De quando em
vez qualquer um sucumbe ao espírito da época e embora esta expressão seja
comummente aplicada ao período natalício (aquele que a tradição cristã carregou
de maior sentimentalismo), desta vez aplico-o ao período carnavalesco que se
inicia. A gravidade de situações como as que se vivem na Ucrânia ou na Grécia e
que se reflectem mais que directamente por toda a Europa, deveria ser
suficiente para dispensar justificações para a sua abordagem, tanto mais que
como escreveu há dias José Ribeiro e Castro no PUBLICO,
vemos «A
União Europeia à beira do abismo» quando os seus principais pilares – a
paz, a prosperidade e a liberdade – são directamente ameaçados.
Sucede porém
que o quase “fait divers” que deveria
ter sido a publicação duma carta aberta onde um conjunto de «Personalidades
apelam a Passos para rever posição sobre a Grécia» acabou convertido em
algo bem mais substantivo e merecedor de atenção.
Em defesa da
iniciativa, um dos subscritores, «João
Cravinho diz que problema da dívida grega é de toda a União Europeia» e foi
ainda um pouco mais longe quando disse que o documento «“É
um apelo ao bom senso” do primeiro-ministro», abrindo a dimensão cómica de
apelar a quem não tem revelado outra capacidade além duma fixação dogmática.
Isso mesmo
ficou demonstrado na resposta do exortado quando, confundindo solidariedade com
o “negócio” da dívida pública, afirmou que a «Carta
aberta é um "equívoco” porque Portugal é dos mais solidários com Grécia»,
confirmando, se preciso fosse, que se o senso é claramente uma das capacidades
de que tem revelado profundas carências, o bom senso é algo que só deverá
alguma vez ter revelado em privado.
Pior
ainda foi sugerir que a «carta
aberta "parte de um equívoco"», quando a existir semelhante
suspeição terá que ser aplicada primeiramente à situação que conduziu o
declarante à função que ocupa, pois as posições que tem assumido em público (como
seja a de rejeitar discutir
a renegociação da dívida, onde se manifestou contra uma conferência
europeia para renegociar dívidas , quando, jactantemente, afirmou que o
perdão da dívida grega não é possível “em nenhum sistema do mundo” ou ainda
quando assegurou, para quem lhe dá ouvidos, que as ideias
do Syriza são "conto de crianças") além de revelarem um
provincianismo e um servilismo abjecto constituem uma clara negação da defesa
do interesse nacional.
O sentimento
de indignação já começa a transparecer na própria comunicação social, a ponto
do editorial de hoje do PUBLICO questionar
abertamente «E
que tal Passos Coelho reconhecer que se enganou?». E tudo isto antes do
Carnaval!
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