terça-feira, 8 de março de 2016

ADEUS CAVACO

Está prestes a encerrar-se aquela que ficará para a História como uma das décadas mais tristes deste País; claro que não foi a única (nem será, infelizmente, a última) mas uma sucessão de eventos iniciados com o despoletar duma crise sistémica global agravada pelos erros conceptuais duma união monetária sem liderança política e acompanhada da inépcia das elites governativas europeia e nacional, nem sequer explica a calamidade da passagem de Cavaco Silva por Belém.


O que se lhe seguirá pode constituir ainda uma incógnita para muita gente, poderá até parecer algo de muito melhor (também não será difícil depois de termos descido tão baixo), mas dificilmente apagará a imagem de péssimo presidente deixada por Cavaco Silva, sem qualquer dúvida o pior da III República.

Depois da década passada como chefe de Governo (1985-1995), que ficou assinalada como o período de maior afluxo de ajudas comunitárias –  traduzidas na destruição do sector primário da economia nacional, na explosão do sector terciário e, na tradição do melhor oportunismo bacoco, na opção por uma “política do betão” desprovida de visão estratégica – e de implantação dum modelo de liberalismo económico que resultou num “vale tudo” oportunista, não é estranho que durante a sua presidência se tenha assistido ao eclodir de casos como o BPN e a meteórica ascensão de “Relvas” e “Varas”; estranho é que além de nunca ter esclarecido minimamente algumas situações controversas em que se viu envolvido (o “negócio” das acções do BPN cujo preço de venda foi fixado pelo “seu amigo” Oliveira e Costa, o facto de não ter demitido do Conselho de Estado o seu amigo Dias Loureiro logo que foi confirmado o seu envolvimento num processo de evasão e fraude fiscal no âmbito da venda da Pleiade à Sociedade Lusa de Negócios ou a lucrativa troca da casa algarvia com uma construtora ligada ao “universo BPN”) ainda tenha tido a desfaçatez de em plena hecatombe social, ditada por um resgate financeiro imposto para a protecção e salvaguarda da banca europeia e perante o impedimento legal de acumular o vencimento da função que exercia com a reforma que recebia, de não optar pelo vencimento do cargo e o arrojo de, no final do mandato afirmar que agiu "sempre" de "acordo com o superior interesse nacional".

Cavaco Silva não é apenas um político criticável devido às suas convicções políticas e ideológicas, é sobretudo um mau exemplo pelas suas convicções e opções sobranceiras – celebrizadas na tonitruante declaração: «Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas» – e pela evidente ausência dum padrão ético republicano que sempre farão dele uma personagem desadequada para as funções que tem desempenhado.

Sem comentários: