quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

CONFISSÕES

Houvessem resquícios de probidade e um mínimo de dignidade entre as elites políticas europeias e a afirmação do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude «Juncker sobre a troika: "Pecámos contra a dignidade" de Portugal e Grécia», qual “tsunami” teria varrido gabinetes políticos que nem folhas mortas.

A enormidade da afirmação – confissão clara do exagero prático da política da “austeridade expansionista” – ganha especiais contornos quando o seu autor foi o anterior líder do Eurogrupo (o núcleo de decisão do modelo de resgate imposto a gregos, irlandeses e portugueses, mas suavizado nos casos de Espanha e Itália) e o ex-primeiro-ministro dum estado, o Luxemburgo, que fomentou políticas de “dumping” fiscal e que, como qualquer um dos seus pares, não hesita em dizer o que for conveniente e conjunturalmente necessário para se sustentar ou auto-promover. Por isso reservo-me de ressaltar, como Pedro Santos Guerreiro, «A dignidade de Juncker», preferindo esperar para ver os desenvolvimentos.

Ao contrário, aqueles tolos mantêm o topete de continuar a pulular por aí como se nada se passasse. É claro que o declarante, caso não se tenha apercebido ainda, é parte integrante daquela mesma chusma de emproados, invariavelmente rodeados de apaniguados e bajuladores, que tem conduzido os povos da Europa (e em especial os do Sul) num rumo desgraçadamente desaustinado.

Só uma mal disfarçada inépcia justifica que, na actual conjuntura da Zona Euro e à beira duma crise que pode significar a sua implosão, algum dirigente europeu possa assumir uma abordagem isolacionista e afirmar, como o fez Passos Coelho, que «“Portugal é dos países que mais tem ajudado o povo grego”», (prontamente secundado pelo cada vez mais irrelevante presidente da República quando, apesar de informação em contrário assegurando que «Afinal, Portugal não foi o país da zona euro que mais ajudou a Grécia», até o “reputado técnico” «Cavaco replica Passos e diz que Portugal é o país que mais dinheiro deu à Grécia») ou uma desavergonhada convicção, como a que revela o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, ao afirmar que «Portugal e Irlanda são "a melhor prova" de que os programas funcionam»… esquecendo de completar o raciocínio e assumir que isso é verdade do ponto de vista dos credores.

Não é apenas o facto de quererem fazer tábua rasa dos factos – redução do PIB, aumento do desemprego e da emigração, crescimento dos níveis de pobreza, etc. – que a realidade demonstra, é a imagem do desfasamento dessa realidade que representam, ao propalarem mentiras habilmente tecidas com meias verdades, enquanto se comprazem com auto-elogios na torre de marfim em que vivem. Assim vão tentando manter o resto dos cidadãos num estado que oscila entre a ignorância ou o alheamento, na expectativa de lhes voltarem a “caçar” o voto na primeira oportunidade…


…e para desdita nossa, têm-no conseguido!

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