Abundaram nos
últimos dias notícias relacionadas com a movimentação de ex-governantes
nacionais para prestigiadas empresas ou organizações internacionais; assim, à
notícia de que o ex-ministro da economia «Álvaro
Santos Pereira vai para a OCDE» sucedeu o anúncio de que o ex-ministro das
finanças «Vítor
Gaspar candidata-se a alto cargo no FMI», culminando com o anúncio que «José
Luís Arnaut vai ser consultor da Goldman Sachs».
Esta última
revelou-se a mais controversa, não tanto pelas anteriores funções governativas
de Arnaut (ministro adjunto do primeiro-ministro com Durão Barroso e ministro
das cidades com Santana Lopes) mas principalmente pelo conhecido papel do
gabinete de advogados que integra (CMS Rui
Pena & Arnaut) no processo das privatizações, no qual ora agiu como
conselheiro do Estado ora dos compradores, e no negócio dos “swaps”.
Se os casos de
Santos Pereira e Vítor Gaspar até podem ser encarados com alguma normalidade –
recorde-se que antes de integrarem o Governo, o primeiro era professor na
Universidade Simon Fraser (Canadá) e o segundo era consultor da Comissão
Europeia –, já o de José Luís Arnaut merece ser avaliado e, convenhamos, que o
mínimo que dele se pode dizer é que é duvidoso. É duvidoso o currículo técnico
– salvo se entendermos a nomeação como contrapartida por serviços prestados –
do mesmo modo que tem sido duvidosa a sua actuação na estreita margem entre o
Poder, os negócios e a ética. O próprio (segundo
esta notícia do I) defendeu-se num canal de televisão dizendo que: «É uma grande confusão.
[…] No escritório de que sou sócio
trabalhámos em várias privatizações para os privados. É natural. Estamos num
mercado livre, E quem vê isso como uma confusão é porque é muito pequenino, não
tem dimensão e não percebeu a dimensão do mercado e o papel das pessoas no mundo
internacional, […] é bom haver
portugueses em posições internacionais».
Manipulando e
distorcendo a realidade, confundindo “mercado livre” com promiscuidade e
culminando no tradicional insulto da falta de “dimensão”, pouco faltou para
ouvirmos contar ao contrário a fábula de Flautista de Hamelin (um conto
folclórico, reescrito e popularizado pelos Irmãos Grimm) onde um rato habilidoso
e facilitador conduziria os homens probos, facto que contribui para reforçar a
ideia com que Viriato Soromenho Marques concluiu o seu artigo «Espiral
de náusea»: “A espiral recessiva
parece ter sido travada. Mas a espiral da náusea moral, essa, está ainda muito
longe de ter batido no fundo”.
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