Houvessem
resquícios de probidade e um mínimo de dignidade entre as elites políticas
europeias e a afirmação do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude «Juncker
sobre a troika: "Pecámos contra a dignidade" de Portugal e Grécia», qual “tsunami” teria varrido gabinetes políticos
que nem folhas mortas.
A enormidade da afirmação – confissão clara do exagero
prático da política da “austeridade expansionista” – ganha especiais contornos
quando o seu autor foi o anterior líder do Eurogrupo (o núcleo de decisão do
modelo de resgate imposto a gregos, irlandeses e portugueses, mas suavizado nos
casos de Espanha e Itália) e o ex-primeiro-ministro dum estado, o Luxemburgo,
que fomentou políticas de “dumping”
fiscal e que, como qualquer um dos seus pares, não hesita em dizer o que for
conveniente e conjunturalmente necessário para se sustentar ou auto-promover.
Por isso reservo-me de ressaltar, como Pedro Santos Guerreiro, «A dignidade de
Juncker», preferindo esperar para ver os desenvolvimentos.
Ao contrário, aqueles tolos mantêm o topete de continuar a
pulular por aí como se nada se passasse. É claro que o declarante, caso não se
tenha apercebido ainda, é parte integrante daquela mesma chusma de emproados,
invariavelmente rodeados de apaniguados e bajuladores, que tem conduzido os povos
da Europa (e em especial os do Sul) num rumo desgraçadamente desaustinado.
Só uma mal disfarçada inépcia justifica que, na actual
conjuntura da Zona Euro e à beira duma crise que pode significar a sua implosão,
algum dirigente europeu possa assumir uma abordagem isolacionista e afirmar,
como o fez Passos Coelho, que «“Portugal
é dos países que mais tem ajudado o povo grego”», (prontamente secundado
pelo cada vez
mais irrelevante presidente da República quando, apesar de informação em
contrário assegurando que «Afinal,
Portugal não foi o país da zona euro que mais ajudou a Grécia», até o “reputado
técnico” «Cavaco
replica Passos e diz que Portugal é o país que mais dinheiro deu à Grécia») ou uma desavergonhada
convicção, como a que revela o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble,
ao afirmar que «Portugal
e Irlanda são "a melhor prova" de que os programas funcionam»… esquecendo de
completar o raciocínio e assumir que isso é verdade do ponto de vista dos
credores.
Não é apenas o
facto de quererem fazer tábua rasa dos factos – redução do PIB, aumento do
desemprego e da emigração, crescimento dos níveis de pobreza, etc. – que a
realidade demonstra, é a imagem do desfasamento dessa realidade que
representam, ao propalarem mentiras habilmente tecidas com meias verdades,
enquanto se comprazem com auto-elogios na torre de marfim em que vivem. Assim
vão tentando manter o resto dos cidadãos num estado que oscila entre a
ignorância ou o alheamento, na expectativa de lhes voltarem a “caçar” o voto na
primeira oportunidade…
…e para
desdita nossa, têm-no conseguido!
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