Directa ou
indirectamente a Europa está a debater-se com um conjunto de problemas de
solução variável, que atingem três dos seus principais pilares: a Paz, a
Prosperidade e a Liberdade. Desde o reacendimento da “crise grega” com a
ascensão em Atenas dum governo pouco disposto a submeter-se ao “diktat” ordoliberal, à reactivação dum
conflito na Ucrânia que uma postura europeia mais pragmática e mais consentânea
com a História poderia der desactivado, até à famigerada questão do “terrorismo
islâmico”, tudo parece abater-se sobre uma Bruxelas há muito dominada por uma
eurocracia desajustada do tempo e da realidade.
A transição
duma Europa do diálogo e da concertação para uma outra onde pontifica o
interesse das principais economias, que não coincidindo com a passagem de Durão
Barroso pela presidência da Comissão teve nesse período a sua maior expressão,
não está apenas a desgastar o conceito da UE, mas principalmente a perspectiva
que dela têm os seus cidadãos. Coincidindo com a generalização do modelo da
globalização juntaram-se três grandes eventos – a fragmentação soviética e a
queda do Muro de Berlim, que levaram inclusive ao anúncio do “Fim da História”,
a eclosão do fenómeno do terrorismo islâmico e as invasões do Afeganistão e do
Iraque, e a Crise Global despoletada em 2008 pela crise norte-americana do “subprime” – que moldaram uma nova
realidade. Enquanto o primeiro pareceu cimentar o papel hegemónico dos EUA , o
segundo abalou essa mesma convicção e revelou-o como um gigante com pés de barro
(possuidor do maior e mais equipado exército mundial mas desprovido dos meios
financeiros para o utilizar adequadamente) que a Crise Global veio confirmar
com a ascensão do Império do Meio (China) como grande candidato à hegemonia.
Neste contexto
de fragilização dos EUA e com a existência de claros sinais de recuperação da
economia russa (a herdeira física da ex-URSS), não é de espantar o interesse
norte-americano por todo e qualquer acontecimento que possa comprometer essa
mesma recuperação. Assim, se as guerras nos Balcãs que na última década do
século passado selaram a fragmentação da Jugoslávia (vendo digladiarem-se
sérvios, bósnios, croatas e kosovares) e culminou com a formação de novos
estados, incluindo um extraordinário Kosovo, serviram para o redesenho do mapa
duma das regiões mais instáveis da Europa, o actual conflito na Ucrânia está a
ser usado como via para isolar e conter a crescente influência de Moscovo nas
antigas repúblicas que controlou, acontecendo agora com a Ucrânia algo de
parecido com o que aconteceu em 2008 quando na Geórgia uma tentativa de
secessão das províncias da Ossétia do Sul e da Abkházia chegou
a ser apresentada como prenúncio duma nova Guerra Fria (ver o “post” «VOLTOU
A GUERRA FRIA?»).
A situação da
Ucrânia não deriva apenas do desejo de aproximação dos seus naturais à UE,
antes da intenção ocidental de alargar a influência da NATO (ver os “posts”
«DIVIDIDOS», «A UCRÂNIA
E A UE» e «KIEV
JÁ ESTÁ A ARDER») a um território que Moscovo sempre
anunciou como indispensável à sua segurança (nomeadamente quando a «Rússia
adverte Ucrânia contra adesão à NATO») e em parte do
qual (a península da Crimeia) se localiza a única base naval russa operacional
durante todo o ano. Com uma população de origem russa na ordem dos 18 a 20%,
maioritariamente instalada nas regiões mais industrializadas e uma conturbada
vida política que acabaria por culminar com a substituição em 2014 dum
presidente pró-russo, Viktor Yanukovych, por outro pró-ocidental, o industrial
Petro Poroshenko; perante este cenário a Rússia fomentou um referendo e a anexação
da península da Crimeia a que se querem juntar as regiões de Donetsk (a segunda
cidade depois da capital, Kiev) e Luhansk, abrindo as hostilidades entre os
nacionalistas ucranianos e os separatistas russos, com o habitual e inevitável
rol de mortos e feridos.
Após os primeiros confrontos,
acompanhados do anúncio que os «EUA
querem que NATO ajude a Ucrânia», foi alcançado um acordo, em
Setembro de 2014, onde «Ucranianos,
russos e separatistas assinam paz»; uma paz que o Inverno, as constantes
provocações de parte a parte e a manutenção de interesses antagónicos levaram à
reactivação do confronto e ao regresso do calvário das populações apanhadas
entre os beligerantes.
(continua
em PILARES parte II)
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