A divulgação
dum relatório do FMI, intitulado «RETHINKING THE STATE» (disponível apenas em inglês),
teve a óbvia consequência de ter morto à nascença o debate sobre a reforma do
Estado – se é que na verdade o Governo alguma vez o tencionou realizar – pois
este passou a esconder-se atrás de vontades externas e reduziu-se a um mero
processo de redução de gastos.
Para folclore
ou não (note-se que até o ex-presidente da CIP «Francisco
van Zeller acredita que Governo mandou publicar relatório do FMI»),
registe-se que até «Membros
do Governo desentendem-se sobre relatório do FMI», com o centrista Mota
Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, a afirmar publicamente
que o «Relatório
do FMI tem “pressupostos errados”» e o secretário de estado Adjunto do
Primeiro-Ministro, Carlos Moedas, a declarar numa conferência de imprensa
convocada após a sua divulgação que este «Relatório
é muito bem feito e envolveu consultas ao Governo», opinião tanto mais
abalizada quanto na mesma conferência de imprensa assegurou (segundo
esta notícia do ECONÓMICO) que «…o
Executivo só hoje recebeu a versão final do documento…».
Mesmo sem as
polémicas entre centristas e sociais-democratas, de que regularmente nos é dado
conhecimento, não é difícil inserir mais este episódio na já usual estratégia
terrorista de Passos Coelho & Associados; acobardado atrás do escudo da “troika”, confortado no respaldo da
“tecnicidade” dos estudos do FMI (recorde-se a reputada fiabilidade dos modelos
econométricos e o “flop” da
estimativa dos multiplicadores fiscais, recentemente “confessada” por Olivier
Blanchard, o economista-chefe do FMI, noutro relatório denominado «Growth Forecast
Errors and Fiscal Multipliers») e de
verdades absolutas que não conseguem escamotear que feitas as contas às
propostas dos “especialistas” do FMI os «Cortes
valem mais do triplo do pedido pela troika», como escreveu o I, o actual governo prepara-se para aplicar
nova machadada naqueles que têm sido os seus alvos de eleição: os assalariados
(em especial os da função pública) e os reformados.
Embrulhado
no melhor economês, o que na realidade ressalta deste último estudo do FMI é
que continuará por realizar qualquer esforço de redução nos gastos intermédios
do Estado (entre os quais se contam os famosos e principescamente remunerados
trabalhos de consultoria e acessória técnica, as adjudicações directas e as
comprovadamente duvidosas transferências ao abrigo das parcerias
público-privadas) para novamente fazer recair os custos sobre os alvos do
costume.
A
constante denúncia dos pressupostos e dos objectivos reais dos que ainda
insistem em defender a justeza das políticas que a pretexto de combater uma
crise económica mais não têm feito que degradar as condições de vida da maioria
dos cidadãos e que a aplicarem-se mais estas agora propostas pelo FMI apenas
aumentarão o evidente abuso que vem sendo praticado, pode e deve ser
consubstanciado em mais que na simples denúncia de muitos dos erros, desvios, contradições,
lapsos ou manipulação que o relatório do FMI comporta. O estudo e proposta de
alternativas constitui um importante contributo para uma melhor compreensão do
alcance das propostas oficiais e é isso mesmo o que se propõem o promotores de
iniciativas como a Auditoria Cidadã à
Dívida que realizará no dia 19 o seu 1º Encontro Nacional, sob o lema
“Crises não Pagam dívidas” e no qual serão apresentadas as conclusões do primeiro
ano de trabalho e debatidas as orientações para a sua continuação.
Esta
iniciativa, como outras já referidas em “posts” anteriores (caso da Alternativa
Democrática) constituem sinais da existência de alternativas às políticas
oficiais e da vitalidade popular, mesmo quando a comunicação social persiste em
lhes atribuir pouca ou nenhuma visibilidade e tudo a sua actividade se resume
quase à difusão do discurso oficial.
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