terça-feira, 1 de março de 2016

UM MAU EXEMPLO

Quase cinco anos volvidos sobre a catástrofe (terramoto de 8,9 na escala de Richter seguido de tsunami) que no dia 11 de Março de 2011 atingiu a região japonesa de Tohoku, provocando danos irreparáveis numa central nuclear da TEPCO (Tokyo Electric Power Co), e depois do Ministério Público de Tóquio ter recusado por duas vezes apresentar quaixas contra a empresa, eis que surge a notícia que «Três ex-dirigentes da operadora de Fukushima vão ser julgados por negligência».

A catástrofe natural, ampliada pelo desastre nuclear que se lhe seguiu, resultou em quase 16 mil mortos e mais de 2500 desaparecidos e na confirmada contaminação das águas do Pacífico. Esta fuga radioactiva, classificada ao mesmo nível da que atingiu a central russa de Tchernobyl, reacendeu a polémica em torno do uso da energia nuclear levando mesmo vários países a anunciar moratórias nos seus programas de energia nuclear.

A tardia chamada à responsabilidade de três ex-dirigentes da TEPCO está perfeitamente em linha com a actuação das autoridades, pois «Tóquio levou quase 5 anos a reconhecer primeira morte por cancro» na sequência da fuga de material radioactivo da central de Fukushima Daiichi, num processo de relativa mistificação dos perigos que ainda assim não impediu que de pronto se tivesse referido que o «Japão faz soar alarme nuclear no mundo», ainda que as consequências prática não tenham acompanhado o nível de preocupação geral.

O acidente nuclear ocorrido em 1986 em Tchernobyl serviu na ocasião para salientar as graves limitações duma gestão soviética em acelerada decadência, pelo que pouco efeito teve no debate sobre o uso da energia nuclear; com o acidente em Fukushima a reacção da comunidade internacional foi um pouco diferente mas seguramente não o desejável.


O julgamento agora anunciado irá seguramente assistir à repetição dos conhecidos argumentos a favor ou contra o uso da energia nuclear, com a habitual emotividade mas sempre longe duma indispensável objectividade que tem a ver com a necessidade de procura de fontes de produção de energia alternativas aos combustíveis fósseis; bom seria se a discussão se orientasse não para a diabolização duma alternativa mas para a necessidade de controlos muito apertados sobre as entidades, públicas e privadas, que usam a energia nuclear. Mas isso equivaleria a equiparar o acidente de Fukushima com o de Tchernobyl (ambos foram classificados com o grau mais elevado na Escala Internacional de Acidentes Nucleares) e concluir que se o primeiro resultou do fracasso dum modelo de gestão fortemente centralizado, o segundo resultou principalmente do laxismo dos poderes públicos face aos interesses privados do lucro a qualquer custo.

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