Considerando
os desenvolvimentos na região (como um pouco por todo o lado), poderá
considerar-se espantosa a notícia que foram «Detidos
21 intelectuais na Turquia por terem assinado petição pela paz»?
Alguém minimamente informado
ainda alimenta qualquer tipo de dúvida sobre a implantação dum regime
autoritário na Turquia? É que não basta realizar eleições (repetindo-as quando
os resultados não agradam) para considerar o sistema como democrático.
A situação na Turquia é disso um
claro exemplo, agora que «Erdogan
declara guerra aos signatários de uma petição pela paz».
Desde a subida ao poder do AKP (Adalet ve Kalkınma Partisi ou Partido da Justiça e
Desenvolvimento) em 2002, que na sociedade
turca se têm acumulado os sinais de islamização e de autoritarismo, factos que
não têm impedido o contínuo apoio de EUA e UE.
Não bastando a forma como o
ex-primeiro-ministro e actual presidente, Recep Tayyip Erdogan, alcançou o
poder, em 2003, através duma eleição intercalar e depois duma alteração
legislativa que desagravou uma sentença judicial que em 1999 o condenou por
incitamento à violência e ao ódio religioso, eis que desde então se têm
acumulado as evidências de práticas cada vez menos democráticas e que agora
culminam com estas detenções por mero delito de opinião.
O que agora enfureceu Erdogan e o
seu AKP foi apenas um documento onde um conjunto de personalidades, turcas e
estrangeiras, apelam ao fim das acções militares turcas contra o PKK (Partido
dos Trabalhadores do Curdistão) e o regresso às negociações iniciadas em 2012.
Este episódio insere-se no realinhamento do regime turco com as posições
norte-americanas de combate ao ISIS e que se traduziu num conjunto de acções
militares, anunciadas contra aquele grupo islamita radical mas que no essencial
têm consistido em bombardeamentos sobre as forças curdas que combatem o ISIS na
Síria.
Esta duplicidade turca, traduzida
em declarações oficias contra o ISIS e os seus associados da Frente al-Nusra
enquanto mantém no terreno do conflito colaboração com os mesmos e aproveita a
intrincada relação de forças para reduzir o poder do PKK turco, só não é
evidente à luz dos especiais interesses de Washington e Bruxelas, cujos
governos fazem vista grossa até a esta despudorada actuação de Erdogan e dos
seus correlegionários.
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