terça-feira, 7 de maio de 2013

O TALENTO DE PORTAS


Se dúvidas houvesse sobre as múltiplas razões para o mal viver geral que alastra pelo País, bastaria ter ouvido as mais recentes intervenções dos dois principais responsáveis políticos pela condução do país, Passos Coelho e Paulo Portas, para cimentar a convicção que contrariamente ao afirmado quando «Passos Coelho garante que “não haverá pântano em Portugal enquanto for primeiro-ministro”» a estabilidade governativa (ou a sua ausência) estará longe de assegurada.

Não bastando já a hecatombe social criada por uma política financista de vistas curtas e menores capacidades para ultrapassar uma crise agravada por um PAEF (Programa de Assistência Económica e Financeira) pretensamente negociado para defesa dos interesses nacionais mas cujas linhas gerais apenas se destinam a assegurar o máximo ganho possível ao conjunto dos credores internacionais do País, à tristeza de vermos actuar um Presidente da República jactantemente incompetente e de o ouvirmos apelar a uma estabilidade que apenas serve os interesses daqueles credores, soma-se agora um espectáculo encenado pelos partidos da coligação governativa, para eleitor ver.

Concomitantemente com o anúncio de mais um pacote de medidas apresentadas como via para a resolução duma crise de contornos nebulosos e duvidosos, mas de seguro efeito na destruição do chamado Modelo Social Europeu e na aniquilação do Estado Social, o primeiro-ministro Passos Coelho não se esqueceu de referir que «várias medidas de austeridade decorrem do talento de Portas», pré anunciando que nem tudo estaria a correr de feição entre os parceiros da coligação.
E a dúvida permaneceu por esclarecer umas meras 48 horas (lembre-se que na questão da TSU a “dúvida” arrastou-se durante uma semana) até que se ouvir que o tonitruante «Portas ataca troika e ameaça: ou cai o imposto sobre as reformas ou o CDS abandona o governo»; da noite para o dia aqueles que sempre defenderam a inevitabilidade e a indispensabilidade de respeitar os desejos dos credores pretendem agora enfileirar entre os que desde a primeira hora têm contestado semelhante opção.

Terá isto acontecido por recém-adquirida convicção ou porque sopram cada vez mais fortes os ventos que daqui e dali da Europa vão afirmando, como foi o caso do ministro francês das finanças, Pierre Moscovici, que «“A era do dogma da austeridade acabou”»?

Ter-se-ão, Paulo Portas e o CDS, transformado nos novos paladinos das soluções alternativas que costumavam rotular liminarmente de inexistentes, ou apenas, como o próprio afirmou no discurso televisionado, que a recém-anunciada medida de novo imposto sobre as reformas constitui uma linha vermelha que não pretende ultrapassar?

Entenderá Portas (e o seu CDS) que depois de ter abdicado do “slogan” de partido dos contribuintes (quando compactuou com uma política de acentuado aumento da carga fiscal), pragmaticamente, não pode abrir mão de se apresentar como o partido dos reformados, sob pena de desagregar definitivamente a sua base eleitoral?

Duma forma ou doutra o que deve ressaltar como realidade é que a verdadeira preocupação dos políticos que actualmente conduzem os destinos do País não é a situação em que este se encontra, antes em que situação eles se encontrarão no próximo ciclo eleitoral.


Com eleições antecipadas ou não, Paulo Portas está apenas a clarificar que não pretende entregar-se sem luta. Assim se algum talento especial este apresenta, para azar nosso, é o da sua inegável capacidade para “cavalgar” as mais variadas ondas…

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