sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

FIM DA CRISE?

Para assinalar convenientemente o início da presidência semestral da Grécia, qual Ulisses regressado a Ítaca, o inenarrável Durão «Barroso anuncia fim da crise do euro».

Jactante do pretenso sucesso dos programas de assistência aplicados a alguns dos países da periferia europeia (eufemismo para designar os resgates impostos a gregos, irlandeses, portugueses, espanhóis e cipriotas), complementou aquela afirmação com a garantia de que a UE está a sair da recessão. A bitola de avaliação é a famigerada figura do “regresso aos mercados”, marco já alcançado por irlandeses e portugueses (posteriormente à declaração ficou a saber-se que «Portugal coloca 3,25 mil milhões a cinco anos, procura supera 11 mil ME») mas de discutível qualidade face ao facto de se tratar de operações sujeitas a condições particulares.

A confirmá-lo já na véspera da declaração de Durão Barroso era conhecido que a «Irlanda contrata bancos para emitir dívida a 10 anos», estratégia que seria replicada pelo governo de Lisboa e que consiste em encomendar a um conjunto de bancos a colocação da dívida; contando-se entre estes os principais actores mundiais (Goldman Sachs, Morgan Stanley, Deutsche Bank e Société Générale) e atendendo à conjugação das elevadas taxas de rentabilidade oferecidas com a reforçada garantia da intervenção financeira da “troika”, não será de estranhar o “sucesso” das operações, na linha da notícia que a «Dívida portuguesa foi das mais rentáveis» em 2013.

Mesmo para os mais ingénuos crentes na beatitude dos “mercados” talvez a declaração do fim da crise pudesse ter sido levada a sério não fosse o facto de Durão Barroso ter acrescentado que a «Comissão Europeia sempre esteve do lado da Grécia», o que para qualquer observador minimamente atento – tantas e tão claras foram os vexames impostos aos gregos – descredibiliza completamente a afirmação, remetendo-a para o rol das mistificadoras declarações que o tempo e a realidade se encarregaram de desmentir.


Isso mesmo fez já o presidente do BCE, pois «Para Draghi “é prematuro declarar vitória sobre a crise”», tanto mais que o anúncio de que «Os juros mantém-se em queda» nos mercados secundários de dívida pública tem muito mais a ver com a contínua necessidade de aplicação dos capitais (fenómeno confirmado pelas taxas a que foram realizadas as emissões irlandesa, portuguesa e até a «Espanha coloca 5,29 mil milhões pagando menos juros») que com os evidentes sinais de crescimento económico ou sequer com a devida aproximação das taxas da dívida pública à taxa de refinanciamento do sector bancário que o BCE manteve nos 0,25%.

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