Acabo de ler a
crónica semanal do Prof. César das Neves no DN, que sob o título de «O
poder do preconceito» se debruça sobre o mais recente filme de Martin
Scorcese, «O Lobo de Wall Street», e fico com a sensação de ter assistido a uma
outra versão da mesma obra.
Onde César das
Neves viu a omissão das intrujices dos corretores e o excesso da «…bestialidade
dos seus tempos livres»,
além do «…preconceito generalizado de que
em Wall Street são todos aldrabões», eu vi uma clara tentativa de resumir o
que de pior tem a actividade de intermediação financeira a um quase “fait divers” personificado por um
punhado de agentes desprovidos dos mais básicos conceitos de ética e de moral.
Não partilho
igualmente da leitura feita por César das Neves quando assegura que «…seria
impossível criar e desenvolver qualquer empresa no exigente mundo de Wall
Street apenas com ignorantes gananciosos vendendo lixo e cometendo fraudes», pois não só a prova está na
história real de Jordan Belfort (há semelhança da de Michael Milken, “dealer” celebrizado nos anos 80 como o
Rei das “junk bonds”, condenado por fraude e que terá servido de modelo ao
personagem Gordon Gekko no filme Wall Street que Scorcese também dirigiu), como
na observação do que eufemisticamente designa por «…caricatura grotesca das complexas operações…», ou seja, “negócios”
como o da “limpeza” das contas públicas gregas que reputadas instituições de
Wall Street propuseram, realizaram e que lhes granjearam avultadas comissões.
É claro que não existem “lobos” em Wall
Street; só que enquanto uns, como o caricaturista norte-americano, Jeff
Danziger, vêem animais de emboscada e rapina, outros, como César das Neves,
apenas lá vislumbra uma realidade que «…exige
grande profissionalismo, honestidade e rigor»… mas isso é uma visão que
resulta apenas do seu preconceito do poder!
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