A trilogia Chipre-Palestina-Síria e os interesses que entre ela se movem, não ficariam
completos sem uma referência ao seu quarto lado: a Turquia.
No caso da
Turquia movem-se mais que os meros interesses económicos directamente ligados à
exploração e distribuição do petróleo, já que este país acalenta manifestos
interesses hegemónicos na região (e até no interior da “nação islâmica”,
hegemonia que disputa em ambos os casos com o Irão) e mantém há décadas um
diferendo com a Grécia sobre a ilha de Chipre a pretexto duma comunidade turca que
a ONU e a comunidade internacional não reconhecem.
A existência
deste diferendo, que tem sido um dos entraves da adesão turca à UE, não obstou
à sua adesão à NATO, organização para a qual terão tido maior importância a sua
localização estratégica e o peso regional duma Turquia moderada e
ocidentalizada.
Razões de
natureza estratégica ditam há muito a apetência pelo controlo da ilha (mais um
factor para acirrar a disputa entre gregos e turcos), facto que ditou a
permanência de duas bases militares britânicas após a independência concedida
em 1960, e explicam a forma como a imprensa noticiou o potencial envolvimento
da Rússia na crise financeira cipriota.
De tudo isto o
que afinal transparece deste imbróglio euro-cipriota é que a UE continua a
revelar-se incapaz de gizar e aplicar uma estratégia integrada e exequível para
o conjunto dos estados-membros, continuando os seus líderes a revelar a
incompetência que já demonstraram noutras ocasiões, ou, nas palavras de Adriano
Moreira (ver o «Mal
Europeu»), à Europa «…falta um
conceito estratégico que tradicionalmente incluiu um inimigo a abater. […] O mal europeu exige uma cuidadosa e urgente
meditação sobre um conceito estratégico que lhe falta, que não pode ser feita
por técnicos que não representam os povos, que exige não perder a memória
histórica, para enfrentar um mundo novo em formação, de definição ainda
incerta, com o risco de não intervir com a sua voz própria no futuro global.»
Será então de estranhar que a crise
sistémica (económica e financeira) tenha evoluído rapidamente para uma crise
social e evidenciado uma perigosa crise política à qual é cada vez seja mais
frequente associar a necessidade do regresso ao modelo de construção duma
Europa dos Povos (em contraposição à actual Europa das elites) onde as
políticas sirvam o interesse geral e não os interesses instalados que
converteram a Democracia numa verdadeira Oligarquia.
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