quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O OGE E AS CONTRADIÇÕES DE BRUXELAS

Conhecido o esboço do Orçamento para 2016, que foi enviado a Bruxelas pelo governo de António Costa e previamente anunciado como intenção de reverter o empobrecimento, de pronto se sucederam os comentários e as reacções de natureza política (com especial destaque para a da futura líder do CDS que não hesitou em classificar o documento como “ficção” digna de um “Óscar”), merecendo especial destaque a notícia que o «Conselho das Finanças Públicas diz que previsões do OE são “pouco prudentes”» e o agora conhecido anúncio de que «Bruxelas tem dúvidas sobre proposta de Orçamento», prontamente transformada num happening político de consequências fatais.


Também entre as reputadíssimas agências de rating se destacou uma reacção onde a «Moody’s diz que esboço do OE/2016 é optimista e repete erros do passado» ou a «Fitch avisa que Orçamento do Estado 'pode revelar-se irrealista'», preferindo o JORNAL DE NEGÓCIOS destacar (vá-se lá saber porquê...) que a «Fitch ameaça descer "rating" de Portugal se Costa falhar redução do défice».

É evidente que o exercício de elaboração de qualquer orçamento é sempre um delicado exercício de equilíbrio entre o desejável e o realizável e que a construção de qualquer cenário previsional de natureza macroeconómica chocará sempre com múltiplos e divergentes interesses e desejos, pelo que no caso deste orçamento nem sequer se pode considerar espantoso ou preocupante que de forma global se diga que as «Agências de rating desconfiam do OE2016». Preocupante, do ponto de vista de quem afirmou que este documento assinalaria uma mudança do paradigma governativo, poderia ser o anúncio de que «Bruxelas tem dúvidas sobre proposta de Orçamento», se António Costa não demonstrar a capacidade para fazer sentir o seu conhecimento sobre o real valor das críticas de Bruxelas.

É por demais evidente que, como escreveu o sempre influente EXPRESSO, temos um «Governo entre a pressão de Bruxelas e dos partidos mais à esquerda», mas é igualmente conhecida a histórica fragilidade das ameaças comunitárias e, principalmente, a sua mais que evidente duplicidade em tantas e tantas outras situações. Isto mesmo foi esta semana objecto de confirmação num relatório do Tribunal de Contas Europeu que concluiu que a «Comissão Europeia não estava preparada para primeiros resgates» e, pior, que «Houve impreparação e inconsistência nos resgates».

A tonitruante notícia que estará o «OE em risco de ser considerado em “sério incumprimento” do Pacto de Estabilidade» - explicada no seu interior que o grande obstáculo é o não cumprimento duma famigerada recomendação de redução do défice de 0,6% (o documento elaborado pela equipa de Mário Centeno prevê apenas uma redução de 0,2%) – deverá resolver-se com mais algum tempo de “negociações” entre Lisboa e Bruxelas onde, espero, que os primeiros façam sentir o “peso” das suas opções face às contradições dos segundos.

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