sábado, 4 de janeiro de 2014

MAIS EURO, MENOS EUROPA

A notícia da entrada de mais um membro para a Zona Euro deveria ser motivo de júbilo, sucede porém que na realidade a «Letónia entra no euro sem referendo e sem apoio popular», o que confirma a imagem de degradação da situação da moeda única e do modelo de governança europeu.

Já não restarão muitas dúvidas que o Euro vive uma crise ainda longe da resolução, nem que as actuais elites governantes continuam alheadas da sua função de defesa dos interesses das populações que há muito substituíram pelo culto dos “mercados”; além do clamoroso erro de terem abdicado do poder de criação da moeda e de, a coberto duma pretensa liberalização dos mercados, legislarem maioritariamente em benefício dos interesses financeiros e das grandes empresas, confirma-se o crescente divórcio da vontade popular.


A situação agora vivida na Letónia é apenas a mais recente confirmação da estratégia de horror ao voto popular seguida desde a assinatura do Tratado de Maastricht e da malograda Constituição Europeia, que depois de rejeitada pelo voto popular em França e na Holanda acabou transformada no Tratado de Lisboa e ratificada pelos parlamentos nacionais. Há décadas que os mais variados governos europeus vêm demonstrando um completo divórcio das populações que afirmam representar, com a mesma leviandade com que afirmam estar a recorrer a políticas restritivas para combaterem a crise das dívidas soberanas.

Exemplo deste embuste foi a recente notícia de a «Dívida portuguesa foi das mais rentáveis» no ano que agora findou, o que contrasta com a sempre invocada dificuldade para o Governo português aceder aos “mercados” e é ainda mais reveladora quando se fica a saber que o campeão da rentabilidade oferecida foi a malquista Grécia.

No conjunto, a notícia do reduzido entusiasmo popular na Letónia com a entrada na Zona e a confirmação dos grandes “negócios” em torno das dívidas soberanas, apenas vêem confirmar a ideia que há muito repito: a crise que atravessamos é parcialmente um embuste que está a ser usado para a concretização doutro objectivo – aumentar a distribuição da riqueza em benefício do factor capital e em detrimento do factor trabalho.

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