Não sendo
normal que a realidade ultrapasse a ficção, começa a parecer banal
chegarem-nos, das bandas das germânias, comentários sobre a Grécia dum
ultrajante cabotinismo; depois de em 2010 termos ouvido um responsável alemão
(Franch Schäffler, membro da comissão parlamentar de finanças) recomendar
aos gregos que vendessem as suas ilhas para liquidar dívidas, eis que, em
vésperas de mais uma reunião do Eurogrupo para debater uma solução para a crise
grega, é o próprio ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble que afirma
aos microfones duma estação de rádio que: «"Sinto
muito pelos gregos. Elegeram um governo que se comporta de forma
irresponsável"».
Esta declaração
não pode ser encarada como um deslize, nem deve se analisada enquanto um
disparate, pois traduzia por antecipação o
fracasso da reunião do Eurogrupo que hoje teve lugar. Ela é, na forma e na
essência, uma clara transcrição da linha de pensamento que tem orientado a UE
nesta última década. O digníssimo Schäuble, do alto dum prestigiado ministério
ao qual foi alcandorado pelo sapientíssimo voto do povo alemão, julga-se
competente e autoridade suprema para catalogar os seus homólogos gregos e na
sua infinitíssima condescendência apelida-os, quais débeis mentais, de
irresponsáveis.
Pelos vistos,
para Schäuble e a sua camarilha (onde pontifica o inefável Passos Coelho),
sinal de responsabilidade seria aumentar ainda mais o esbulho dos cidadãos
gregos (e dos restantes países de calaceiros) em benefício dos bancos (alemães
e franceses entre os principais), mesmo sabendo-se da impossibilidade
da Grécia pagar as suas dívidas, e esperar que estes votassem nos subservientes
apaniguados locais.
O busílis,
para Schäuble e o conjunto dos fanáticos ordoliberais, é que a
irresponsabilidade demonstrada pelos eleitores gregos continua a revelar-se de
difícil resolução num sistema que persiste na maçada (e no perigo) de repetir
um acto irresponsável como o de votar.
Sem comentários:
Enviar um comentário