Enquanto no
país assistimos ao desenrolar duma abominável “guerrilha” entre o governo de
Passos Coelho e o Tribunal Constitucional, o Mundo continua a mover-se… mesmo
quando isso pode parecer anacrónico.
Este
raciocínio aplica-se a muito do que está a ocorrer na mais conturbada das
regiões do Globo – o Médio Oriente – onde ocorreram (ou estão a ocorrer) processos eleitorais que merecem, dos analistas e comentadores ocidentais, opiniões
diversas em função da sua localização e das perspectivas que criam para o
Ocidente. Assim, a eleição no Egipto dum general que comandou o mais recente
golpe militar merece os maiores encómios enquanto a previsível reeleição de Bashar Al-Assad na Síria é apontada
como uma calamidade.
É claro que a eleição
do general Abdel Fattah al-Sissi
se poderá traduzir numa certa
pacificação do país (tanto mais importante quanto a débil economia egípcia
depende estruturalmente das receitas do turismo) que pouca ou nenhuma crítica tem recebido, mas saber-se «Sissi proclamado Presidente do Egipto, com 96,9% dos
votos»
é, como disse o candidato
derrotado, o nacionalista de esquerda Hamdeen Sabahi, «“um
insulto à inteligência dos egípcios”» e de toda a gente, tanto mais que o
mesmo poderá ocorrer em Damasco, com a diferença de que semelhante vitória de
Al-Assad será prontamente rotulada no Ocidente de “farsa eleitoral”.
Esta
ambivalência, que já acarretou alguns amargos de boca às potências ocidentais e
às suas diplomacias, repete o que ocorreu no início de 2006 quando o Ocidente
rejeitou a vitória eleitoral do Hamas em eleições na Palestina que redundaram
na formação de governos distintos para a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, secessionismo
que se arrastou ao longo oito longos anos até que esta semana o «Presidente da Palestina deu posse ao governo de
coligação entre a Fatah e o Hamas» e nada garante que esteja
resolvido, pois Israel e os EUA continuam apostados em identificar o Hamas com
os Irmãos Muçulmanos, movimento islâmico implantado em vários países da região
que participou activamente nas revoltas que derrubaram vários ditadores árabes,
enquanto apoiam o regime turco de Recep
Tayyip Erdogan, líder do AKP (partido islâmico da linha da Irmandade Muçulmana)
e chefe dum governo pró-NATO que se está a distinguir pela repressão dos mesmos
anseios populares que deram origem à Primavera Árabe.
Generalizadamente designada como Primavera Árabe, as revoltas
populares iniciadas em 2010 culminaram com o derrube de regimes como o tunisino
(Zine Ben Ali) e o líbio (Muammar Al-Khaddafi), tendo atingido o seu
ponto mais alto com o derrube do regime egípcio de Hosni Mubarak, em Janeiro de
2011. Na sequência desta revolta popular, em meados de 2012 e numa segunda
volta foi democraticamente eleito um presidente da Irmandade Muçulmana, Mohamed
Morsi, que dirigiu o Egipto até que a contestação a uma crescente islamização
levou ao golpe militar de Al-Sissi, fazendo com que em pouco mais de três anos
se tenha regressado ao predomínio e ao arbítrio duma estrutura militar (algo
que Morsi procurou combater) querida aos olhos dum Ocidente sempre predisposto
à desconfiança de tudo quando cheire a islamismo.
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