segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PILARES (parte I)

Directa ou indirectamente a Europa está a debater-se com um conjunto de problemas de solução variável, que atingem três dos seus principais pilares: a Paz, a Prosperidade e a Liberdade. Desde o reacendimento da “crise grega” com a ascensão em Atenas dum governo pouco disposto a submeter-se ao “diktat” ordoliberal, à reactivação dum conflito na Ucrânia que uma postura europeia mais pragmática e mais consentânea com a História poderia der desactivado, até à famigerada questão do “terrorismo islâmico”, tudo parece abater-se sobre uma Bruxelas há muito dominada por uma eurocracia desajustada do tempo e da realidade.

A transição duma Europa do diálogo e da concertação para uma outra onde pontifica o interesse das principais economias, que não coincidindo com a passagem de Durão Barroso pela presidência da Comissão teve nesse período a sua maior expressão, não está apenas a desgastar o conceito da UE, mas principalmente a perspectiva que dela têm os seus cidadãos. Coincidindo com a generalização do modelo da globalização juntaram-se três grandes eventos – a fragmentação soviética e a queda do Muro de Berlim, que levaram inclusive ao anúncio do “Fim da História”, a eclosão do fenómeno do terrorismo islâmico e as invasões do Afeganistão e do Iraque, e a Crise Global despoletada em 2008 pela crise norte-americana do “subprime” – que moldaram uma nova realidade. Enquanto o primeiro pareceu cimentar o papel hegemónico dos EUA , o segundo abalou essa mesma convicção e revelou-o como um gigante com pés de barro (possuidor do maior e mais equipado exército mundial mas desprovido dos meios financeiros para o utilizar adequadamente) que a Crise Global veio confirmar com a ascensão do Império do Meio (China) como grande candidato à hegemonia.

Neste contexto de fragilização dos EUA e com a existência de claros sinais de recuperação da economia russa (a herdeira física da ex-URSS), não é de espantar o interesse norte-americano por todo e qualquer acontecimento que possa comprometer essa mesma recuperação. Assim, se as guerras nos Balcãs que na última década do século passado selaram a fragmentação da Jugoslávia (vendo digladiarem-se sérvios, bósnios, croatas e kosovares) e culminou com a formação de novos estados, incluindo um extraordinário Kosovo, serviram para o redesenho do mapa duma das regiões mais instáveis da Europa, o actual conflito na Ucrânia está a ser usado como via para isolar e conter a crescente influência de Moscovo nas antigas repúblicas que controlou, acontecendo agora com a Ucrânia algo de parecido com o que aconteceu em 2008 quando na Geórgia uma tentativa de secessão das províncias da Ossétia do Sul e da Abkházia chegou a ser apresentada como prenúncio duma nova Guerra Fria (ver o “post” «VOLTOU A GUERRA FRIA?»).

A situação da Ucrânia não deriva apenas do desejo de aproximação dos seus naturais à UE, antes da intenção ocidental de alargar a influência da NATO (ver os “posts” «DIVIDIDOS», «A UCRÂNIA E A UE» e «KIEV JÁ ESTÁ A ARDER») a um território que Moscovo sempre anunciou como indispensável à sua segurança (nomeadamente quando a «Rússia adverte Ucrânia contra adesão à NATO») e em parte do qual (a península da Crimeia) se localiza a única base naval russa operacional durante todo o ano. Com uma população de origem russa na ordem dos 18 a 20%, maioritariamente instalada nas regiões mais industrializadas e uma conturbada vida política que acabaria por culminar com a substituição em 2014 dum presidente pró-russo, Viktor Yanukovych, por outro pró-ocidental, o industrial Petro Poroshenko; perante este cenário a Rússia fomentou um referendo e a anexação da península da Crimeia a que se querem juntar as regiões de Donetsk (a segunda cidade depois da capital, Kiev) e Luhansk, abrindo as hostilidades entre os nacionalistas ucranianos e os separatistas russos, com o habitual e inevitável rol de mortos e feridos.


Após os primeiros confrontos, acompanhados do anúncio que os «EUA querem que NATO ajude a Ucrânia», foi alcançado um acordo, em Setembro de 2014, onde «Ucranianos, russos e separatistas assinam paz»; uma paz que o Inverno, as constantes provocações de parte a parte e a manutenção de interesses antagónicos levaram à reactivação do confronto e ao regresso do calvário das populações apanhadas entre os beligerantes.


(continua em PILARES parte II)

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