quarta-feira, 25 de junho de 2014

UM PAÍS PENDURADO

Precisamente agora que os Portugueses vivem um dos períodos mais negros da sua História recente (quando, miséria das misérias, a selecção nacional de futebol se encontra à beira da eliminação no campeonato mundial da especialidade), chegou às notícias que um «Artista vai a tribunal por ultraje a símbolos nacionais».

Os mais incautos (ou mais empenhados nos rosários futebolísticos) poderiam pensar de imediato que algum entusiasta mais exaltado tivesse rasgado a camisola dalgum craque, mas afinal tudo aconteceu há já algum tempo e resultou dum trabalho realizado no âmbito do curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve, quando um dos finalistas, Élsio Menau, apresentou uma instalação que consistia duma bandeira nacional pendurada numa forca, a que deu o sugestivo título de “Portugal Enforcado”. A instalação valeu-lhe na altura uma boa nota (17 valores, segundo o I), uma queixa dum cidadão e agora a presença em tribunal.


O Tribunal, que já ouviu as partes e inclusive que o «Ministério Público pediu absolvição de jovem acusado de "ultrajar" bandeira nacional», promete pronunciar-se daqui a uns dias sobre um evento da maior gravidade para o País: o ultraje a um símbolo nacional.

Por explicar ficam alguns detalhes que gostava de ver esclarecidos. Primeiro, como é que este “crime” chega a julgamento quando em época igualmente próxima o episódio, protagonizado pelo Presidente da República, do hastear ao contrário da mesmíssima bandeira foi apreciado e mandado arquivar pelo Ministério Público? Segundo, como é que o caso chega a julgamento se o Ministério Público vem agora pedir a absolvição?

Da rocambolesca e bacoca pretensão de querer ver punido o acto descrito, como se de um ultraje se tratasse, quando assistimos quase diariamente, da parte dos maiores responsáveis políticos nacionais, ao que ultrapassa aquela classificação para configurar um verdadeiro crime de traição, nem me pronuncio, mas sempre gostava de ver divulgados os custos de tão sui generis iniciativa.

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