O NEGÓCIOS publicou no passado Domingo
um artigo de Kenneth Rogoff, «A
Europa e a sua pulsão pela dívida», onde o co-autor de “Growth in a Time of Debt” (por muitos
considerado como a bíblia explicativa dos malefícios da dívida pública) afirma
que para a Europa «…é
difícil visualizar um resultado final que não implique uma significativa
reestruturação ou reescalonamento da dívida»,
tanto mais que a solução de «…dolorosas
reformas económicas, especialmente em relação às normas do mercado laboral…»,
que operaram milagres na Alemanha, parecem não funcionar em Portugal, na
Irlanda e (especialmente) na Espanha, que «…[c]ontinuam todos a registar taxas de desemprego de dois dígitos, um
crescimento moribundo e, como o último Fiscal Monitor do Fundo Monetário
Internacional deixou muito claro, todos ainda sofrem de problemas significativos
de endividamento…», numa espécie de confissão do fracasso das soluções
austeritárias.
O economista, talvez
reagindo a uma pulsão insanável, diz agora que a «…palavra "austeridade" não aparece
nem uma só vez no meu livro publicado em 2009 escrito com Carmen Reinhart (ver
“Desta Vez é Diferente - Oito Séculos de Loucura
Financeira”, editado pela Actual Editora) sobre a história das crises financeiras…»,
mas que no auge laudatório que a corrente monetarista lhe dedicou nunca tal vez
ouvir, vem afinal defender que «…nem a
austeridade absoluta nem os estímulos keynesianos podem ajudar os países a
fugirem das armadilhas da dívida elevada…» para concluir que «…outras medidas, incluindo o reescalonamento
da dívida, a inflação e diversas formas de tributação da riqueza (como a
repressão financeira) tipicamente desempenharam um papel significativo…» na
resolução de situações análogas.
Mas a
verdadeira pérola do seu pensamento é quando logo no início do artigo aponta
para a «…incapacidade
dos políticos europeus para contemplarem este cenário…»
de inevitável necessidade de reestruturação das dívidas…
Depois disto haverá
ainda quem de boa fé mantenha o clima de sequestro das ideias a que nos têm
querido sujeitar? e quantas vezes ainda será necessário repetir que a crise que
atravessamos além dum embuste (pouco tem a ver com a dimensão da dívida
pública) constitui antes um fim em si e que os que a têm tentado combater com
pretensas políticas de redução da despesa pública mais não têm feito que
agravá-la ao serviço doutros interesses que não o do interesse geral.
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