Quase cinco
anos volvidos sobre a catástrofe (terramoto de 8,9 na escala de Richter seguido
de tsunami) que no dia 11 de Março de 2011 atingiu a região japonesa de Tohoku,
provocando danos irreparáveis numa central nuclear da TEPCO (Tokyo Electric Power Co),
e depois do Ministério Público de Tóquio ter recusado por duas vezes apresentar
quaixas contra a empresa, eis que surge a notícia que «Três
ex-dirigentes da operadora de Fukushima vão ser julgados por negligência».
A catástrofe natural,
ampliada pelo desastre nuclear que se lhe seguiu, resultou em quase 16 mil
mortos e mais de 2500 desaparecidos e na confirmada contaminação das águas do
Pacífico. Esta fuga radioactiva, classificada ao
mesmo nível da que atingiu a central russa de Tchernobyl, reacendeu a
polémica em torno do uso da energia nuclear levando mesmo vários países a
anunciar moratórias nos seus programas de energia nuclear.
A tardia
chamada à responsabilidade de três ex-dirigentes da TEPCO está perfeitamente em
linha com a actuação das autoridades, pois «Tóquio
levou quase 5 anos a reconhecer primeira morte por cancro» na sequência da
fuga de material radioactivo da central de Fukushima Daiichi, num processo de
relativa mistificação dos perigos que ainda assim não impediu que de pronto se
tivesse referido que o «Japão
faz soar alarme nuclear no mundo», ainda que as consequências prática não
tenham acompanhado o nível de preocupação geral.
O acidente
nuclear ocorrido em 1986 em Tchernobyl serviu na ocasião para salientar as
graves limitações duma gestão soviética em acelerada decadência, pelo que pouco
efeito teve no debate sobre o uso da energia nuclear; com o acidente em
Fukushima a reacção da comunidade internacional foi um pouco diferente mas
seguramente não o desejável.
O julgamento
agora anunciado irá seguramente assistir à repetição dos conhecidos argumentos
a favor ou contra o uso da energia nuclear, com a habitual emotividade mas
sempre longe duma indispensável objectividade que tem a ver com a necessidade de
procura de fontes de produção de energia alternativas aos combustíveis fósseis;
bom seria se a discussão se orientasse não para a diabolização duma alternativa
mas para a necessidade de controlos muito apertados sobre as entidades,
públicas e privadas, que usam a energia nuclear. Mas isso equivaleria a
equiparar o acidente de Fukushima com o de Tchernobyl (ambos foram
classificados com o grau mais elevado na Escala Internacional de Acidentes
Nucleares) e concluir que se o primeiro resultou do fracasso dum modelo de gestão
fortemente centralizado, o segundo resultou principalmente do laxismo dos
poderes públicos face aos interesses privados do lucro a qualquer custo.
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