São
incontáveis as vezes que tenho referido a mais elementar falta de competência
dos líderes europeus no processo de tomada de decisão. Actualmente e a pretexto
da tantas vezes louvada estratégia dos “pequenos passos”, as lideranças europeias
optam invariavelmente por adiar todas as medidas de fundo para a cimeira
seguinte, talvez na expectativa que o tempo resolva o problema que eles se
recusam a enfrentar.
A cimeira europeia
da passada semana foi disso prova evidente quando novamente adiou as decisões
sobre um proposta de combate à fraude e evasão fiscal e esta semana voltámos a
ter novo exemplo a propósito da questão do levantamento do embargo da venda de
armas à oposição Síria. Divididos entre a posição franco-britânica que há muito
pretende ver abolido o embargo (opção para a qual pesará seguramente o
interesse do sector produtor de armamento), a representada pelo duo Holanda e
Áustria que receiam o agravamento do conflito e os que hesitam entre as duas, a
UE voltou a revelar o pior de si própria quando através duma demissionária ausência
de decisão deixou expirar o prazo do actual embargo.
Entre as razões para a divisão europeia conta-se além dos interesses dos
sectores nacionais de fabricação de armamento o receio de que o armamento possa
vir a ser utilizado por grupos muçulmanos fundamentalistas, à imagem e
semelhança do ocorrido na Líbia, que mais tarde venham a colocar em risco
interesses ocidentais na região.
Receios que
não obstaram à decisão, amenizada talvez com o mero fito de conter as reacções
dos tradicionais apoiantes do presidente Bashar Al-Assad – exemplificada na
notícia de que a «Rússia condena
decisão da UE de levantar embargo de armas aos rebeldes sírios»
– e a pretexto de não prejudicar a Conferência Internacional sobre a Síria
prometida por Ban Ki-moon, os responsáveis pela diplomacia da UE decidiram, numa
clara reafirmação da sua própria fraqueza, manter as sanções de natureza
financeira em vigor e adiar para Agosto o efectivo abandono do embargo à venda
de armamento, que levou o representante português, Paulo Portas, a dizer que a «Decisão “politicamente desajeitada” prova que a UE
“desiste de uma posição” sobre a Síria»
e a própria oposição síria comenta dizendo que «Fim
do embargo da UE sobre armas é insuficiente».
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