Não têm
faltado notícias nos últimos dias justificando a ligação que há dias estabeleci
entre banqueiros e “banksters”, a
ponto de se ler que o «BES fez regressar fantasma da crise aos mercados
internacionais».
Qual
bomba-relógio que pressiona os índices bolsistas em queda e a subida das taxas
de juros das dívidas públicas será talvez natural aparecer quem tente explicar «Como a família Espírito Santo abalou as
bolsas mundiais», ou que entre comunicados do Banco de Portugal
reafirmando que as «"Dúvidas"
sobre o grupo Espírito Santo já estão esclarecidas», se tenha dito que o «FMI considera necessárias "medidas
correctivas" e "supervisão intrusiva" na banca», tudo pias declarações votadas ao esquecimento logo que o vórtice acalme
ou que surja outro epicentro de maior intensidade ou dimensão.
Menos piedosa, para não não dizer manipuladora e
manifestamente mal intencionada, foi declaração onde Angela «Merkel
usa crise no BES para defender austeridade»; é que embora a afirmação tenha
sido produzida para consumo interno da Alemanha (e dos mentores e apoiantes do
seu partido, a CDU), a chanceler voltou a demonstrar porque é que tantos a
apontam como grande responsável pela degradação da situação económica e social
na Europa quando, misturando realidades completamente distintas, da observação
dum fruto malsão conclui pela indispensabilidade do abate da árvore, quiçá da
totalidade do pomar.
Mesmo longe do epílogo pode já extrair-se uma importante
conclusão deste caso: a inépcia, o pânico e a irracionalidade continuam a
constituir o essencial do combustível que faz funcionar os mercados de capitais,
pois só assim (e o ávido interesse de quem age no mercado segundo estratégias
puramente especulativas) se pode compreender
como um pequeno problema num grupo de empresas duma das mais
insignificantes economias planetárias (segundo dados do FMI o PIB português
foi, com cerca de 160 mil milhões de euros, foi o 45º em 2013 e representou cerca de 1,23% do PIB da UE) se veja transformado num grande
problema, explicado na imprensa especializada com a afirmação que «Portugal
faz tremer Wall Street», quando na realidade o que uma imprensa
esclarecedora deveria dizer é que a actual matriz global de desenvolvimento de
negócios, baseada na troca de influências e na mais despudorada das
promiscuidades entre os poderes económicos e políticos, e a complacência das
entidades que pretensamente deveriam regular os mercados e supervisionar actividades
como a bancária, está manifestamente desadequada e é perigosamente potenciadora
de crises.
Esta confusão
é tal que no lugar do piedoso apelo para que «Salvem o BES e deixem cair a família»
(ou na cândida, afirmação de Passos Coelho de que os «Contribuintes
não podem suportar erros dos bancos», mas não ingénua porque no fundo não
garante a protecção dos contribuintes nem a punição dos responsáveis) permanece
implícita e inalterável a ideia que aos “banksters”
tudo será perdoado, quando o que deveria ser preocupação era a protecção da
economia (clientes e trabalhadores do banco) e uma impiedosa punição (social e
em sede de Justiça) dos prevaricadores, para que situações como esta não se
repetissem.
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