As
dúvidas que se vêem avolumando sobre as orientações traçadas pela Comissão
Europeia, quando são divulgadas notícias de que a «Economia
da zona euro reforça sinais de fragilidade» ou que
a «Confiança
dos empresários alemães afunda pelo quarto mês consecutivo», parecem
começar a criar as primeiras clivagens no panorama político europeu. É assim
que enquanto o «Ministro
das Finanças austríaco demite-se por oposição a aumento de impostos» sobre
os mais ricos, para os lados de Paris uma «Rebelião
da esquerda francesa fragiliza Hollande e Valls», levando a que o
primeiro-ministro Manuel «Valls
saneia oposição interna e afunda-se com Hollande».
Com o fraco
desempenho da economia francesa a pesar na opinião pública, a crise resolveu-se
em poucas horas e o presidente François «Hollande
refaz governo e coloca ex-banqueiro na Economia», no que parece um acentuar
da viragem política em direcção a Berlim, confirmada pela afirmação de Valls de
que a «UE
precisa "mais do que nunca" de aliança Paris-Berlim»;
porém, o novo gabinete terá ainda de sobreviver ao escrutínio dum parlamento
onde abundam os críticos às políticas de austeridade.
Quando
parecem acentuar-se as divergências entre defensores e críticos da austeridade
eis que, na passada semana durante uma reunião em Washington, o presidente do
BCE, Mario «Draghi defende menos austeridade na Zona Euro»,
posição que em certa medida secunda idênticos apelos de responsáveis do FMI,
como a directora Christine Lagarde, que defende
aumento de salários na Alemanha para impulsionar retoma na Europa.
As reacções
não se fizeram esperar e enquanto «França e Itália apoiam discurso de Draghi.
Alemanha desvaloriza» e pela voz do seu ministro das finanças chega
mesmo a assegurar que Mario
Draghi foi "mal interpretado"; até a inefável “Senhora Swap”
achou por bem contribuir para o tema e aconselha
cautela a interpretar Draghi.
É claro que a
afirmação do presidente do BCE em nada altera a situação (permitindo mesmo a
dúvida de saber se «Draghi
pediu mesmo o fim da austeridade na zona euro?», conhecida que é a sua
aproximação ao duo Merkel-Schauble e às teses monetaristas) que
vive a Zona Euro, onde a imposição do modelo da “austeridade-expansionista”,
por um directório enfeudado às teses monetaristas e neoliberais, continua a
adiar a recuperação económica, a ponto de já se assegurar que «2014
é mais um ano perdido com três maiores economias em crise». A cegueira
alemã (que alguns analistas explicam pelo trauma da recessão que assolou o país
na década de 1930, ou como prefere Viriato Soromenho Marques no seu excelente
livro «Portugal na queda da Europa», para quem a Alemanha, tolhida nos seus
medos, manda mas não lidera), expressa na actual «…combinação europeia de políticas económicas está errada e os resultados
começam a estar à vista. A ameaça de deflação, a mais grave das crises,
reforça-se e começamos a assistir à formação de uma bolha financeira.
Infelizmente para todos nós, a correcção das políticas parece impossível. Está
a esbarrar com as diferenças de valores entre os países, um fosso que se vai
cavando e pode acabar com a mais importante construção política do último
século.» («A
Armadilha moral do euro» de Helena Garrido in NEGÓCIOS).
Certo é
que os dados económicos mais recentes mostram que a «Economia alemã recua 0,2% no 2.º trimestre»,
que o «Desemprego
alemão sobe contra as previsões» (resultado que se tenta mascarar sob o
argumento da responsabilização das sanções económicas russas) e que até já há
quem, reconhecendo velhos sinais no sector imobiliário, alerte que «A
Suécia pode ser o país que se segue a entrar em crise». Enquanto isto e
contrariando o dogma ordoliberal (designação atribuída à escola alemã de
pensamento económico neoliberal, que terá tido em Alexander Rustow o seu
expoente máximo) da pureza dos mercados e do primado das exportações, eis que
os dados mais recentes das economias ibéricas revelam que o «Consumo impulsiona PIB espanhol no segundo
trimestre» enquanto em Portugal «Consumo
das famílias salva metas orçamentais», confirmando à saciedade o erro
fundamental das políticas de austeridades aplicadas sob a influência alemã numa
Europa que continua sem se aproximar sequer da prometida retoma económica.
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