Está prestes a
encerrar-se aquela que ficará para a História como uma das décadas mais tristes
deste País; claro que não foi a única (nem será, infelizmente, a última) mas
uma sucessão de eventos iniciados com o despoletar duma crise sistémica global agravada
pelos erros conceptuais duma união monetária sem liderança política e
acompanhada da inépcia das elites governativas europeia e nacional, nem sequer
explica a calamidade da passagem de Cavaco Silva por Belém.
O que se lhe
seguirá pode constituir ainda uma incógnita para muita gente, poderá até
parecer algo de muito melhor (também não será difícil depois de termos descido
tão baixo), mas dificilmente apagará a imagem de péssimo presidente deixada por
Cavaco Silva, sem qualquer dúvida o pior da III República.
Depois da
década passada como chefe de Governo (1985-1995), que ficou assinalada como o
período de maior afluxo de ajudas comunitárias – traduzidas na destruição do sector primário
da economia nacional, na explosão do sector terciário e, na tradição do melhor
oportunismo bacoco, na opção por uma “política do betão” desprovida de visão estratégica – e de implantação dum modelo de liberalismo económico que resultou
num “vale tudo” oportunista, não é estranho que durante a sua presidência se
tenha assistido ao eclodir de casos como o BPN e a meteórica ascensão de
“Relvas” e “Varas”; estranho é que além de nunca ter esclarecido minimamente
algumas situações controversas em que se viu envolvido (o “negócio” das acções
do BPN cujo preço de venda foi fixado pelo “seu amigo” Oliveira e Costa, o facto de não ter demitido do Conselho de Estado o seu
amigo Dias Loureiro logo que foi confirmado o seu envolvimento num processo de
evasão e fraude fiscal no âmbito da venda da Pleiade à Sociedade Lusa de
Negócios ou a lucrativa troca da casa algarvia
com uma construtora ligada ao “universo BPN”) ainda tenha tido a desfaçatez de
em plena hecatombe social, ditada por um resgate financeiro imposto para a
protecção e salvaguarda da banca europeia e perante o impedimento legal de
acumular o vencimento da função que exercia com a reforma que recebia, de não
optar pelo vencimento do cargo e o arrojo de, no final do mandato afirmar que agiu
"sempre" de "acordo com o superior interesse nacional".
Cavaco Silva
não é apenas um político criticável devido às suas convicções políticas e
ideológicas, é sobretudo um mau exemplo pelas suas convicções e opções sobranceiras
– celebrizadas na tonitruante declaração: «Eu
nunca me engano e raramente tenho dúvidas» – e pela evidente ausência dum
padrão ético republicano que sempre farão dele uma personagem desadequada para
as funções que tem desempenhado.
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