segunda-feira, 28 de julho de 2014

O FIM DO SEQUESTRO DAS IDEIAS?

O NEGÓCIOS publicou no passado Domingo um artigo de Kenneth Rogoff, «A Europa e a sua pulsão pela dívida», onde o co-autor de Growth in a Time of Debt” (por muitos considerado como a bíblia explicativa dos malefícios da dívida pública) afirma que para a Europa «…é difícil visualizar um resultado final que não implique uma significativa reestruturação ou reescalonamento da dívida», tanto mais que a solução de «…dolorosas reformas económicas, especialmente em relação às normas do mercado laboral…», que operaram milagres na Alemanha, parecem não funcionar em Portugal, na Irlanda e (especialmente) na Espanha, que «…[c]ontinuam todos a registar taxas de desemprego de dois dígitos, um crescimento moribundo e, como o último Fiscal Monitor do Fundo Monetário Internacional deixou muito claro, todos ainda sofrem de problemas significativos de endividamento…», numa espécie de confissão do fracasso das soluções austeritárias.


O economista, talvez reagindo a uma pulsão insanável, diz agora que a «…palavra "austeridade" não aparece nem uma só vez no meu livro publicado em 2009 escrito com Carmen Reinhart (ver “Desta Vez é Diferente - Oito Séculos de Loucura Financeira”, editado pela Actual Editora) sobre a história das crises financeiras…», mas que no auge laudatório que a corrente monetarista lhe dedicou nunca tal vez ouvir, vem afinal defender que «…nem a austeridade absoluta nem os estímulos keynesianos podem ajudar os países a fugirem das armadilhas da dívida elevada…» para concluir que «…outras medidas, incluindo o reescalonamento da dívida, a inflação e diversas formas de tributação da riqueza (como a repressão financeira) tipicamente desempenharam um papel significativo…» na resolução de situações análogas.

Mas a verdadeira pérola do seu pensamento é quando logo no início do artigo aponta para a «…incapacidade dos políticos europeus para contemplarem este cenário…» de inevitável necessidade de reestruturação das dívidas…

Depois disto haverá ainda quem de boa fé mantenha o clima de sequestro das ideias a que nos têm querido sujeitar? e quantas vezes ainda será necessário repetir que a crise que atravessamos além dum embuste (pouco tem a ver com a dimensão da dívida pública) constitui antes um fim em si e que os que a têm tentado combater com pretensas políticas de redução da despesa pública mais não têm feito que agravá-la ao serviço doutros interesses que não o do interesse geral.

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