sábado, 1 de fevereiro de 2014

A UCRÂNIA E A UE

A culminar quase dois meses de manifestações na Ucrânia o «Governo cede aos protestos de rua e pede demissão». Tendo como pano de fundo a contestação à suspensão da política de aproximação à UE (ver o «post» «DIVIDIDOS»), os ucranianos iniciaram um processo de contestação aberta que para já deverá dar lugar à realização de eleições antecipadas e, talvez, a uma mudança de governo; nada que garanta a satisfação dos anseios pró-europeus, quando 30% dos cerca de 45 milhões de habitantes que partilham um território equivalente ao da Península Ibérica usam o russo como primeira língua.
Mas a divisão entre os ucranianos não é apenas fruto duma situação de quase bancarrota nem da sua ascendência, antes sustentada em questões pragmáticas como a proximidade e uma dependência económica do seu poderoso vizinho.

Para complicar a mistura efervescente neste cadinho juntem-se os óbvios interesses da Rússia – não apenas os de natureza económica mas também os de origem geoestratégica (a Ucrânia é vital para ao cesso russo ao mar Negro e ao Mediterrâneo) que a levarão a tudo fazer para impedir a entrada na NATO da Ucrânia e doutros estados vizinhos - e os proverbiais subterfúgios duma UE fragilizada pela crise e permanentemente enredada nas suas próprias hesitações e na falta duma estratégia clara.


A ausência de estratégia de Bruxelas não é um fenómeno recente (desde os finais do século passado e das adesões dos países do sul europeu – Grécia, Espanha e Portugal – que o processo de alargamento tem sido determinado por interesses nebulosos e nunca objecto dum debate ou resultado duma estratégia conhecida) antes um processo de degradação da própria governança da União.

Não se estranhe pois que os aparentes desenvolvimentos e a vantagem alcançada pelos grupos pró-europeus tenham ocorrido nas vésperas duma reunião UE-Rússia que durou apenas três horas e quando o presidente russo Vladimir «Putin garante que não revê acordos se oposição chegar ao poder», numa clara afirmação de que a “pressão” continuará a exercer-se qualquer que seja o inquilino em Kiev, nem que do interior do Parlamento chegue o alerta de que «A Ucrânia “está à beirada guerra civil”, avisa ex-Presidente» Leonid Kravchuk.

Esta hipótese, talvez exagerada mas aceitável quando após a confirmação que «Parlamento aprova amnistia para manifestantes presos»  tudo é adiado com uma doença do presidente Ianukovitch, poderá nem sequer ser afastada com a antecipação das eleições tal é a proliferação de forças políticas e a sua fragilidade conceptual, perfeitamente demonstrada quando uma das principais forças da oposição, liderada pelo boxeur Vitali Klitschko, se chama Udar (Murro), sendo expectável a manutenção da situação onde «Rússia e UE continuam a medir forças na “luta” pela Ucrânia», mesmo que a última, na ausência de condições financeiras e militares, continue a fazê-lo de forma apenas formal.

Pouco referido na imprensa ocidental é o facto de existirem mais interessados na questão ucraniana que as já referidas Rússia e UE; além do velho “amigo americano”, donde chega a informação que estarão os «EUA em conversações sobre sanções para a Ucrânia», também os quatro membros do Grupo de Visegrad (aliança para a cooperação, firmada em 1991 entre a Polónia, a República Checa, a Eslováquia e a Hungria, nos capítulos económico, cultural e já estendido ao militar) já fizeram ouvir as suas preocupações, dizendo-se os «Países do Visegrado alarmados com a situação na Ucrânia» quando fontes russas (a Voz da Rússia afirma que «Vizinhos da Ucrânia preparam-se para dividir seu território») asseguram que dos lados de Bucarest já se fala numa oportunidade histórica para a Roménia recuperar os territórios da Bucovina do Norte (perdida em 1991 para a Ucrânia) e da Bessarábia do Sul.

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