segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2014 – LA GRANDE BOUFFE

Como habitual ao aproximar-se a conclusão de mais uma translação da Terra sucedem-se os balanços aos acontecimentos ocorridos e as promessas para os acontecimentos futuros.

Qual fantasma dos anos passados, continuamos a arrastar os “esqueletos” de todos os problemas que deixámos por resolver: os conflitos sem solução à vista, as desgraças humanas que os acompanham e agora (mais recentemente) as que a Natureza parece apostada em nos infligir enquanto persistimos sem alterar os modelos destruição e de poluição (há muito que a espécie humana mostrou ser capaz do melhor e do pior e ao desenvolvimento de processos científicos e tecnológicos que melhoraram a qualidade de vida em geral, juntámos, com a mesma naturalidade, outros que estão a tornar insuportável a vida de milhões).

Talvez insatisfeitos com o grau de confusão (e miséria alheia) gerado, ainda há quem aposte na continuidade das políticas que nos conduziram ao actual estado de coisas e quem se recuse a aceitar a imperiosa necessidade de mudar de “agulha”. Não apenas no plano ambiental, com o último arremedo de acordo em …., mas principalmente no plano político global onde os governantes ocidentais se revelam cada vez mais incapazes de entender, interpretar e actuar em consonância com as mudanças que estão em curso.

Com as economias ainda dominantes num estado letárgico, as principais moedas (dólar, libra e euro) começam a confrontar-se com rivais cada vez mais presentes, como o yuan chinês, ou em formação (2014 deverá ver nascer uma nova moeda no Médio Oriente lançada pelo Kuwait, o Qatar, o Bahrein e a Arábia Saudita), prenúncio do fim próximo duma hegemonia que no plano político registou recentes revezes como o da reaparição da Rússia no Médio Oriente e mais recentemente na questão ucraniana (com a notícia que a «Rússia paga mais que a UE para ficar com a Ucrânia»), ou a simplesmente pragmática necessidade do desanuviamento EUA/Irão.

2014 deverá continuar a assistir à deterioração da situação nos EUA, com a possível repetição de episódios como o da falência da cidade de Detroit (que após ter sido o farol maior da indústria automóvel norte-americana mas não teve meios para contrariar a ascensão dos concorrentes asiáticos), cuja economia anémica não deixará de se ressentir com o anúncio de que a «Reserva Federal dos EUA reduz programa de estímulo monetário», decisão que ao contrário do anunciado não terá sido ditada pela melhoria dos indicadores económicos mas pela necessidade de reduzir a emissão de moeda por forma a atenuar a fragilidade externa do dólar, mesmo que aparentemente os “mercados” tenham recebido muito bem a notícia (ver «Abertura dos mercados: Decisões da Fed animam mercados internacionais»).

Com a Europa dirigida por uma nomenclatura fiel aos ditames do neoliberalismo e incapaz de compreender a armadilha em que mergulhou ao criar uma vidente cisão entre as economias do norte e as do sul, mergulhada numa crise criada pelos que ainda persistem na miragem da superioridade do dólar e com a crescente fragilização deste, quem mais poderá emergir além do yuan chinês?

É certo que as hesitações do Império do Meio e o facto de vivermos uma era de mudança onde tudo parece permitido aos poderosos continuam a facilitar a vida àqueles que julgam ir-se empanturrar; mas como no fresco que nos legou Marco Ferreri (“La Grande Bouffe” é um filme realizado pelo cineasta italiano, nascido em 1928 e falecido em 1997, a par de outros como: “Touche pas à la femme blanche” ou “Ciao Maschio”) não passa afinal da encenação da sua própria decadência e extinção.


Resistirão os europeus desejosos de construir uma efectiva união dos povos à erosão geral provocada por aqueles aprendizes de feiticeiro, ou soçobrarão na voragem da mesma inépcia?

Os próximos tempos responderão à questão!

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