A culminar
quase dois meses de manifestações na Ucrânia o «Governo
cede aos protestos de rua e pede demissão». Tendo como pano de fundo a
contestação à suspensão da política de aproximação à UE (ver o «post» «DIVIDIDOS»),
os ucranianos iniciaram um processo de contestação aberta que para já deverá
dar lugar à realização de eleições antecipadas e, talvez, a uma mudança de
governo; nada que garanta a satisfação dos anseios pró-europeus, quando 30%
dos cerca de 45 milhões de habitantes que partilham um território equivalente
ao da Península Ibérica usam o russo como primeira língua.
Mas a divisão
entre os ucranianos não é apenas fruto duma situação de quase bancarrota nem da
sua ascendência, antes sustentada em questões pragmáticas como a proximidade e
uma dependência económica do seu poderoso vizinho.
Para complicar
a mistura efervescente neste cadinho juntem-se os óbvios interesses da Rússia –
não apenas os de natureza económica mas também os de origem geoestratégica (a
Ucrânia é vital para ao cesso russo ao mar Negro e ao Mediterrâneo) que a
levarão a tudo fazer para impedir a entrada na NATO da Ucrânia e doutros
estados vizinhos - e os proverbiais subterfúgios duma UE fragilizada pela crise
e permanentemente enredada nas suas próprias hesitações e na falta duma
estratégia clara.
A ausência de
estratégia de Bruxelas não é um fenómeno recente (desde os finais do século
passado e das adesões dos países do sul europeu – Grécia, Espanha e Portugal –
que o processo de alargamento tem sido determinado por interesses nebulosos e
nunca objecto dum debate ou resultado duma estratégia conhecida) antes um
processo de degradação da própria governança da União.
Não se
estranhe pois que os aparentes desenvolvimentos e a vantagem alcançada pelos
grupos pró-europeus tenham ocorrido nas vésperas duma reunião UE-Rússia que durou
apenas três horas e quando o presidente russo Vladimir «Putin
garante que não revê acordos se oposição chegar ao poder», numa clara
afirmação de que a “pressão” continuará a exercer-se qualquer que seja o
inquilino em Kiev, nem que do interior do Parlamento chegue o alerta de que «A
Ucrânia “está à beirada guerra civil”, avisa ex-Presidente» Leonid
Kravchuk.
Esta hipótese,
talvez exagerada mas aceitável quando após a confirmação que «Parlamento aprova amnistia para manifestantes presos»
tudo é adiado com uma doença
do presidente Ianukovitch,
poderá nem sequer ser afastada com a antecipação das eleições tal é a proliferação
de forças políticas e a sua fragilidade conceptual, perfeitamente demonstrada quando
uma das principais forças da oposição, liderada pelo boxeur Vitali Klitschko,
se chama Udar (Murro), sendo expectável a manutenção da situação onde «Rússia
e UE continuam a medir forças na “luta” pela Ucrânia», mesmo que a última,
na ausência de condições financeiras e militares, continue a fazê-lo de forma apenas
formal.
Pouco referido na imprensa ocidental é o facto de existirem mais
interessados na questão ucraniana que as já referidas Rússia e UE; além do velho
“amigo americano”, donde chega a informação que estarão os «EUA em conversações sobre sanções para a Ucrânia», também os
quatro membros do Grupo de Visegrad (aliança para a cooperação, firmada em 1991
entre a Polónia, a República Checa, a Eslováquia e a Hungria, nos capítulos económico,
cultural e já estendido ao militar) já fizeram ouvir as suas preocupações,
dizendo-se os «Países
do Visegrado alarmados com a situação na Ucrânia» quando fontes
russas (a Voz da Rússia afirma que «Vizinhos
da Ucrânia preparam-se para dividir seu território») asseguram
que dos lados de Bucarest já se fala numa oportunidade
histórica para a Roménia recuperar os
territórios da Bucovina do Norte (perdida em 1991 para a Ucrânia) e da Bessarábia do Sul.
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