Depois de
termos ouvido meses a fio a ladainha governativa de que «Não
pediremos mais tempo nem mais dinheiro», isto porque a estratégia
governativa era a correcta e as políticas de austeridade (leia-se a política de
redução de salários, pensões e prestações sociais, porque o resto da despesa
pública pouco ou nada tem sido revista) estavam a dar resultados, eis que fomos
surpreendidos com a notícia de que durante a última reunião do Eurogrupo,
concertado com a Irlanda, «Portugal
pediu alargamento do prazo do empréstimo» e que aquele «Eurogrupo
vai “estudar problemas” potenciais de aumento dos prazos dos empréstimos a
Portugal». No caso concreto, da tranche de 26 mil milhões suportada pelo
FEEF, pois os 26 mil milhões suportados pelo MEEF serão objecto de idêntico
pedido nos próximos dias e sobre os restantes 26 mil milhões suportados pelo
FMI nada foi adiantado.
Não
menos interessante que a confirmação que afinal sempre seria necessário rever
os prazos de maturidade dos financiamentos, é a constatação que esta iniciativa
apenas ocorre «…para
evitar "picos de refinanciamento" quando o país regressar aos
mercados» (Vitor
Gaspar na notícia do EXPRESSO «Portugal pede mais tempo para pagar à troika») mesmo quando ainda se
ignora se a alteração comportará ou não agravamento nos juros. Por outras
palavras e para que não restem dúvidas sobre quais os interesses que o actual
Governo serve e protege, o próprio «
Logo que
conhecida a “novidade” foram auscultados os opinantes do costume e assim,
lesto, o DINHEIRO
VIVO transcreveu a opinião de Medina Carreira de que «“isto não é um acordo de perdão” […apenas…] “ganhamos
mais tempo para arrumar a casa”, mas isto pode não significar mais dinheiro
para a economia, já que “o mesmo dinheiro
vai sair mais tarde”» (asserção apenas verdadeira para a amortização de
capital, já que os juros aumentarão mesmo sem penalização); já Silva Lopes começou
por lembrar «…que a diferença será mínima e que “não é por ganharmos mais tempo
que vamos ter menos austeridade” acrescentando que «…“se houvesse um aumento do
prazo para pagar e ao mesmo tempo uma suspensão dos juros era muito mais
favorável porque aí sim a economia poderia receber maior financiamento”», o que
acaba por confirmar que a actuação correcta é a de exigir uma renegociação que
inclua prazos, montantes e taxa de juro, da dívida.
Nesse mesmo dia o PUBLICO
escrevia que «Portugal
prepara emissão de dívida a cinco anos» enquanto o EXPRESSO
assegurava que «Portugal
tem que financiar 110,6 milhões entre 2014 e 2016», acentuando assim a
ideia de que estamos a ser governados em benefício alheio, pois o famigerado
regresso aos mercados não ocorre para colmatar necessidades próprias. Isso mesmo
foi hoje confirmado quando se começou a noticiar o sucesso da operação, como o fez
o ECONÓMICO, dizendo que a «Procura
rasga os 10 mil milhões, juro deve ficar abaixo de 5%», como se pagar um
juro 40% superior ao cobrado pela “troika”
(a taxa média do empréstimo ao abrigo do PAEF é da ordem dos 3,5%, valor que quando
comparado com a taxa de 0,75% a que o BCE financia os compradores da dívida
pode ser qualificado de agiota) fosse em quaisquer circunstâncias um bom sinal
para a economia portuguesa.
É claro que ainda mal se tinha iniciado o processo de
operação sindicada (o regresso aos mercados não se fez segundo o modelo do
leilão mas antes através dum duma operação previamente negociada) e já se
faziam ouvir as primeiras loas à excelência e à visão do ministro das finanças
(na edição de ontem do PUBLICO, Manuel Carvalho
concluía assim o seu artigo «O
dito, o não dito e o reiterado»: «Critique-se o ministro por alegadamente estar a
destruir a economia ou por ser insensível aos custos materiais e humanos da
austeridade. Pode-se até sublinhar que o prazo para o ajustamento, que exige
sacrifícios aos cidadãos em nome do cumprimento do défice, não sofreu qualquer
discussão ou pedido de renegociação. No que se refere à crucial necessidade de
conquistar credibilidade internacional para promover um regresso de Portugal
aos mercados, porém, Gaspar continua com a sua ficha técnica praticamente
imaculada»), continuando sempre por aludir aos investidores
em dívida pública, os verdadeiros beneficiados neste processo, que a julgar por
este resultado devem concordar a 100% quando lêem que «Ribeiro
e Castro diz que regresso aos mercados foi “movimento de mestre” de Gaspar».
Enquanto os
meios de comunicação divulgam as loas e os aplausos dos investidores e
especuladores nos mercados de capitais e silenciam as suas mais óbvias
consequências, traduzidas num encarecimento do serviço da dívida por via dos
juros mais elevados e num aumento do endividamento público (precisamente no
mesmo dia em que é noticiado que a «Dívida
pública portuguesa é a 3ª mais alta da UE», tendo atingido 120% do PIB no
3º trimestre de 2012), escapando apenas uma referência quase humorística quando
se lê que o banco holandês «ING
diz que emissão de Portugal coloca pressão sobre agências de "rating"»;
como se isso tivesse qualquer efeito prático sobre a origem do problema –
desadequação do modelo europeu de financiamento público que obriga os
estados-membros a financiarem-se junto do sector financeiro em lugar do BCE –
ou sobre a persistente dilação na solução: criação dum mecanismo de política
orçamental e fiscal comum no seio da Zona Euro e a conversão do BCE no
financiador dos défices públicos.
Até lá... continuamos, como ou sem “regresso aos mercados”, sem saber onde ficamos.
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