terça-feira, 1 de julho de 2014

PRATO PRINCIPAL

A última reunião do Conselho Europeu centrou-se na questão da escolha do próximo presidente da Comissão Europeia e terá sido tudo menos consensual, facto tanto mais estranho quanto tinha sido aceite o princípio de que o nome para suceder a Durão Barroso sairia do grupo político mais votado nas últimas eleições para o Parlamento Europeu.

Esta ideia levou mesmo à apresentação formal pelas diferentes famílias políticas (eufemismo que designa as alianças políticas pan-europeias) dum candidato ao lugar, pelo que face à vitória dos conservadores do PPE era esperada a indicação do luxemburguês Jean-Claude Juncker. A reunião lá se encerrou com a notícia que «Líderes europeus indigitam Jean-Claude Juncker para presidente da Comissão», mas não sem que «Mesmo isolado, Cameron insiste que Juncker é a "pessoa errada" para dirigir a Comissão».

Se há quem entenda que com aquela oposição «Cameron dá o primeiro passo para uma União Europeia diferente, sem Juncker e sem federação» ou que se afirme que os «Jornais britânicos colocam Reino Unido mais perto de abandonar União Europeia», as complicadas regras de funcionamento da UE (com os eurocratas a recordarem o perpétuo jogo de equilíbrios que os mais cépticos apelidam de simples jogos de bastidores) ditaram que afinal «O favorito que foi pressionado para desistir chega a presidente» ou que «Ninguém o quer (mas quase todos o escolheram)».


Ficou claro para muita gente que a posição defendida pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, resultou principalmente da sua acrescida fragilidade interna na sequência da vitória do UKIP (partido da extrema direita anti-europeia) que não duma verdadeira convicção nas críticas que deixou à escolha de Juncker. É verdade que este ex-primeiro-ministro e ex-presidente do Eurogrupo está muito longe de se poder considerar um factor de modernidade para o projecto europeu (Juncker como a maioria dos líderes europeus está profundamente comprometido com as políticas neoliberais que levaram a UE à delicada situação que atravessa), é um mais um eurocrata cuja noção centralista do processo federalista e participação na criação da moeda única deixam poucas perspectivas de capacidade para realizar as mudanças que se impõem na orientação comunitária.

Verdadeiro prato principal da reunião do Conselho Europeu foi o anúncio «Oficial: Juncker proposto para suceder a Barroso»; ainda assim e enquanto se aguarda a aprovação do Parlamento Europeu – que não deverá constituir surpresa pois já há algum tempo que o «PPE corteja eurodeputados indecisos para escolher sucessor de Barroso» e que a S&D (Aliança dos Socialistas e Democratas Progressistas) não deverá desvalorizar a oportunidade para fazer valer a importância do voto dos cidadãos não se deve considerar encerrada a questão, tanto mais que simultaneamente voltaram a soprar inquietantes ventos com as notícias de que a «Bulgária faz detenções devido a rumores sobre saúde dos seus bancos» e que «Bruxelas aprova crédito de 1,6 mil M€ para estabilizar bancos búlgaros».

A Bulgária integrou a UE em 2007 e não é membro da Zona Euro, mas pode representar o primeiro passo numa nova investida especulativa contra uma moeda única fragilizada e descreditando simultaneamente o instável poder em Bruxelas, tanto mais que da capital búlgara já foi confirmado que o «Presidente anuncia eleições antecipadas em Outubro» e, mais inquietante ainda, que o «FMI afirma-se pronto a ajudar a Bulgária».

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