sexta-feira, 16 de novembro de 2007

ENREDOS OU TEIAS?

Apesar de não haver dia que um outro meio de comunicação não refira a polémica construção do NAL, estratégia que pode bem constituir um meio para “cansar” a opinião pública e na qual não quero embarcar, não posso deixar passar em claro o que escreveu António Vitorino na sua habitual crónica semanal no DIÁRIO DE NOTÍCIAS.

Ciente do peso institucional que lhe conferirá a sua posição de comentador nacional (figura inventada por Marcelo Rebelo de Sousa após as fracassadas tentativas de construção de uma carreira política e autárquica), com presença semanal nos écrans de televisão e sustentado no seu currículo de ex-ministro, vem novamente António Vitorino abordar aquela questão. Fá-lo de forma hierática como que querendo convencer os seus leitores que nenhum interesse particular o move, chegando mesmo a referir a necessidade de fazer acompanhar os processos de decisão política de avaliações independentes, quando escreve que «[e]m Portugal não existe a tradição, como existe, por exemplo, no Reino Unido, de constituição de comissões independentes de avaliação dos factos e de identificação das opções para resolver um problema ou tomar uma decisão. A ausência dessa tradição pode explicar-se pela dificuldade de constituir comissões que sejam reconhecidamente independentes. Mas essa dificuldade não dispensa a necessidade de alicerçar a legitimidade de uma decisão numa avaliação dos factos susceptível de ser aceite por todos os decisores políticos»

Como jurista e cultivador da dialéctica própria de qualquer processo negocial, António Vitorino, nem sequer esquece a vertente de aconselhamento quando lembra que «...nenhuma decisão política pode prescindir de se estribar numa valoração da realidade fáctica sobre que incide e em relação à qual vai agir» mas rapidamente abandona o cultivo de hipérboles e parábolas para colocar sob a mira os seus verdadeiros alvos: «...aqueles que entendiam que era desnecessário enveredar pela construção de um novo aeroporto internacional em Lisboa».

Afinal António Vitorino sempre tem uma posição e algum interesse na matéria – é um dos que entende que a construção do NAL é algo que se pode identificar com um desígnio nacional – tanto que confunde o “silêncio” imposto pelos meios de comunicação com um processo de aceitação tácita.

Se muitos se mostram satisfeitos com o simples facto de ter surgido uma alternativa à construção de um faraónico aeroporto na Ota e que esta seja um desnecessário aeroporto em Alcochete, outros tantos como eu mantém intactas as dúvidas iniciais porque continuam à espera de ver cabalmente justificada a necessidade de uma nova infraestrutura. Este é o primeiro passo indispensável ao início do debate. Caso se comprove aquela necessidade deverá então dar-se início ao debate de uma segunda questão: que tipo de aeroporto necessitaremos na realidade?

Um novo e grande aeroporto internacional ou apenas um que complemente o actual? Por último, e em função desta opção se deverá dar início ao processo de escolha da sua futura localização.

Para não variar quase tudo tem sido feito ao contrário. Desde uma polémica opção pela construção de uma gigantesca infraestrutura, decida há décadas e sem se ter em conta as novas realidades no sector dos transportes, até à escolha da sua localização em função de uma futura rede de comboios de alta velocidade cujo desenho me parece desaconselhável para a dimensão e falta de meios financeiros do país.

Por tudo isto e agora reforçado pela leitura do artigo de António Vitorino, estou cada vez mais convencido que a intenção de construção de um NAL não é apenas uma manifestação pacóvia de mais um governante nacional que quer ficar recordado na História em associação com um qualquer Campeonato da Europa de Futebol e os dez estádios construídos de raiz, uma Exposição Internacional, um Centro Cultural, a adesão à CEE, a Exposição do Mundo Português, um Convento de Mafra ou um Mosteiro do Jerónimos, o que realmente estará por detrás de toda esta movimentação é o favorecimento a uma plêiade de especuladores que continuam a laboriosamente tecer a teia do nosso subdesenvolvimento.

Por detrás da pobreza de espírito de quem quis e continua a querer ser reconhecido pelas obras de betão, em detrimento do bem-estar dos seus contemporâneos, sempre estão os que se aproveitam da pequenez daqueles e dos incautos que julgam ser todos os outros.

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