Depois do
atentado contra o jornal satírico francês CHARLIE HEBDO, que custou a
vida uma dezena dos seus principais colaboradores e a dois agentes de segurança,
as páginas dos jornais encheram-se com uma simbólica frase de apoio: “Je suis
Charlie”.
Dizermos-nos
“Charlie” significará, depois das mortes de figuras como o seu director Charb (Stéphane Charbonnier),
Cabu (Jean Cabut) um dos maiores cartoonistas franceses, Georges Wolinski (também
autor de banda desenhada e uma das figuras popularizadas pelo Maio de 68 nas
páginas da revista Action), Tignous (Bernard
Verlhac), Honoré (Philippe Honoré) e Bernard Maris (Oncle Bernard) que
partilhamos a necessidade de reafirmar os valores fundamentais da liberdade de
pensamento e de expressão, valores que certas correntes fanáticas não conseguem
entender.
Sob a mira de
organizações extremistas islâmicas desde 2006, quando em solidariedade com o
jornal dinamarquês “Jyllands-Posten”
publicou um conjunto de caricaturas de Maomé, alvo dum atentado à bomba em 2011
e agora decapitado nas suas principais figuras resta esperar que o “Charlie”
sobreviva e renasça mais forte e mais convicto. A sanha de que agora foi alvo
só pode traduzir-se num reforço que, a crer na “leitura” do caricaturista
holandês Joep Bertrams, acontecerá seguramente…
Além da grave
dimensão de desrespeito pela vida humana, a aparente frieza com que o atentado
foi executado remete a sua análise para uma outra dimensão: a dos grupos radicais
islâmicos e anti-islâmicos a quem só interessa o uso da força pela força. Para
estes a melhor resposta é precisamente a sátira iconoclasta – que nunca poupou
católicos, protestantes, muçulmanos, judeus, políticos e demais figuras
públicas – praticada nas páginas do CHARLIE HEBDO.
Por isso,
julgo bem mais adequado substituir a afirmação “Je suis Charlie” por algo mais
empenhado e resiliente, como “Je serai toujours Charlie”, porque o humor
verrinoso e cáustico continuará a ser a melhor forma de denunciar e combater um
mundo que se quer submetido a ideias feitas e raramente adequadas ao interesse
geral.
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