Será de
estranhar que na semana em que se assinalou o décimo aniversário da invasão
norte-americana do Iraque as atenções se tenham reorientado para aquela zona do
Mundo?
A visita
oficial (a primeira de sempre) de Obama a Israel terá sido ditada por uma
possível agudização da crise nuclear iraniana ou pelo recrudescimento da
violência na vizinha Síria (aliada tradicional do Irão), mas nunca pela velha
questão palestiniana. Se há quatro anos Obama podia ser visto pela generalidade
das populações palestinianas como possível agente de mudança no impasse
israelo-palestiniano, hoje ocupa seguramente um lugar marginal nesse capítulo,
tanto mais que «Obama
visita Israel e Cisjordânia sem um plano de paz para o Médio Oriente»,
facto que levou Thomas Friedman, o conhecido editorialista do NEW YORK TIMES, a escrever no seu artigo «Mr.
Obama goes to Israel» que “Obama pode
vir a ser o primeiro presidente em exercício a visitar Israel como turista”.
Conhecida a
fraca simpatia de Netanyahu por Obama (não esqueçamos o público apoio à
candidatura de Mitt Romney) e excluída a que deveria ser a principal razão para
este encontro, há quem nele anteveja uma cimeira de guerra, para cuja
justificação poderá não bastar a agudização da crise síria, mas considerando a existência
da questão iraniana e a crescente pressão dos grupos próximos de Israel, que
justificarão o anúncio de que «Obama
confirma” aliança eterna” à chegada a Israel» e pode já estar a frutificar
em declarações como a de que a «Decisão
sobre o ataque ao Irão é apenas de Israel», ou esta não passar afinal dum
alijar de responsabilidades num eventual ataque preventivo israelita.
A posição
americana sobre qualquer das três questões já afloradas, o conflito
israelo-palestiniano, a situação na Síria ou a questão nuclear iraniana, tem
ainda que ser entendida à luz da sua recente reorientação energética; não é
pois de estranhar que numa fase em que os EUA estão empenhados em alcançar a
auto-suficiência energética, logo numa redução drástica da sua dependência das
fontes de hidrocarbonetos do Médio Oriente, a sua posição relativamente àquela
região estratégica registe alguma quebra de interesse. Nada que deva preocupar
de sobremaneira os amigos israelitas, pois o maior distanciamento dos
americanos pode afinal constituir a vantagem decisiva que aqueles esperam e
traduzir-se em apoio tácito à política de beligerância tão do agrado dos
falcões do Likud (partido conservador israelita, liderado pelo
primeiro-ministro Netanyahu).
Pela inversa,
a redesenhada reorientação energética dos EUA pode abrir novas perspectivas de
“negócios” numa região e numa “commodity”
que continuam a ser estratégicos para a maioria dos estados com ambições
geopolíticas – sem esquecer o importante projecto de ligação submarina ao largo
de Chipre, entre o oleodutos azeri-turco de Baku-Tbilisi-Ceyhan e o israelita
de Ashkelon-Eilat (ver a propósito os “posts” «A
REALIDADE ALÉM DAQUILO QUE VEMOS», «DUBITANDO
AD VERITATEM PARVENIMUS» e «O
CARROSSEL SÍRIO») –, facto que ajuda a explicar o
anunciado sucesso diplomático da deslocação de Obama através do anúncio de que
«Netanyahu pede desculpas a Erdogan por ataque a
flotilha de Gaza» enquanto aumenta a importância dos diferentes
conflitos regionais (activos e latentes) e nos remete de imediato de volta à
crise síria e à controversa crise cipriota, objectos dos “posts” seguintes.
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