Embora a
semana se tenha iniciado com a oficialização dos pedidos de resgate espanhol e
cipriota, se venha a concluir com mais uma cimeira europeia e o cenário de
crise em torno da dívida pública europeia continue muito longe de augúrios positivos,
talvez a situação mais preocupante ainda seja a que se vive no Médio Oriente e
em especial no território que continua a ser um ponto charneira na região: a
Síria.
Localizada a
sul da Turquia e entre Israel e o Iraque, a Síria moderna continua a apresentar
uma posição geoestratégica determinante na região do Médio Oriente. Depois de
ter sido um ponto de confluência de algumas das mais importantes rotas
comerciais entre o Ocidente e o Oriente e ponto central do antigo Crescente
Fértil (região que se estendia desde o valo do Nilo até às bacias do Tigre e do
Eufrates e que apontada como o berço da sedentarização humana viu florescer
civilizações como a egípcia, a suméria, a persa) volta hoje a ser o centro de
atenções das principais potências.
Enquanto no
Egipto se assiste à inevitável ascensão da Irmandade Islâmica – que embora
enquadrada pela superestrutura militar não deixa de causar preocupação ao
vizinho Estado de Israel (embora desmentida, uma das primeiras notícias a
circular após o anúncio da eleição do candidato islâmico foi que Mohamed
«Morsi quer aprofundar laços com
Teerão, Israel dá sinais de nervosismo»)
e na própria Europa os serviço de informação ingleses (MI5) não escondem os
receios de que a “Primavera Árabe” constitua uma nova ameaça terrorista (a
notícia publicada pelo LE MONDE pode ser lida aqui) –, na Líbia e restante
região do Maghreb a “Primavera Árabe” oscila entre o esquecimento e a eclosão
de novos focos de conflito, é na Síria que se desenrolam os últimos episódios
da intricada relação entre as facções islâmicas (sunitas versus xiitas) e as
potências como os EUA e a Rússia.
É precisamente
neste contexto que se insere o incidente com o avião turco que a antiaérea
síria derrubou na passada semana e que originou a notícia que «Turquia
pede reunião urgente da NATO por causa de jacto abatido pela Síria»
e a esperada reacção de «Com
o apoio da NATO, Turquia lança aviso à Síria».
Num verdadeiro
carrossel de informação e contra-informação, diz-se que a «Turquia
queixa-se à ONU de “acto hostil” da Síria», embora seja do domínio público
que «Ancara
diz que avião militar turco poderá ter violado espaço aéreo sírio»
enquanto, naturalmente, «Damasco
reafirma que avião turco violou a soberania síria».
Para apimentar
ainda mais a polémica (ou para melhor servir os interesses de quem incentiva a
escalada de violência, questão que procurei abordar há dias no “post” «O
SOFRIMENTO SÍRIO») eis que após a notícia da deserção dum piloto aviador
para a Jordânia surge agora a informação que «Altas
patentes do exército sírio desertaram para a Turquia», num claro prenúncio
de que a abertura duma nova frente militar poderá estar para breve e numa
confirmação de que os verdadeiros senhores do carrossel não serão apenas os
russos…
…como quer
fazer crer a imprensa ocidental, antes a potência que está em vias de perder a
posição hegemónica de que tem beneficiado – os EUA – potências emergentes, como
a Rússia e a China e as potências regionais – Israel, Irão e Turquia – que
poderão não resistir à tentação (ou ás pressões) para despoletarem um conflito
regional, tanto maiores quanto a região se localiza bem no centro da disputa
pelas fontes de gás natural (sendo que o Mediterrâneo se perspectiva como uma
das mais ricas) e pelas suas redes de distribuição.
Sem comentários:
Enviar um comentário