Conhecidos os
resultados das eleições em Itália é geral o sentimento de impasse que estas
ditaram, a ponto do PUBLICO asseverar que
«Ninguém
ganha o Senado nem a Itália».
Além da
sensação de “déjà vu” que levou, por
exemplo, Ricardo Costa a interrogar-se no EXPRESSO
se não será a «Itália
já a Grécia?», numa analogia com o ocorrido no ano passado na Grécia quando
umas inconclusivas eleições levaram à realização de novo sufrágio, fica um
claro sentimento de derrota das principais formações políticas quando se
constata que o partido mais votado foi o neófito MoVimento 5 Estrelas, de Beppe
Grillo, com cerca de 25,5% dos votos, pois os 25,9% que deram a vitória na
Câmara dos Deputados ao Partido Democrático e a Pier Luigi Bersani resultam
duma coligação com o partido Esquerda, Ecologia e Liberdade e
com outras pequenas formações, e os 29,1% da segunda formação, resultam das
votações no partido Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, coligado com a
Liga Norte.
Se é verdade
que parecem existir poucas razões para sorrisos, quer no campo de Bersani quer
no de Berlusconi, no campo de Mario Monti, o líder do anterior governo de cariz
tecnocrático que recebeu um claro apoio dos seus pares europeus, apenas deverão
restar esgares e um ainda menor sentido de humor perante um resultado duns
quase insignificantes 10,5% que lhe retiram qualquer ambição que pudesse ter tido
de arbitrar o diferendo entre Bersani e Berlusconi.
Com a clara
rejeição das políticas contraccionista personificadas e aplicadas por Monti, que
bem justificaram que se dissesse que «Italianos
votam em massa contra a austeridade», o papel de possível árbitro fica
assim entregue ao movimento de Beppe Grillo e isso é ainda mais preocupante
pois os seus apoiantes apresentam-se maioritariamente como contestatários ao “establishment” partidário que tem
alternado na condução política da Itália e há até observadores que não deixaram
de assinalar que o sucesso do MoVimento 5 Estrelas pode ter sido consequência
da falta de renovação política no Partido Democrático e que se o seu líder
fosse Mateo Renzi, o jovem presidente da câmara de Florença, talvez este
tivesse captado boa parte daquele voto de protesto.
Desde o final
da II Guerra Mundial que a Itália habituou a Europa e o Mundo a um clima de
instabilidade governativa, bem expressa nos 62 governos registados nos últimos
65 anos), facto que agora até poderá constituir
uma boa plataforma de trabalho para um comediante como Beppe Grillo (o homem
cujo movimento promete uma vassourada na classe política tradicional) e para o
seu grupo de contestatários.
O verdadeiro
problema – e é isso que na realidade tanto aterroriza nos resultados destas
eleições – é que a classe política não pode confiar em algo tão inconfiável
como um movimento quase inorgânico, desprovido de fundamentadas linhas
programáticas e cuja única razão de existência é um real sentimento de
descrença nas restantes forças políticas. Beppe Grillo e os seus apoiantes
podem ser vistos quase como o “buraco negro” que poderá tudo engolir à sua
volta e o pior é que dele não se poderá dizer que não possui legitimidade
democrática, como por cá tanto gostam de referir os apaniguados dum governo
eleito sobre mentiras. Certo é que nem as aparentes boas notícias, como a de
que a «Itália
fecha 21012 com défice de 3%», deverão compensar a instabilidade política
que o país atravessa, pois o cenário onde o presidente Giorgio «Napolitano
afasta novas eleições em Itália e Bersani descarta coligação com Berlusconi»
significará mais um governo de curta duração e a continuidade das políticas que estão a minar a Europa.
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