sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

DELITO DE OPINIÃO

Considerando os desenvolvimentos na região (como um pouco por todo o lado), poderá considerar-se espantosa a notícia que foram «Detidos 21 intelectuais na Turquia por terem assinado petição pela paz»?

Alguém minimamente informado ainda alimenta qualquer tipo de dúvida sobre a implantação dum regime autoritário na Turquia? É que não basta realizar eleições (repetindo-as quando os resultados não agradam) para considerar o sistema como democrático.

A situação na Turquia é disso um claro exemplo, agora que «Erdogan declara guerra aos signatários de uma petição pela paz».


Desde a subida ao poder do AKP (Adalet ve Kalkınma Partisi ou Partido da Justiça e Desenvolvimento) em 2002, que na sociedade turca se têm acumulado os sinais de islamização e de autoritarismo, factos que não têm impedido o contínuo apoio de EUA e UE.

Não bastando a forma como o ex-primeiro-ministro e actual presidente, Recep Tayyip Erdogan, alcançou o poder, em 2003, através duma eleição intercalar e depois duma alteração legislativa que desagravou uma sentença judicial que em 1999 o condenou por incitamento à violência e ao ódio religioso, eis que desde então se têm acumulado as evidências de práticas cada vez menos democráticas e que agora culminam com estas detenções por mero delito de opinião.

O que agora enfureceu Erdogan e o seu AKP foi apenas um documento onde um conjunto de personalidades, turcas e estrangeiras, apelam ao fim das acções militares turcas contra o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e o regresso às negociações iniciadas em 2012. Este episódio insere-se no realinhamento do regime turco com as posições norte-americanas de combate ao ISIS e que se traduziu num conjunto de acções militares, anunciadas contra aquele grupo islamita radical mas que no essencial têm consistido em bombardeamentos sobre as forças curdas que combatem o ISIS na Síria.

Esta duplicidade turca, traduzida em declarações oficias contra o ISIS e os seus associados da Frente al-Nusra enquanto mantém no terreno do conflito colaboração com os mesmos e aproveita a intrincada relação de forças para reduzir o poder do PKK turco, só não é evidente à luz dos especiais interesses de Washington e Bruxelas, cujos governos fazem vista grossa até a esta despudorada actuação de Erdogan e dos seus correlegionários.

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