Ao contrário do que escrevi em
2009 no “post” «PANDEMIA
– MITO OU REALIDADE?» sobre a então muito falada epidemia da Gripe A, mais
tarde confirmada nas críticas feitas à actuação da OMS (ver o “post” «AVOLUMAM-SE
AS DÚVIDAS»), a situação sanitária que se atravessa na Africa Ocidental,
onde grassa uma epidemia do vírus Ébola, justificará a decisão onde a «OMS
declara surto de Ébola uma emergência internacional de saúde», tanto mais
que segundo a mesma OMS este surto do «Ébola já
matou mais de mil pessoas».
Embora as
primeiras infecções conhecidas datem da década de 70 do século passado, quando
atingiu o Congo, Gabão, Uganda e Sudão, continuam por desenvolver qualquer tipo
de vacina ou tratamento específico. O vírus (que se pensa encontrar o seu
hospedeiro na população de morcegos, pode ser transmitido a animais e pessoas,
não sendo por isso estranho o facto de regularmente se repetirem este tipo de
surtos) cujos sintomas iniciais são semelhantes aos da gripe (febre, dores de
cabeça, fadiga, dores nas articulações e músculos) incluem vómitos, diarreia e
anorexia e podem ser semelhantes aos da malária, dengue ou outras doenças
tropicais, complicando uma detecção precoce.
A novidade é
que a região agora mais atingida se situa na África Ocidental (Guiné Conacri,
Serra Leoa, Libéria e ao que tudo indica espalhando-se para a Nigéria, que com
os seus cerca de 175 milhões de habitantes é o mais populoso dos países
africanos), onde encontrou condições de propagação idênticas à região da África
Oriental onde era mais frequente: populações com reduzidas condições de
saneamento e higiene. Alertas há algum tempo difundidos só agora começaram a
conhecer eco na imprensa ocidental com as notícias de repatriamento de alguns
ocidentais infectados, todos especialistas ligados ao tratamento da doença.
O surto
actualmente em curso já motivou, além da reacção da OMS, notícias como a de que
a «Cura para o Ébola pode estar nas folhas da planta do
tabaco», embora o principal destaque talvez devesse ser feito aos
constantes apelos de ONG’s (como os Médicos Sem
Fronteiras) para o reforço dos meios de combate (humanos e materiais) duma
infecção que apresenta um grau de infecciosidade equivalente à da gripe, mas
inferior à do sarampo, e que alastra principalmente devido às baixas condições
higieno-sanitárias de que dispõem as populações locais, aos seus fracos
rendimentos e a práticas culturais e religiosas desadequadas para esta
realidade; não se estranhe a associação do surto à situação de pobreza
generalizada das regiões por onde grassa quando se constata que «“É difícil combater o ébola num país onde umas luvas
custam mais do que se ganha num dia”».
À semelhança
doutras epidemias, como o dengue, e quando se diz ser o «Ébola,
um vírus que se alimenta da miséria» mais fácil se
torna entender porque ao longo de décadas pouco, ou nada, se tem investido na
prevenção e tratamento deste flagelo que além de assolar regiões pobres se
propaga no coração dum continente onde continuam a primar cleptocracias
completamente alheias a conceitos como o da protecção e bem-estar das
populações.
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