sábado, 8 de junho de 2013

O BILDERBERG DEMOCRATIZA-SE?

Encerra-se este fim-de-semana a sessão anual do Clube Bilderberg, o selecto “clube” que reúne a elite mundial que se propõe (segundo a sua página oficial) debater este ano os seguintes temas:

      Podem os EUA e a Europa crescer rapidamente e criar emprego?
      Emprego, direitos e dívidas
      Como a grande informação está a mudar quase tudo
      Nacionalismo e Populismo
      A política externa dos EUA
      Os desafios de África
      A guerra cibernética e a proliferação de ameaças assimétricas
      Principais tendências na pesquisa médica
      A educação online: promessa e impactos
      Política da União Europeia
      Desenvolvimentos no Médio Oriente

Para o efeito rodearam o Hotel Grove, em Watford no condado de Hertfordshire e a uns escassos 32 km de Londres, das habituais medidas de segurança que levou o DN a escrever, numa clara alusão aos meios envolvidos, que «Contribuintes poderão pagar reunião do grupo Bilderberg» e o THE GUARDIAN (um dos jornais que anualmente costuma destacar-se no acompanhamento destas reuniões) a descrevê-la assim: «A área em volta do hotel está bloqueada: os moradores têm que mostrar os seus salvo-condutos (a referência é retirada desta notícia dum jornal local, o WATFORD OBSERVER) para chegar às suas casas. É demasiado emocionante para os delegados. O CEO da Royal Dutch Shell vai sair da sua limusine exultante por passar três dias inteiros em negociações políticas com o chefe do HSBC, o presidente da Dow Chemical, os ministros das finanças europeus preferidos e os chefes da espionagem dos EUA. A conferência é o destaque do ano de cada plutocrata e assim tem sido desde 1954» quando se reúnem em locais mais ou menos luxuosos para ouvirem, outros (poucos) para serem ouvidos e um terceiro grupo para ser “reconhecido”.

Isso mesmo ficou um pouco mais claro quando o ECONÓMICO noticiou há dias que haverá «Quatro portugueses na reunião do clube Bilderberg» e o sempre muito bem informado EXPRESSO (não fosse Francisco Pinto Balsemão uma das figuras de proa do clube) a anunciar a participação de «Seguro e Portas na Bilderberg»; a participação do líder da oposição insere-se na lógica de apresentação de candidatos credíveis (honra correspondida com a notícia de que «Seguro diz que pagar o que se deve é questão de honra e rejeita perdão de dívida»), há semelhança das anteriores de José Sócrates, Pedro Santana Lopes, Durão Barroso (que agora repete na qualidade de presidente da Comissão Europeia) e António Guterres (todos candidatos confirmados a chefiar governos) ou de Ferro Rodrigues, António Costa e agora Paulo Portas (os que não alcançaram o Olimpo).

É claro que o objectivo da reunião está muito para além destas “investiduras” e o facto é que embora agora um pouco menos “secreta”, já que este ano, segundo a mesma notícia de THE GUARDIAN, «haverá muito mais "escrutínio público" sobre o Bilderberg. A pressão dos jornalistas e activistas resultou em concessões da organização: pela primeira vez em 59 anos, haverá no local uma assessoria de imprensa não oficial, composta por voluntários…», nem por isso os seus membros deixarão de continuar a influenciar, para o melhor e o pior, os destinos dos milhares de milhões de cidadãos do planeta a quem continuam a recusar o direito de fazer ouvir as opiniões e de cumprir as vontades.

Segundo informa o mesmo THE GUARDIAN, para o conseguirem (porque o custo duma organização desta natureza é directamente proporcional ao estatuto e qualidade dos participantes) beneficiam do apoio duma «…instituição de caridade registada oficialmente como a Associação Bilderberg…» que felizmente «…recebe regularmente quantias de cinco dígitos de dois gentis apoiantes dos seus benevolentes objectivos: a Goldman Sachs e a BP». Dúvidas sobre o verdeiro objectivo duma cimeira que junta a nata da finança e da indústria mundial com os seus dilectos representantes (os políticos que fazem, ou querem fazer, eleger pelas populações) e alguns jornalistas (criteriosamente seleccionados e ligados aos influentes The Economist ou do Financial Times) para ouvirem gurus como Henry Kissinger (ex-secretário de estado de Richard Nixon e Gerald Ford, membro da Comissão Trilateral) ou Robert Zoellick (ex-administrador do Goldman Sachs, ex-secretário de estado de George W Bush e ex-presidente do Banco Mundial), são tanto mais justificadas quanto é espesso o manto de silêncio que tem coberto as anteriores iniciativas.


Distantes parecem os tempos em que escrevi nos “posts” «BILDERBERG 2009» e «TENHAM MEDO... MUITO MEDO...» sobre os “segredos” que então se tentavam preservar através do elitismo dos participantes e das densas cortinas de desinformação e segurança policial que rodeavam o “clube”, adensando a ideia de que este pretenderá esconder mais do que candidamente deixa transparecer; situação que se mantém na actualidade, bastando recordar que alguns dos seus membros regulares e mais proeminentes participam noutras organizações – como a já referida Comissão Trilateral – e em “think tanks” com reconhecidos papéis interventivos na definição das grandes linhas da política mundial (como é o caso do conceituado Council on Foreign Relations), pelo que as anunciadas medidas de abertura e transparência não deverão passar de mera manobra de contra-informação.

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