sábado, 30 de agosto de 2014

SINAIS DE FRAGILIDADE

As dúvidas que se vêem avolumando sobre as orientações traçadas pela Comissão Europeia, quando são divulgadas notícias de que a «Economia da zona euro reforça sinais de fragilidade» ou que a «Confiança dos empresários alemães afunda pelo quarto mês consecutivo», parecem começar a criar as primeiras clivagens no panorama político europeu. É assim que enquanto o «Ministro das Finanças austríaco demite-se por oposição a aumento de impostos» sobre os mais ricos, para os lados de Paris uma «Rebelião da esquerda francesa fragiliza Hollande e Valls», levando a que o primeiro-ministro Manuel «Valls saneia oposição interna e afunda-se com Hollande».

Com o fraco desempenho da economia francesa a pesar na opinião pública, a crise resolveu-se em poucas horas e o presidente François «Hollande refaz governo e coloca ex-banqueiro na Economia», no que parece um acentuar da viragem política em direcção a Berlim, confirmada pela afirmação de Valls de que a «UE precisa "mais do que nunca" de aliança Paris-Berlim»; porém, o novo gabinete terá ainda de sobreviver ao escrutínio dum parlamento onde abundam os críticos às políticas de austeridade.


Quando parecem acentuar-se as divergências entre defensores e críticos da austeridade eis que, na passada semana durante uma reunião em Washington, o presidente do BCE, Mario «Draghi defende menos austeridade na Zona Euro», posição que em certa medida secunda idênticos apelos de responsáveis do FMI, como a directora Christine Lagarde, que defende aumento de salários na Alemanha para impulsionar retoma na Europa.

As reacções não se fizeram esperar e enquanto «França e Itália apoiam discurso de Draghi. Alemanha desvaloriza» e pela voz do seu ministro das finanças chega mesmo a assegurar que Mario Draghi foi "mal interpretado"; até a inefável “Senhora Swap” achou por bem contribuir para o tema e aconselha cautela a interpretar Draghi.

É claro que a afirmação do presidente do BCE em nada altera a situação (permitindo mesmo a dúvida de saber se «Draghi pediu mesmo o fim da austeridade na zona euro?», conhecida que é a sua aproximação ao duo Merkel-Schauble e às teses monetaristas) que vive a Zona Euro, onde a imposição do modelo da “austeridade-expansionista”, por um directório enfeudado às teses monetaristas e neoliberais, continua a adiar a recuperação económica, a ponto de já se assegurar que «2014 é mais um ano perdido com três maiores economias em crise». A cegueira alemã (que alguns analistas explicam pelo trauma da recessão que assolou o país na década de 1930, ou como prefere Viriato Soromenho Marques no seu excelente livro «Portugal na queda da Europa», para quem a Alemanha, tolhida nos seus medos, manda mas não lidera), expressa na actual «…combinação europeia de políticas económicas está errada e os resultados começam a estar à vista. A ameaça de deflação, a mais grave das crises, reforça-se e começamos a assistir à formação de uma bolha financeira. Infelizmente para todos nós, a correcção das políticas parece impossível. Está a esbarrar com as diferenças de valores entre os países, um fosso que se vai cavando e pode acabar com a mais importante construção política do último século.» («A Armadilha moral do euro» de Helena Garrido in NEGÓCIOS).

Certo é que os dados económicos mais recentes mostram que a «Economia alemã recua 0,2% no 2.º trimestre», que o «Desemprego alemão sobe contra as previsões» (resultado que se tenta mascarar sob o argumento da responsabilização das sanções económicas russas) e que até já há quem, reconhecendo velhos sinais no sector imobiliário, alerte que «A Suécia pode ser o país que se segue a entrar em crise». Enquanto isto e contrariando o dogma ordoliberal (designação atribuída à escola alemã de pensamento económico neoliberal, que terá tido em Alexander Rustow o seu expoente máximo) da pureza dos mercados e do primado das exportações, eis que os dados mais recentes das economias ibéricas revelam que o «Consumo impulsiona PIB espanhol no segundo trimestre» enquanto em Portugal «Consumo das famílias salva metas orçamentais», confirmando à saciedade o erro fundamental das políticas de austeridades aplicadas sob a influência alemã numa Europa que continua sem se aproximar sequer da prometida retoma económica.

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