quarta-feira, 21 de novembro de 2007

JUVENTUDE OU LEVIANDADE

Quando estão prestes a concluir-se três meses sobre a célebre declaração do jovem professor de Princeton, Ricardo Reis, ao DIÁRIO ECONÓMICO - “Num mês não se falará nesta crise do crédito” – a propósito da crise do “subprime” continuam a avolumar-se os sinais que a crise está para durar e é crescente o número de especialistas que em declarações avulsas vão confirmando este cenário e até antevendo um possível agravamento.

É nesta linha que se pode incluir a entrevista que o EXPRESSO realizou ao veterano Jagdish Bhagwatti[1] quando este, a propósito da pergunta se a crise do “subprime” já acabou, afirma: «Não, de maneira nenhuma. Já alterou muitas realidades na economia. Há quem tenha de vender casas por um quinto do seu valor, mas há os restantes que compram essas casas beneficiando bastante a sua situação patrimonial. Temos de fazer contas a essas duas realidades. À dos que perdem e à dos que ganham. É verdade que os receios de uma recessão podem agravar o clima económico, de forma talvez exagerada. Os investidores retraem-se e os consumidores também. Mas hoje nos EUA há mais pessoas a comprar casas porque os preços caíram. Tudo é dinâmico. Por isso, acredito que as hipóteses sobre uma recessão nos EUA são 50/50», contrariando abertamente as “teses” dos especialistas que nos últimos tempos têm tentado escamotear a dura realidade de uma economia que se julgava acima de todas as outras e de todos os problemas.

Mesmo que se procure inserir as declarações mais optimistas entre o grupo dos que defendem a imperiosa necessidade de salvaguardar a confiança dos mercados (como se os mercados fossem uma entidade asséptica e sem a mínima ligação com a economia real) é inegável que essas vozes mais optimistas estão a confrontar-se inevitavelmente com o cenário que analistas como os do LEAP – Laboratoire Européen d’Anticipation Politique já anunciavam em finais do ano passado[2].

Ainda haverá dúvidas quanto à natureza da crise que os EUA atravessam?

Desde que em finais de Agosto escrevi o post «CRISE? QUAL CRISE...» que não têm parado de crescer os sinais de que a crise apenas terá começado, pelo que me parece perfeitamente lógico reafirmar o que então disse e preparar tempos ainda mais difíceis, mesmo que essa não seja uma posição politicamente correcta, porque prefiro engrossar as fileiras dos “velhos do Restelo” a poder ser apontado como mais um dos (novos ou velhos) que levianamente esperam que tudo corra pelo melhor ou que o mercado se encarregue de tudo equilibrar.

Mas como nem tudo é negativo e é durante os períodos de maiores dificuldades que costumam surgir alguns grandes avanços teóricos, parece-me de saudar iniciativas como a há dias apresentada por uma figura de topo de um ministério indiano, que propôs uma reforma do mercado do petróleo mediante a eliminação da negociação de contratos a prazo sobre aquela mercadoria, como forma de eliminar a especulação que está a provocar a subida do respectivo preço[3].
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[1] Professor de economia, de origem indiana, formado em Cambridge e com um PhD pelo Massachusetts Institute of Technology, é actualmente professor de economia na Universidade de Columbia; o seu mais recente título académico é um doutoramento “honoris causa” atribuído pela Universidade Nova de Lisboa. Além do seu trabalho enquanto docente foi conselheiro de organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio, o GATT – General Agreemente on Tariffs and Trade e é autor de diversos livros onde defende os princípios e benefícios do comércio livre e da globalização.
[2] Entre outros ver este artigo datado de Dezembro de 2006.
[3] Ver a notícia do COURRIER INTERNATIONAL e já agora o que escrevi aqui sobre a mistificação do preço do petróleo.

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