A crise síria
conheceu no passado fim-de-semana um novo desenvolvimento com o anúncio em
Damasco duma proposta do regime para pôr termo ao actual conflito,
imediatamente seguida da notícia que a «Oposição
síria rejeita “solução política “ de Assad», tanto mais que nesta cresce a
convicção numa vitória militar próxima.
É claro que quando
«Assad
acusa inimigos de serem “fantoches do Ocidente”», subordinando uma proposta
de negociação com a oposição e a elaboração duma nova constituição ao
cessar-fogo e ao fim do apoio ocidental às facções armadas, não ignora que está
a apresentar uma proposta quase irrealizável. A confirmá-lo está a pronta reacção
do Departamento de Estado dos EUA afirmando que a «Solução
de Assad está “desligada da realidade”» enquanto repetia o apelo à demissão
do presidente sírio.
O agravamento
da crise e o aumento do sofrimento das populações, consequência imediata da
escalada dos confrontos, continua a ser a menor das preocupações de ambas as
partes. Embora no Ocidente não se perca a menor oportunidade de fazer desfilar
pelos noticiários televisivos as imagens de morte e destruição na Síria
(invariavelmente atribuídas a acções do exército sírio) a opção por uma solução
que apenas contempla interesses imediatistas – derrube de Bashar Al-Assad e
enfraquecimento da influência iraniana na região – revelar-se-á catastrófica a
prazo.
Por mera
estratégia imediatista, o Ocidente e os seus aliados árabes locais insistem
numa rápida substituição de Bashar Al-Assad esquecendo não apenas os mais
recentes desenvolvimentos no processo da chamada “Primavera Árabe”, mas
principalmente as lições da História; assim, o Ocidente em geral e a Europa em
particular, no afã de reduzirem a influência iraniana esquecem que a
organização político-administrativa da região foi “desenhada” entre as duas
guerras no conforto dos gabinetes das grandes potências e no mais completo
desprezo pelos interesses e características das populações locais, não sendo
pois de estranhar a dificuldade hoje acrescida para a constituição de
alternativas sólidas e credíveis aos regimes autoritários que têm assegurado a
estabilidade social e política de territórios onde proliferam interesses
políticos, étnicos e religiosos muito diversificados.
A estratégia,
digna dum elefante numa loja de porcelanas, implementada pelos EUA com as invasões
do Afeganistão e do Iraque e continuada no apoio mais ou menos activo à
“Primavera Árabe”, redundará no caso da Síria na substituição do regime alauita
por outro de matriz sunita que, mais cedo que tarde, originará um problema de
perseguição às diversas minorias que integram o intrincado xadrez
étnico-religioso da região, no qual se incluem curdos, turcos, arménios, drusos,
xiitas (de que os alauitas são um ramo) e cristãos ortodoxos.
A queda de
Assad e uma mais que provável subida ao poder da facção wahabita (a mais
radical e melhor organizada dentro da maioria sunita) dará origem a notícias de
novas perseguições no território sírio e então veremos se o Ocidente reagirá
com a mesma veemência e empenhamento que o actualmente usado contra os
alauitas.
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