A notícia da
entrada de mais um membro para a Zona Euro deveria ser motivo de júbilo, sucede
porém que na realidade a «Letónia
entra no euro sem referendo e sem apoio popular», o que confirma a imagem
de degradação da situação da moeda única e do modelo de governança europeu.
Já não
restarão muitas dúvidas que o Euro vive uma crise ainda longe da resolução, nem
que as actuais elites governantes continuam alheadas da sua função de defesa
dos interesses das populações que há muito substituíram pelo culto dos
“mercados”; além do clamoroso erro de terem abdicado do poder de criação da
moeda e de, a coberto duma pretensa liberalização dos mercados, legislarem
maioritariamente em benefício dos interesses financeiros e das grandes
empresas, confirma-se o crescente divórcio da vontade popular.
A situação
agora vivida na Letónia é apenas a mais recente confirmação da estratégia de
horror ao voto popular seguida desde a assinatura do Tratado de Maastricht e da
malograda Constituição Europeia, que depois de rejeitada pelo voto popular em
França e na Holanda acabou transformada no Tratado de Lisboa e ratificada pelos
parlamentos nacionais. Há décadas que os mais variados governos europeus vêm
demonstrando um completo divórcio das populações que afirmam representar, com a
mesma leviandade com que afirmam estar a recorrer a políticas restritivas para
combaterem a crise das dívidas soberanas.
Exemplo deste
embuste foi a recente notícia de a «Dívida portuguesa foi das mais rentáveis»
no ano que agora findou, o que contrasta
com a sempre invocada dificuldade para o Governo português aceder aos
“mercados” e é ainda mais reveladora quando se fica a saber que o campeão da
rentabilidade oferecida foi a malquista Grécia.
No conjunto, a notícia do reduzido
entusiasmo popular na Letónia com a entrada na Zona e a confirmação dos grandes
“negócios” em torno das dívidas soberanas, apenas vêem confirmar a ideia que há
muito repito: a crise que atravessamos é parcialmente um embuste que está a ser
usado para a concretização doutro objectivo – aumentar a distribuição da riqueza
em benefício do factor capital e em detrimento do factor trabalho.
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