terça-feira, 12 de agosto de 2014

ÉBOLA

Ao contrário do que escrevi em 2009 no “post” «PANDEMIA – MITO OU REALIDADE?» sobre a então muito falada epidemia da Gripe A, mais tarde confirmada nas críticas feitas à actuação da OMS (ver o “post” «AVOLUMAM-SE AS DÚVIDAS»), a situação sanitária que se atravessa na Africa Ocidental, onde grassa uma epidemia do vírus Ébola, justificará a decisão onde a «OMS declara surto de Ébola uma emergência internacional de saúde», tanto mais que segundo a mesma OMS este surto do «Ébola já matou mais de mil pessoas».

Embora as primeiras infecções conhecidas datem da década de 70 do século passado, quando atingiu o Congo, Gabão, Uganda e Sudão, continuam por desenvolver qualquer tipo de vacina ou tratamento específico. O vírus (que se pensa encontrar o seu hospedeiro na população de morcegos, pode ser transmitido a animais e pessoas, não sendo por isso estranho o facto de regularmente se repetirem este tipo de surtos) cujos sintomas iniciais são semelhantes aos da gripe (febre, dores de cabeça, fadiga, dores nas articulações e músculos) incluem vómitos, diarreia e anorexia e podem ser semelhantes aos da malária, dengue ou outras doenças tropicais, complicando uma detecção precoce.


A novidade é que a região agora mais atingida se situa na África Ocidental (Guiné Conacri, Serra Leoa, Libéria e ao que tudo indica espalhando-se para a Nigéria, que com os seus cerca de 175 milhões de habitantes é o mais populoso dos países africanos), onde encontrou condições de propagação idênticas à região da África Oriental onde era mais frequente: populações com reduzidas condições de saneamento e higiene. Alertas há algum tempo difundidos só agora começaram a conhecer eco na imprensa ocidental com as notícias de repatriamento de alguns ocidentais infectados, todos especialistas ligados ao tratamento da doença.

O surto actualmente em curso já motivou, além da reacção da OMS, notícias como a de que a «Cura para o Ébola pode estar nas folhas da planta do tabaco», embora o principal destaque talvez devesse ser feito aos constantes apelos de ONG’s (como os Médicos Sem Fronteiras) para o reforço dos meios de combate (humanos e materiais) duma infecção que apresenta um grau de infecciosidade equivalente à da gripe, mas inferior à do sarampo, e que alastra principalmente devido às baixas condições higieno-sanitárias de que dispõem as populações locais, aos seus fracos rendimentos e a práticas culturais e religiosas desadequadas para esta realidade; não se estranhe a associação do surto à situação de pobreza generalizada das regiões por onde grassa quando se constata que «“É difícil combater o ébola num país onde umas luvas custam mais do que se ganha num dia”».

À semelhança doutras epidemias, como o dengue, e quando se diz ser o «Ébola, um vírus que se alimenta da miséria» mais fácil se torna entender porque ao longo de décadas pouco, ou nada, se tem investido na prevenção e tratamento deste flagelo que além de assolar regiões pobres se propaga no coração dum continente onde continuam a primar cleptocracias completamente alheias a conceitos como o da protecção e bem-estar das populações.

Sem comentários: