quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

VIOLÊNCIA SÍRIA


A crise síria conheceu no passado fim-de-semana um novo desenvolvimento com o anúncio em Damasco duma proposta do regime para pôr termo ao actual conflito, imediatamente seguida da notícia que a «Oposição síria rejeita “solução política “ de Assad», tanto mais que nesta cresce a convicção numa vitória militar próxima.

É claro que quando «Assad acusa inimigos de serem “fantoches do Ocidente”», subordinando uma proposta de negociação com a oposição e a elaboração duma nova constituição ao cessar-fogo e ao fim do apoio ocidental às facções armadas, não ignora que está a apresentar uma proposta quase irrealizável. A confirmá-lo está a pronta reacção do Departamento de Estado dos EUA afirmando que a «Solução de Assad está “desligada da realidade”» enquanto repetia o apelo à demissão do presidente sírio.

O agravamento da crise e o aumento do sofrimento das populações, consequência imediata da escalada dos confrontos, continua a ser a menor das preocupações de ambas as partes. Embora no Ocidente não se perca a menor oportunidade de fazer desfilar pelos noticiários televisivos as imagens de morte e destruição na Síria (invariavelmente atribuídas a acções do exército sírio) a opção por uma solução que apenas contempla interesses imediatistas – derrube de Bashar Al-Assad e enfraquecimento da influência iraniana na região – revelar-se-á catastrófica a prazo.


Por mera estratégia imediatista, o Ocidente e os seus aliados árabes locais insistem numa rápida substituição de Bashar Al-Assad esquecendo não apenas os mais recentes desenvolvimentos no processo da chamada “Primavera Árabe”, mas principalmente as lições da História; assim, o Ocidente em geral e a Europa em particular, no afã de reduzirem a influência iraniana esquecem que a organização político-administrativa da região foi “desenhada” entre as duas guerras no conforto dos gabinetes das grandes potências e no mais completo desprezo pelos interesses e características das populações locais, não sendo pois de estranhar a dificuldade hoje acrescida para a constituição de alternativas sólidas e credíveis aos regimes autoritários que têm assegurado a estabilidade social e política de territórios onde proliferam interesses políticos, étnicos e religiosos muito diversificados.

A estratégia, digna dum elefante numa loja de porcelanas, implementada pelos EUA com as invasões do Afeganistão e do Iraque e continuada no apoio mais ou menos activo à “Primavera Árabe”, redundará no caso da Síria na substituição do regime alauita por outro de matriz sunita que, mais cedo que tarde, originará um problema de perseguição às diversas minorias que integram o intrincado xadrez étnico-religioso da região, no qual se incluem curdos, turcos, arménios, drusos, xiitas (de que os alauitas são um ramo) e cristãos ortodoxos.

A queda de Assad e uma mais que provável subida ao poder da facção wahabita (a mais radical e melhor organizada dentro da maioria sunita) dará origem a notícias de novas perseguições no território sírio e então veremos se o Ocidente reagirá com a mesma veemência e empenhamento que o actualmente usado contra os alauitas.

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