A última
reunião do Conselho Europeu centrou-se na questão da escolha do próximo
presidente da Comissão Europeia e terá sido tudo menos consensual, facto tanto
mais estranho quanto tinha sido aceite o princípio de que o nome para suceder a
Durão Barroso sairia do grupo político mais votado nas últimas eleições para o
Parlamento Europeu.
Esta
ideia levou mesmo à apresentação formal pelas diferentes famílias políticas
(eufemismo que designa as alianças políticas pan-europeias) dum candidato ao
lugar, pelo que face à vitória dos conservadores do PPE era esperada a
indicação do luxemburguês Jean-Claude Juncker. A reunião lá se encerrou com a
notícia que «Líderes europeus
indigitam Jean-Claude Juncker para presidente da Comissão», mas não sem que
«Mesmo
isolado, Cameron insiste que Juncker é a "pessoa errada" para dirigir
a Comissão».
Se há quem entenda que com aquela oposição «Cameron dá o primeiro passo para uma União
Europeia diferente, sem Juncker e sem federação» ou que se afirme
que os «Jornais
britânicos colocam Reino Unido mais perto de abandonar União Europeia», as
complicadas regras de funcionamento da UE (com os eurocratas a recordarem o
perpétuo jogo de equilíbrios que os mais cépticos apelidam de simples jogos de
bastidores) ditaram que afinal «O favorito que foi pressionado para desistir
chega a presidente» ou que «Ninguém o quer (mas quase todos o escolheram)».
Ficou claro
para muita gente que a posição defendida pelo primeiro-ministro britânico,
David Cameron, resultou principalmente da sua acrescida fragilidade interna na
sequência da vitória do UKIP (partido da extrema direita anti-europeia) que não duma
verdadeira convicção nas críticas que deixou à escolha de Juncker. É verdade
que este ex-primeiro-ministro e ex-presidente do Eurogrupo está muito longe de
se poder considerar um factor de modernidade para o projecto europeu (Juncker
como a maioria dos líderes europeus está profundamente comprometido com as
políticas neoliberais que levaram a UE à delicada situação que atravessa), é um
mais um eurocrata cuja noção centralista do processo federalista e participação
na criação da moeda única deixam poucas perspectivas de capacidade para
realizar as mudanças que se impõem na orientação comunitária.
Verdadeiro prato
principal da reunião do Conselho Europeu foi o anúncio «Oficial: Juncker proposto para suceder a Barroso»;
ainda assim e enquanto se aguarda a aprovação do Parlamento Europeu – que não
deverá constituir surpresa pois já há algum tempo que o «PPE corteja eurodeputados indecisos para escolher
sucessor de Barroso» e que a S&D (Aliança dos Socialistas e
Democratas Progressistas) não deverá desvalorizar a oportunidade para fazer
valer a importância do voto dos cidadãos –
não se deve considerar encerrada a questão, tanto mais que simultaneamente
voltaram a soprar inquietantes ventos com as notícias de que a «Bulgária faz detenções devido a rumores sobre saúde
dos seus bancos» e que «Bruxelas aprova
crédito de 1,6 mil M€ para estabilizar bancos búlgaros».
A Bulgária integrou a UE em 2007 e não é
membro da Zona Euro, mas pode representar o primeiro passo numa nova investida
especulativa contra uma moeda única fragilizada e descreditando simultaneamente
o instável poder em Bruxelas, tanto mais que da capital búlgara já foi
confirmado que o «Presidente
anuncia eleições antecipadas em Outubro» e, mais inquietante ainda, que o «FMI
afirma-se pronto a ajudar a Bulgária».
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