É bem sabido
que a interrupção das rotinas diárias possibilita o tempo para a releitura de
temas que outras urgências levaram a subalternizar. Vem isto a propósito do
folheio de jornais com notícias tão diversas como a passagem de mais um
aniversário sobre a tomada de posse do actual governo ou a leitura de tonitruantes
cabeçalhos, como o que assegura «Passos
sem medo dos portugueses e do seu julgamento», trouxe-me há memória os
tempos dos bancos da escola primária e a inefável figura do “herói” acarinhado
pelo Estado Novo, que dava pelo nome de Geraldo Geraldes – o Sem Pavor!
Ao que rezavam
os livros obrigatórios da época, o figurão não enjeitava a mínima oportunidade
para espadeirar a torto e a direito e se se lhe terá ficado a dever a conquista
de Évora também se lhe devem creditar desaires como uma famigerada tentativa de
conquista de Badajoz e uma temerária primeira tentativa de conquista no Norte
de África onde perderia a vida.
A recordação
da figura mais ou menos histórica, que ainda hoje é lembrada na toponímia da
praça central de Évora, foi reforçada por outros cabeçalhos, como aquele que
cita Freitas do Amaral dizendo que «Situação
do país é igual à crise de 1383/85 e ao domínio filipino», referência que obrigatoriamente
recorda a forma como terminou a ocupação castelhana, quando Miguel de
Vasconcelos, o representante da coroa espanhola em Lisboa, foi defenestrado (na
realidade já se encontrava morto) no Terreiro do Paço.
Nunca é demais lembrar, como afirmou o filósofo espanhol Jorge Santayana,
que "Quem não
recorda o passado está condenado a repeti-lo" numa clara alusão à
necessidade do conhecimento actual reflectir sobre os erros passados sob pena
de reincidência.
Não segui a proposta de Freitas
do Amaral de recordar aqui o episódio do 1º de Dezembro de 1640 por simples
analogia com o facto do “defenestrado de Lisboa” ter ocupado cargos
equivalentes aos de ministro das finanças ou de primeiro-ministro nem por este
se ter destacado por uma feroz política de aumento de impostos , antes porque a
importância
da História não se fica apenas pela comparação proposta, nem se deve resumir ao
simbolismo do golpe palaciano que em 1640 devolveu a independência ao país, principalmente
no sentido que lhe deu Viriato Soromenho Marques em «Revisitar
1383» quando salientou o facto de «...tanto em 2013 como em 1383 o destino do País estar vitalmente associado à
dinâmica de reconfiguração da geografia política na Europa», a que acrescentaria ainda o sentido revolucionário
e popular atribuído àquela crise dinástica por António Borges Coelho na sua
obra: A Revolução de 1383, para concluir há semelhança de Baptista-Bastos: «Senhor:
não lhes perdoeis porque eles sabem o que fazem».
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