Mesmo os menos
atentos já terão notado que de há algum tempo os discursos dos principais
responsáveis governativos (com Passos Coelho e Paulo Portas à cabeça) têm em
comum os sinais do crescimento económico, com o maior destaque a ser centrado
no desempenho das exportações.
O facto do
comum dos cidadãos se confrontar diariamente com situações de desemprego, que continua
em níveis alarmantes, com uma emigração (em especial a dos jovens com elevados
níveis de formação) que regista níveis equiparados aos da década de 60 do
século passado, com a recorrente imagem do encerramento de pequenos negócios,
em nada parece afectar a qualidade dos discursos e ainda menos a convicção dos
discursantes, nem mesmo quando organismos oficiais publicam informação
contraditória.
Vem isto a
propósito do teor duma publicação do Gabinete de Estratégia e Estudos do
Ministério da Economia sobre o Comércio Internacional (Estatísticas de Bolso de Produtos Industriais por Grau de
Intensidade Tecnológica Nº 12-2013), disponível
no endereço: http://www.gee.min-economia.pt/. Publicada em meados de Dezembro (portanto
a tempo de já ter sido lida e compreendida pelos governantes) a nota
estatística detalha algumas características da Balança Comercial portuguesa,
sendo que a primeira e mais destacada das quais é a distribuição das
exportações por grau de intensidade tecnológica:
cuja análise destrói liminarmente qualquer tentativa de
entusiasmo festivo em torno daquele indicador. A simples conclusão que a par
com o crescimento das exportações se está a verificar uma clara deterioração da
qualidade dos produtos exportados revela bem o desinvestimento que o tecido
económico tem sofrido e que estamos a ser conduzidos no sentido duma especialização
em produtos com baixa incorporação de capital.
Esta tendência é ainda mais pronunciada se atentarmos na
comparação relativa aos três primeiros trimestres de 2012 e 2013 (as duas
colunas mais à direita do gráfico) onde se confirma a redução do peso dos
produtos de alta e média-alta intensidade tecnológica e o aumento do peso dos
produtos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica.
Não fosse o
facto de chegar ao domínio público alguma informação menos concordante com
aquela linha discursiva e talvez se pudesse admitir que a elite governante
viveria num mundo diferente do comum daqueles que dizem governar – nada de
particularmente preocupante, pois o conselho há dias deixado pelo líder da
oposição («"Não
viva na lua. Desça à realidade. O País de que fala não existe"»)
em nada difere do que foi aconselhado ao anterior primeiro-ministro pelos
líderes do partido que agora governa – pois o contrário significa que estes
mentem e manipulam a opinião pública de forma deliberada.
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