A deslocação
do presidente norte-americano ao Médio Oriente teve o óbvio efeito de fazer
regressar a região às primeiras páginas das notícias. Mesmo esquecendo o facto
da maioria das notícias referir apenas o óbvio e relegar para longe da vista os
efeitos (e os factos) acessórios, a sucessão de acontecimentos e a sua
concentração numa zona tão instável aconselham uma sua leitura integrada.
Por
isso o mais natural seria associar aquela visita de estado à agitação económica
e militar nas vizinhanças, mas o que a imprensa nos tem oferecido foram visões
parcelares, desligadas e desgarradas dos factos. Salvo a directa associação à
intervenção de Obama no pedido oficial de desculpas de Netanyahu a Erdogan (ver
no PUBLICO: «Netanyahu pede desculpas a Erdogan por ataque a
flotilha de Gaza»), ainda por causa do famigerado assalto aos
barcos que tentaram furar o bloqueio à Faixa de Gaza em 2010, pouco se falou
dos interesses judaico-americanos na crise Síria ou doutros possíveis
interesses na origem da abordagem russa à crise de Chipre.
É claro
que várias dezenas de milhares de milhões de euros depositados por interesses
russos na banca cipriota constituem razão suficiente para justificar aqueles cuidados.
Até as perspectivas de exploração do gás natural cipriota por capitais russos
(fechando o elo de fornecimento à Europa) e a eventual concorrência com a
projectada ligação submarina entre Ceyhan e Ashkelon (ver o «post» «TURISTA
INTENCIONAL») terão tido o seu peso, mas outro factor deverá estar sob
forte atenção de americanos e russos, e apesar das notícias de que a «Rússia
nega planos de abandonar base de reabastecimento na Síria», a mudança de
regime em Damasco ditará ou não o fim da base naval russa em Tartus?
Poucas
vezes referida como parte importante da velha “aliança “ entre russos e sírios
é a manutenção duma base naval da frota russa em pleno Mediterrâneo. Beneficiando
duma estreita faixa de terra com acesso ao Mediterrâneo, a Síria tem
proporcionado um ponto de projecção de força que a marinha russa não deve
querer dispensar, tanto mais que lhe assegura uma invejável proximidade às
manobras da NATO na região, sem esquecer a vizinhança com o território turco e
a rede de oleodutos que asseguram o escoamento do petróleo do Cáucaso.
Tudo razões
acrescidas para um olhar atento e integrado a notícias invariavelmente
dispersas, mas tão significativas como as que dão conta de que a «Oposição
a Assad escolheu sírio-americano para primeiro-ministro interino» (facto que
levou a VOZ DA RUSSIA a escrever que, Ghassan
Hitto, «Gerente
dos EUA se tornou primeiro-ministro da oposição síria») de pronto seguida
da notícia de que Ahmed Moaz al-Khatib, o moderado «Líder da coligação de oposição apresenta demissão» em sinal de protesto pela falta de apoio do Ocidente, apesar de sabermos que muito
recentemente o secretário de estado norte-americano, John «Kerry
foi a Bagdad pedir que o Iraque trave o envio de armas iranianas para a Síria»,
numa clara tentativa para enfraquecer as forças afectas a Assad, e de ser
público que «França
e Reino Unido querem armar rebeldes sírios, com ou sem acordo da UE»,
numa fase em que a própria situação interna da UE é muito mais que preocupante.
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