Embora já
tenha decorrido mais dum lustro desde o despoletar crise do “subprime” os seus efeitos sobre as
populações teimam em perdurar; seja por inépcia ou porque essa é a estratégia
que pretendem seguir, os vários governos das diferentes grandes economias pouco
ou nada fizeram no sentido de corrigir os gritantes desmandos que conduziram a
generalidade daquelas economias ao estado em que se encontram.
Seja nos EUA,
no Japão ou nos principais países da UE continua por realizar um esforço sério
para a implementação duma regulamentação eficaz do sector financeiro – seja na
indispensável separação entre as actividades comercial e de investimento seja
na revisão das regras de funcionamento dos “offshores”
– enquanto se assiste ao fracasso de quase todas as tentativas de revitalização
das economias por via das políticas de injecção de liquidez que inevitavelmente
se esboroam nas insaciáveis necessidades dos bancos.
Enquanto isto,
seja por opção seja por real escassez de financiamentos os sectores produtores
de bens transaccionáveis definham agravando o problema do desemprego. Desde que
há algumas décadas, fruto da generalização das teorias monetaristas que defendem
o principio do “trickle down economics”,
se deu início ao processo de concentração de riqueza por via da redução dos
rendimentos das famílias em benefício dos rendimentos do capital, no
pressuposto que aquela concentração geraria mais investimento e mais empregos,
que a situação das populações se tem agravado, a ponto de se afirmar já que
estará «Metade da riqueza mundial nas mãos de 1 por cento da
população».
Além da
constatação prática do fracasso da teoria do “trickle down economics”, verifica-se ainda que crise iniciada em
2008 nos EUA e o seu prolongamento na Zona Euro através do empolamento que as
dívidas públicas sofreram para resgatar o sistema financeiro foi usado para
justificar a aplicação de políticas de austeridade através das quais «“Está
a criar-se uma nova geração de pobres”», sem que se reduza o endividamento
ou se estimule a economia.
No caso específico de Portugal e quando em Maio próximo se cumprirem 4
anos desde a assinatura do PAEF (Programa de Assistência Económica e
Financeira) teremos passado dum volume de dívida da ordem dos 94% do PIB para
um nível onde a «Dívida pública representava 129,4% no PIB no 2.º
trimestre» de 2014, pelo que dificilmente se poderá afirmar que
a finalidade do resgate era a redução da dívida…
mas em
contrapartida já é garantida a situação que colocou «Um em cada
cinco portugueses em risco de pobreza» e pior ainda quando o EUROSTAT
divulgou que o número de agregados familiares com pessoas
desempregadas «Um
indicador de pobreza duplicou em 2013 em Portugal».
Assim, a afirmação de que «"Ter emprego não é uma vacina contra
a pobreza"» traduz afinal o facto das políticas implementadas estarem
a contribuir para um processo de empobrecimento generalizado, mesmo que Passos
Coelho afirme que «Dados
do INE sobre risco de pobreza "não reflectem situação actual"».
Se isto não for julgado suficiente para justificar a necessidade de mudança nas
políticas junte-se o facto, cada vez mais reconhecido, do desenvolvimento
tecnológico estar a reduzir a quantidade de mão-de-obra necessária. Numa época
em que a par com a sobrevalorização da produtividade (indicador que conjuga os
factores capital e trabalho) se assiste a uma constante redução de postos de
trabalho, fácil se torna antever que de futuro não existirá procura suficiente
para a oferta natural de mão-de-obra, o que reforça a conclusão da
indispensabilidade de um novo paradigma laboral, que se não for entendido pelos
poderes estabelecidos acabará, inevitavelmente, por ser imposto pelos milhões
de excluídos.
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