sexta-feira, 1 de março de 2013

SORRISO AMARGO


Conhecidos os resultados das eleições em Itália é geral o sentimento de impasse que estas ditaram, a ponto do PUBLICO asseverar que «Ninguém ganha o Senado nem a Itália».

Além da sensação de “déjà vu” que levou, por exemplo, Ricardo Costa a interrogar-se no EXPRESSO se não será a «Itália já a Grécia?», numa analogia com o ocorrido no ano passado na Grécia quando umas inconclusivas eleições levaram à realização de novo sufrágio, fica um claro sentimento de derrota das principais formações políticas quando se constata que o partido mais votado foi o neófito MoVimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, com cerca de 25,5% dos votos, pois os 25,9% que deram a vitória na Câmara dos Deputados ao Partido Democrático e a Pier Luigi Bersani resultam duma coligação com o partido Esquerda, Ecologia e Liberdade e com outras pequenas formações, e os 29,1% da segunda formação, resultam das votações no partido Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, coligado com a Liga Norte.

Se é verdade que parecem existir poucas razões para sorrisos, quer no campo de Bersani quer no de Berlusconi, no campo de Mario Monti, o líder do anterior governo de cariz tecnocrático que recebeu um claro apoio dos seus pares europeus, apenas deverão restar esgares e um ainda menor sentido de humor perante um resultado duns quase insignificantes 10,5% que lhe retiram qualquer ambição que pudesse ter tido de arbitrar o diferendo entre Bersani e Berlusconi.


Com a clara rejeição das políticas contraccionista personificadas e aplicadas por Monti, que bem justificaram que se dissesse que «Italianos votam em massa contra a austeridade», o papel de possível árbitro fica assim entregue ao movimento de Beppe Grillo e isso é ainda mais preocupante pois os seus apoiantes apresentam-se maioritariamente como contestatários ao “establishment” partidário que tem alternado na condução política da Itália e há até observadores que não deixaram de assinalar que o sucesso do MoVimento 5 Estrelas pode ter sido consequência da falta de renovação política no Partido Democrático e que se o seu líder fosse Mateo Renzi, o jovem presidente da câmara de Florença, talvez este tivesse captado boa parte daquele voto de protesto.

Desde o final da II Guerra Mundial que a Itália habituou a Europa e o Mundo a um clima de instabilidade governativa, bem expressa nos 62 governos registados nos últimos 65 anos), facto que agora até poderá constituir uma boa plataforma de trabalho para um comediante como Beppe Grillo (o homem cujo movimento promete uma vassourada na classe política tradicional) e para o seu grupo de contestatários.


O verdadeiro problema – e é isso que na realidade tanto aterroriza nos resultados destas eleições – é que a classe política não pode confiar em algo tão inconfiável como um movimento quase inorgânico, desprovido de fundamentadas linhas programáticas e cuja única razão de existência é um real sentimento de descrença nas restantes forças políticas. Beppe Grillo e os seus apoiantes podem ser vistos quase como o “buraco negro” que poderá tudo engolir à sua volta e o pior é que dele não se poderá dizer que não possui legitimidade democrática, como por cá tanto gostam de referir os apaniguados dum governo eleito sobre mentiras. Certo é que nem as aparentes boas notícias, como a de que a «Itália fecha 21012 com défice de 3%», deverão compensar a instabilidade política que o país atravessa, pois o cenário onde o presidente Giorgio «Napolitano afasta novas eleições em Itália e Bersani descarta coligação com Berlusconi» significará mais um governo de curta duração e a continuidade das políticas que estão a minar a Europa.

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