvirmos apelar a uma estabilidade que apenas serve os interesses
daqueles credores, soma-se agora um espectáculo encenado pelos partidos da
coligação governativa, para eleitor ver.
Concomitantemente
com o anúncio de mais um pacote de medidas apresentadas como via para a
resolução duma crise de contornos nebulosos e duvidosos, mas de seguro efeito
na destruição do chamado Modelo Social Europeu e na aniquilação do Estado
Social, o primeiro-ministro Passos Coelho não se esqueceu de referir que «várias medidas de austeridade decorrem do “talento” de
Portas», pré anunciando que nem tudo estaria a correr de feição
entre os parceiros da coligação.
E a dúvida permaneceu por esclarecer umas meras 48 horas (lembre-se que
na questão da TSU a “dúvida” arrastou-se durante uma semana) até que se ouvir
que o tonitruante «Portas
ataca troika e ameaça: ou cai o imposto sobre as reformas ou o CDS abandona o governo»; da noite para o dia aqueles que
sempre defenderam a inevitabilidade e a indispensabilidade de respeitar os
desejos dos credores pretendem agora enfileirar entre os que desde a primeira
hora têm contestado semelhante opção.
Terá isto
acontecido por recém-adquirida convicção ou porque sopram cada vez mais fortes
os ventos que daqui e dali da Europa vão afirmando, como foi o caso do ministro
francês das finanças, Pierre Moscovici, que «“A era do dogma da austeridade
acabou”»?
Ter-se-ão,
Paulo Portas e o CDS, transformado nos novos paladinos das soluções
alternativas que costumavam rotular liminarmente de inexistentes, ou apenas,
como o próprio afirmou no discurso televisionado, que a recém-anunciada medida
de novo imposto sobre as reformas constitui uma linha vermelha que não pretende
ultrapassar?
Entenderá Portas (e o seu CDS) que depois de ter abdicado do “slogan” de partido dos contribuintes (quando
compactuou com uma política de acentuado aumento da carga fiscal),
pragmaticamente, não pode abrir mão de se apresentar como o partido dos
reformados, sob pena de desagregar definitivamente a sua base eleitoral?
Duma forma ou
doutra o que deve ressaltar como realidade é que a verdadeira preocupação dos
políticos que actualmente conduzem os destinos do País não é a situação em que este
se encontra, antes em que situação eles se encontrarão no próximo ciclo
eleitoral.
Com eleições
antecipadas ou não, Paulo Portas está apenas a clarificar que não pretende
entregar-se sem luta. Assim se algum talento especial este apresenta, para azar
nosso, é o da sua inegável capacidade para “cavalgar” as mais variadas ondas…
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