Para assinalar
convenientemente o início da presidência semestral da Grécia, qual Ulisses
regressado a Ítaca, o inenarrável Durão «Barroso
anuncia fim da crise do euro».
Jactante do pretenso sucesso dos
programas de assistência aplicados a alguns dos países da periferia europeia (eufemismo
para designar os resgates impostos a gregos, irlandeses, portugueses, espanhóis
e cipriotas), complementou aquela afirmação com a garantia de que a UE está a
sair da recessão. A bitola de avaliação é a famigerada figura do “regresso aos
mercados”, marco já alcançado por irlandeses e portugueses (posteriormente à
declaração ficou a saber-se que «Portugal
coloca 3,25 mil milhões a cinco anos, procura supera 11 mil ME») mas de discutível qualidade face ao facto de se
tratar de operações sujeitas a condições particulares.
A confirmá-lo já na véspera da declaração de Durão Barroso era
conhecido que a «Irlanda
contrata bancos para emitir dívida a 10 anos», estratégia que seria replicada pelo governo de
Lisboa e que consiste em encomendar a um conjunto de bancos a colocação da
dívida; contando-se entre estes os principais actores mundiais (Goldman
Sachs, Morgan Stanley, Deutsche Bank e Société Générale) e atendendo à
conjugação das elevadas taxas de rentabilidade oferecidas com a reforçada
garantia da intervenção financeira da “troika”,
não será de estranhar o “sucesso” das operações, na linha da notícia que a «Dívida portuguesa foi das mais rentáveis» em 2013.
Mesmo para os mais ingénuos
crentes na beatitude dos “mercados” talvez a declaração do fim da crise pudesse ter sido levada a sério não fosse o facto de
Durão Barroso ter acrescentado que a «Comissão
Europeia sempre esteve do lado da Grécia», o que para qualquer observador
minimamente atento – tantas e tão claras foram os vexames impostos aos gregos –
descredibiliza completamente a afirmação, remetendo-a para o rol das mistificadoras declarações que o tempo
e a realidade se encarregaram de desmentir.
Isso mesmo fez
já o presidente do BCE, pois «Para
Draghi “é prematuro declarar vitória sobre a crise”», tanto mais que o
anúncio de que «Os juros
mantém-se em queda» nos mercados secundários de dívida pública tem muito
mais a ver com a contínua necessidade de aplicação dos capitais (fenómeno
confirmado pelas taxas a que foram realizadas as emissões irlandesa, portuguesa
e até a «Espanha
coloca 5,29 mil milhões pagando menos juros») que com os evidentes sinais
de crescimento económico ou sequer com a devida aproximação das taxas da dívida
pública à taxa de refinanciamento do sector bancário que o BCE
manteve nos 0,25%.
Sem comentários:
Enviar um comentário